Duncan Joiner: menino prodígio em série memorável.
Em 2014 o sueco Simon Stålenhag lançou um livro chamado Contos do Loop que mexeu com a imaginação de muita gente ao misturar paisagens bucólicas com aparatos tecnológicos. O livro não tinha texto escrito, apenas paisagem com robôs gigantes, esferas metálicas ou máquinas misteriosas. As ilustrações com estética retro-futurista (ou seria apenas pós-moderna?) se tornaram bastante populares, se tornando protetores de tela, jogos de RPG e este seriado da Amazon Prime Video que investe numa ficção científica bastante original que imagina como seria a vida de uma cidadezinha aparentemente tranquila que precisa lidar com os misteriosos experimentos científicos de uma empresa que eles apelidaram de Loop. Por conta desta instalação que ninguém sabe ao certo como funciona (mas que muitos da cidade trabalham por lá), os personagens terão que lidar com viagens no tempo, trocas de personalidade, dimensões paralelas, robôs, alterações no eixo espaço-temporal.... no entanto, o mais curioso é que estes elementos não estão no centro da narrativa e aparecem como detalhes que revelam cada vez mais sobre os personagens. Apesar de ser composto de oito episódios, cada um dedicado a um dos seus personagens, Contos do Loop costura todos eles com um fio condutor em torno de uma família, no caso, do principal administrador da empresa, Russ (Jonathan Pryce). As tramas se expandem para seu filho (Paul Schneider), sua nora (Rebecca Hall), seus netos e pessoas que gravitam em torno deles. Os detalhes de ficção científica surgem então como uma espécie de tempero para os dilemas daqueles personagens sobre amizade, insegurança, amor, família, morte, envelhecimento... obtendo um resultado bastante coeso e impressionante. Com excelente trilha sonora, fotografia caprichada e efeitos especiais que primam pelo realismo a série rapidamente foi comparada com outras séries das quais seu criador, Nathaniel Halpern quer distanciamento, tanto que em entrevistas deixou claro que seu programa seria um anti-Black Mirror. Ao invés de inspirar o medo e a raiva, Contos do Loop prefere um caminho oposto que aborda sentimentos mais sutis e também complicados. Muita gente estranha o tom lento da série, criticam que alguns episódios são arrastados e tal...mas quem foi que tudo precisa ser repleto de ação e correria? O tom mais contemplativo cai como uma luva para as tendências existencialistas do roteiro e aumentam o suspense que emerge das histórias calcadas nos personagens - e vale ressaltar que todo o elenco está impecável, especialmente no último episódio dirigido por Jodie Foster! O capítulo é de rasgar o coração e deixa aquela angústia de final de temporada que fecha redondinha, mas que você anseia por outra. Contos do Loop ainda se beneficia muito do que deixa nas entrelinhas sobre aquele universo cheio de possibilidades. Ao não localizar suas histórias em um tempo específico, deixa a sensação de que se passa num tempo incerto, uma outra dimensão talvez, com imenso potencial para muitas outras temporadas. Até o momento foi a série mais interessante que assisti a este ano (e cai como uma luva para quem não aguenta mais de ansiedade para a terceira e última temporada da alemã DARK na Netflix).
Contos do Loop (Tales From the Loop / EUA -2020) de Nathanile Halpern com Rebecca Hall, Jonathan Pryce, Daniel Zolghadri, Paul Schneider, Ato Essandoh, Duncan Joiner, Jane Alexander e Tyler Barnhardt. ☻☻☻☻☻
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