Hiroshi Abe e Tayio: histórias do cotidiano.
Depois da Tempestade é um daqueles filmes que faz sucesso junto a um público restrito. É lançado em poucos cinemas e acaba sendo conhecido mais por indicação de um amigo do que por campanhas de marketing. Dirigido por Hirozaku Koreeda (do premiadíssimo Assunto de Família/2018 que em breve comentarei por aqui) o filme é um daqueles exercícios em que o cinema tenta criar um recorte realista da vida de seus personagens comuns. Este recorte tem como marco a chegada de mais um tufão no Japão enquanto somos apresentados à uma família simples. Uma mãe (Kirin Kiki), mora sozinha com o filho, Shinoda (Hiroshi Abe) após a morte do marido. Ela também tem uma filha que aparece de vez em quando (e ajuda a construir o tom leve do filme nos minutos iniciais) e juntas sempre comentam que o rapaz não passa por uma boa fase na vida. Ele tentou ser escritor, mas seu primeiro livro não fez o sucesso esperado e agora ganha a vida como detetive particular. Ele também tenta ter mais contato com o filho, além de reconquistar a ex-esposa (especialmente quando observa que ela está iniciando um novo relacionamento). Aos poucos o filme desenvolve esta história simples, com diálogos espirituosos que nunca o deixam ficar pesado ou cair no melodrama. Existe uma leveza e um carinho na forma como o diretor conta a história destes personagens e revela aos poucos o passado que carregam. O relacionamento da matriarca com o falecido, os motivos do casamento de Shinoda ter terminado, os ressentimentos entre os personagens.... o filme de desenvolve tornando aqueles personagens pessoas palpáveis de carne e osso, com seus dramas pessoais e insatisfações com uma bem dosada poesia presente em diálogos e imagens. Basta olhar a quantidade de objetos presentes naquela casa para notar as várias histórias que ela tem para contar! O filme erra somente quando exibe demais o protagonista em seu local de trabalho, que não acrescenta muita coisa ao filme, mas tudo é compensado quando o tufão chega e os personagens tem a chance de ter aquelas conversas sérias que pareciam ser constantemente adiadas. Sem grandes saltos narrativos ou trama mirabolante, Depois da Tempestade poderia ser uma obra sobre nossos vizinhos, nossos parentes ou aquele amigo que perdemos contato com o tempo. Este tom universal de sua história é o que faz a diferença e o torna comovente em sua simplicidade (ao ponto de se dar ao luxo de usar somente assobios como trilha sonora na maior parte do tempo).
Depois da Tempestade (Umi yori mo mada fukaku / Japão - 2016) de Hirozaku Koreeda com Hiroshi Abe, Kirin Kiki, Taiyô Yoshizawa, Yoko Maki, Satomi Kobayahi e Lyly Franky. ☻☻☻☻
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