Horowitz e Sierra: sci-fi intimista.
Dia desses eu li tantas análises positivas de um filme que à noite eu não pude deixar de conferir o motivo de tanta animação. O objeto de tantos elogios é The Vast of Night, ou A Vastidão da Noite como está sendo chamado pelo Prime Video. Lançado sem muito alarde (é impressionante como a Amazon investe pouco na divulgação de suas produções) e ganhou notoriedade ao receber cotação 93 no Rotten Tomatoes, um feito e tanto para um filme realizado com orçamento tão modesto. O longa conta a história passada em uma noite no Novo México, onde um evento esportivo da cidade manterá todos atentos. No entanto, um radialista, Everett (Jack Horowitz) e sua amiga telefonista, Fay (Sierra McCormick) terão que executar seus trabalhos como se fosse mais uma noite comum. O filme começa com longos diálogos e uma câmera que parece sempre à espreita. Tão logo Fay começa seus serviços ela escuta um ruído estranho em uma linha telefônica, uma espécie de interferência que se repete e que, aos poucos ela acredita afetar as ligações daquela noite. Quando uma moradora diz ver algo voando perto de sua casa a situação começa a ganhar contornos estranhos e ela conta com Everett para lhe ajudar a entender o que está acontecendo. A partir daí o roteiro irá colher depoimentos de pessoas que acreditam que naquela noite discos voadores estão visitando a cidade. O roteiro é praticamente isso. No entanto, o diretor estreante Andrew Patterson utiliza esta premissa simples para demonstrar como é capaz de contar uma história de forma envolvente. Utiliza longos planos, enquadramentos interessantes, movimentos de câmera incomuns e muita atenção ao olhar dos atores para chegar ao desfecho arrepiante. A dupla principal dá o sangue para você simpatizar com os personagens, o que é fundamental para o impacto do desfecho. Tanto esmero demonstra que um orçamento com restrições não impede que se construa uma narrativa envolvente que foge dos clichês do gênero (acredito que o rapaz poupou bastante o dinheiro para investir na cena com efeitos especiais que ficou realmente boa). Criado como uma ficção científica intimista, o diretor não esconde que traz como referência o seriado Além da Imaginação (o que serve muito bem ao tom e à ambientação nos anos 1950), existe também uma referência clara ao dia em que Orson Welles assombrou cidades ao apresentar Guerra dos Mundos, some isso à paranoia que reinava com a Guerra Fria e a tensão se faz como mágica. Como cresci nos anos 1990, ao terminar o filme ele me pareceu aqueles epílogos que apareciam na abertura de alguns episódio de Arquivo X pela qual você assistia aos desdobramentos ao longo do episódio. Neste aspecto, A Vastidão da Noite deixa os desdobramentos para a criatividade do espectador, entre elas, talvez, a melhor de todas seja: o que o diretor Andrew Patterson é capaz de fazer quando tiver um orçamento milionário nas mãos? Para o cineasta esta é a melhor pergunta da produção.
A Vastidão da Noite (The Vast of Night / EUA - 2020) de Andrew Patterson com Jack Horowitz, Sierra McCormick, Gail Cronauer, Bruce Davis e Mark Banik. ☻☻☻
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