Adjani e Polanski: a paranoia como companhia.
Embora sua genialidade hoje seja vista soterrada por sua vida pessoal, Roman Polanski é um dos diretores mais interessantes que temos em atividade, sobretudo se levarmos em consideração os seus clássicos absolutos. Entre suas obras fundamentais, existe uma espécie de trilogia urbana que trabalha com temas muito próximos na construção de suas atmosferas de suspense. Estou falando de Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary (1968) e O Inquilino (1976). Os três envolvem personagens que tem relacionamentos complicados com quem está por perto, com os apartamentos em que vivem e estão sempre a um passo da loucura (e quando se dão conta já é tarde demais). Se no primeiro existia a sexualidade reprimida de Catherine Deneuve, no segundo havia a fragilidade perante os temores da maternidade de Mia Farrow, aqui existe a solidão de um bom sujeito que começa a ser assombrado pela história de Simone, antiga inquilina do apartamento que decide alugar. Trelkovski (o próprio Polanski) é um sujeito inofensivo. Trabalha em um escritório, não parece muito a vontade com os amigos e começa a desenvolver um interesse mórbido pela antiga moradora, que ninguém sabe explicar ao certo os motivos dela se atirar pela janela. Disposto a entender o que foi que aconteceu, Trekolvski irá mergulhar em uma série de acontecimentos estranhos. Neste processo, os outros moradores do prédio tem papel fundamental. Sempre desconfiados e opressivos, eles infernizam a vida um do outro com picuinhas, abaixo assinados, reclamações e deixam o protagonista cada vez mais tenso (e Polanski capricha na escalação destes moradores taciturnos). Esta tensão não ajuda em nada seu romance com a descolada Stella (Isabelle Adjani), que não por acaso era amiga da antiga inquilina - e sempre que a vida de Trekolvski tropeçar em possibilidades de vida mais tranquilas, ele irá optará pelo desvio mais esquisito. Acreditando absorver cada mais a personalidade de Sinone, Trekolvski caminhará por um caminho sem volta. Polanski conduz o filme com sua habilidade habitual para o suspense e conta consigo mesmo para criar um personagem que é fácil sentir piedade, especialmente pela capacidade do diretor de atuar sempre no equilíbrio entre o cômico e a tragédia. Clássico do suspense, O Inquilino consegue ser bastante desconfortável em alguns momentos e ainda tem aquela cena final que deixa um nó na cabeça do espectador que se vê tão perplexo quanto o personagem principal.
O Inquilino (Le Locataire / França - EUA /1976) de Roman Polanski com Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvyn Douglas, Jo Van Fleet, Lila Kedrova e Claude Dauphin. ☻☻☻☻
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