Kevin e Olga: eficiente drama familiar em formato de suspense.
Lançado por aqui com o título pouco inspirador de A Sala (The Room - produtores gringos atenção! Deve ter uns cinco filmes com este nome) é um filme de suspense que surpreende pelas boas ideias dramáticas que apresenta. A trama é sobre um casal, Matt (o belga Kevin Janssens) e Kate (a ucraniana Olga Kurylenko) acabam de comprar um casarão que ficou abandonado por muitos anos e tem muita coisa para organizar. Ambos trabalham em casa, ele é pintor e ela é tradutora, o que explica escolherem um local afastado para viver. Eis que um belo dia os dois descobrem um cômodo diferente na casa, que parece um quarto do pânico do início do século passado, mas que tem a capacidade inexplicável de realizar os desejos de quem está nele. No início o casal pede dinheiro, bebida, joias, brincam com fantasias e imaginam que a vida será bem mais fácil dali em diante. No entanto, neste mundo de perfeição, Matt e Kate não conseguem ter filhos. Já tiveram duas experiências frustrantes e não demora para que Kate peça um filho para o quarto. A ideia rompe com os paradigmas que o esposo tinha com aquele lugar. Ele fica assustado e desde o início, pensa que o ideal seria fazer o menino desaparecer da mesma forma como ele foi apareceu. A partir deste ponto inicia um interessante conflito no casal, para ela o bebê é seu filho desde o primeiro momento que foi acolhido, para ele é uma ficção, uma fraude, uma fantasia da mente traumatizada de sua esposa. A partir daí sempre que o filme enveredar para o drama familiar dos três personagens ele cresce, comove e deixa o espectador imerso numa mistura de compaixão e medo (afinal, desde o início sabemos que algo dará errado). Aos poucos a trama revela alguns segredos que irá complicar bastante a vida da família e esgarçar ainda mais as dificuldades de relacionamento de Matt com a criança, ainda que por várias vezes, colabore com a esposa em medidas para protegê-lo e por outras não hesita em ser cruel com o pequeno. Existe alguns conflitos bastante freudianos na história, a ideia do lar como um lugar seguro, toda justificativa para o zelo excessivo da mãe, a ideia de crescer se distanciando dos pais... quando o filme investe no suspense destas relações ele funciona muito bem, principalmente com a boa atuação de Olga Kurylenko (atriz subestimada que eu adoro) na pele de uma mãe cada vez mais consciente do que o destino reserva para o filho. O filme poderia ser perfeito se o diretor Christian Volckman não tomasse um desvio "surpreendente" em seus minutos finais, que muda o tom do filme e deixa de lado o que ele tinha de mais sutil e interessante: o drama familiar em tom fantástico. O que era tão interessante se torna confuso em nome de uma ação que ninguém pediu e a personalidade do filho se perde nas artimanhas de um roteiro que teve seu desfecho alterado no limite do ridículo. Confesso que fiquei confuso na hora de colocar a cotação do filme, mas pelo seu tempo de duração e pelas emoções que o filme desperta, acho que ele ainda merece atenção, já que depois de se enrolar na própria corda, o filme volta ao desfecho que deveria estar previsto desde o início do projeto - que ainda é de partir o coração. Volckman (que antes dirigiu apenas uma animação (o estiloso Renaissance/2006) assina a ideia original do roteiro, mas divide os créditos com outras quatro pessoas na construção do texto. Talvez, se houvesse executado a tarefa sozinho, ou com alguém que tivesse compreendido melhor a história que gostaria de contar, The Room poderia ser uma obra-prima do gênero.
A Sala (The Room / França - Bélgica / 2019) de Christian Volckman com Olga Kurylenko, Kevin Janssens, Joshua Wilson, John Flanders, Francis Chapman e Vince Drews. ☻☻☻☻
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