A coreógrafa: deliciosas provocações.
Hoje é aniversário de Cate Blanchett e para homenagear esta grande atriz nascida em Melbourne na Austrália, pensei que era uma boa ideia escrever sobre Manifesto, sua aclamada parceria com o videoartista alemão Julian Rosefeldt, projeto em que a atriz encarnou treze personagens distintos em um trabalho que foi exibido em instalações pelo mundo em que se indagava o papel da arte no século XX. Julian teve a ideia após ler diversos manifestos de artistas de diversas origens e ideologias. Assim, futuristas, supremacistas, comunistas, arquitetos, dançarinos, minimalistas, surrealistas, comunistas e situacionistas ganharam a voz de Cate Blancett em cenários por vezes inusitados. Foram produzidos treze vídeos calcados em textos de André Breton, Sol Lewitt, Jim Jarmush, Alexander Rodchenko, Claes Oldenburg, Lucio Fontana, Dziga Vertov, Wassily Kandinsky, Vicente Huidobro, Francis Picabia, Adrian Piper, Werner Herzog e Lars Von Trier que foram exibidos ao mesmo tempo no ano de 2015, dois anos depois, Rosefeldt resolveu montar uma síntese em formato de filme que foi exibido com sucesso em festivais. O resultado é um filme experimental que (como todos) pode causar grande estanhamento na plateia, mas que prende a atenção por conta da intensidade que Blanchett imprime em seus vários papeis. Colabora muito para o fascínio que a atriz provoca o fato dela ter encarnado todos os personagens em apenas onze dias (exprimidos em sua agenda sempre ocupada). Rosefeldt não poupou elogios para a estrela, que trocou de personagens como quem troca de roupa. Assim, Cate dá personalidade aos monólogos de um sem-teto, uma jornalista, uma operadora de reciclagem, uma viúva, uma coreógrafa (que parece conduzir um clipe da Lady Gaga), uma jornalista, uma professora (que corrige a lição de seus alunos sobre os mandamentos do Dogma 95)... personagens que soltam provocações como "toda forma de arte é uma farsa" ou "arte requer verdade, não sinceridade". Por vezes a junção de discurso e cenário torna-se genial como a do enterro ou da mãe que faz uma oração sobre o tipo de arte que deseja, provocando risos e tédio nos filhos pequenos. Embora não tenha começo, meio e fim, é interessante como o filme costura os discursos que por vezes se encaixam, por outras se repelem, concordam e contradizem num contexto vasto sobre o século passado. Neste contexto, o interessante é como a subjetividade se impõe nos discursos, sobretudo na construção da busca de uma identidade artística. No fim das contas, Manifesto é um mosaico bastante coerente que transcende as concepções de arte, mas abrange a forma como ela reflete diversos campos da sociedade e suas políticas, ideologias, crises e símbolos. Por vezes o filme diverte, em outras incomoda d ironiza, mas em momento algum deixa de fazer o espectador pensar.
Cate: versatilidade à toda prova.
Manifesto (Alemanha/2017) de Julian Rosefeldt com Cate Blanchett, Ruby Bustamante e Ea-Ja Kim. ☻☻☻☻
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