Porco Rosso: um feitiço que pouco importa.
Imagine a história de um aviador caçador de recompensas na Itália nos anos 1930 que já teve seus amores e muita história para contar. Inclua alguns serviços heroicos em sua rotina e um rival sempre disposto a competir. Acrescente também uma menina que se torna fã deste aviador, ao ponto de quase terem um romance proibido. Agora imagina que este aviador com ares de conquistador sofre de uma maldição que o fez ganhar a aparência de um porco. Porco Rosso (1992) é o oitavo filme de Hayao Miyazaki, que aqui envereda pelo tom de aventura entre guerras apresentando um herói bastante incomum. O que mais impressiona no filme é que apesar de seus elementos fantásticos não se trata de um comédia, mas de um legítimo filme de aventura com cenas aéreas de tirar o fôlego de tão bem elaboradas. O filme ainda tem a curiosidade de ser falado em japonês, com um protagonista americano vivendo na Itália! O que dá à história um tom de não se passar num local real definido, mas num mundo paralelo mesmo. Hayao desenvolve seu protagonista cheio de climas e toques de filme noir (as roupas, as trilhas, alguns diálogos) e o mais engraçado é que o filme não se preocupa em explicar como o aviador Marco virou Porco por conta de um feitiço, fazendo parecer que foi só um toque para deixar a história mais original e com um curioso clima de romance fabuloso no ar - especialmente quando aparece a amiga Gina na história. Com cenas de batalhas aéreas e o colorido sempre caprichado dos Estudios Ghibli, o filme se tornou um dos mais cultuados de seu diretor (mesmo que alguns aspectos sobre o personagem merecessem maior desenvolvimento). Eu Posso Ouvir o Oceano (1993) já segue outra linha, calcado em dramas adolescentes, o filme deixa os elementos fantásticos de lado para falar sobre relacionamentos com a família, amizades e interesses amorosos. Ambientado em uma escola da pequena cidade litorânea de Koichi, a trama conta a história de dois amigos que se apaixonam pela estudante recém chegada, Rikako. Aos poucos Taku e Yutaka se aproximam da garota e não deixam de perceber que ela carrega um pouco de tristeza em seu comportamento. Conforme a trama avança, a menina se aproxima mais de Taku, mas as inseguranças e segredos acabam tornando o relacionamento entre os dois um tanto complicado.
Eu Posso Ouvir o Oceano: romance adolescente.
O roteiro aqui capricha na ambiguidade dos personagens que são bastante complexos e difíceis de classificar, mesmo porque parecem sempre estar escondendo o que sentem. A trama segue de forma simples e um tanto melancólica, com cenários urbanos caprichados e alguns ângulos que nos fazem até esquecer que estamos diante de uma animação. Baseado no mangá de mesmo nome de Saeko Himuro, o diretor Tomomi Mochizuki (que trabalha com animes para a televisão desde o início dos anos 1980) cria um longa realista, enxuto e com certo sabor de nostalgia. Produzido para a TV japonesa, o filme mantem o padrão de qualidade do estúdio, com uma paleta de cores que oscila entre cores frias e quentes, compondo um cenário urbano nas cores das emoções de seus personagens. Outro filme com selo Ghibli que vale a pena conferir na Netflix é As Memórias de Marnie (2014), filme premiadíssimo e que foi indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2015. O longa conta uma história com toques espirituais baseada no livro de Joan G. Robinson. Aqui conhecemos Anna, uma garota de doze anos que ainda tenta se adaptar ao fato de ser adotada. Com problemas para fazer amigos e demonstrar suas emoções, ela acaba sendo enviada para visitar parentes de sua nova mãe no interior. Ela acaba conhecendo Marnie, uma menina que mora num casarão afastado e misterioso. O laço de amizade entre as duas se torna cada vez mais forte, no entanto, desde o início notamos que existe algo muito particular em sua nova amiga. Se já existe um segredo (que a plateia desconfia o que seja desde o início e que se descobre aos poucos), quando o filme chega ao seu desfecho existe outro muito maior que faz toda a diferença e torna o filme ainda mais comovente. Belo e sensível em sua execução, chega a ser redundante falar que a beleza da animação é complementada com suas paisagens caprichadas em cores litorâneas. Dirigido pela dupla James Simone e Hiromasa Yonebyashi (diretor de O Mundo dos Pequeninos/2010) o filme se tornou um sucesso mundial e levou muita gente às lágrimas. Imperdível.
As Memórias de Marnie: beleza indicada ao Oscar.
Porco Rosso (Korenai no Buta / Japão - 1992) de Hayao Miyazaki com vozes de Shûichirô Moriyama, Tokiko Katô e Bunshi Katsura Vi ☻☻☻
Eu Posso Ouvir o Oceano (Umi Ga Kokiery / Japão - 1993) de Tomomi Mochizuki com vozes de Nobuo Tobita, Toshihiko Seki e Yoko Sakamoto. ☻☻☻
As Memórias de Marnie (Omoide No Mânî / Japão - 2014) de James Simone e Hiromasa Yonebyashi com vozes de Sara Takatsuki, Kasumi Arimura e Nanako Matsushima. ☻☻☻☻
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