Ruffalo e Ruffalo: irmãos com problemas.
A minissérie I Kow This Much is True da HBO chegou ao final de seus seis episódios neste domingo e provou mais uma vez que o diretor Derek Cianfrance adora um drama familiar. Mas ele não curte um draminha trivial não, ele curte sobrepor dores, sofrimentos e segredos familiares de forma que beiram o excesso. Assim ele constrói não apenas a dramaticidade de seus personagens como sugere também um suspense, um tom que parece construir uma tragédia gradativa até o final (que pode trazer alguma redenção, ou não). O programa é baseado no livro de Wally Lamb que conta a história de dois irmãos gêmeos, um deles com quadro severo de esquizofrenia e o outro responsável por ele. Mark Ruffalo não apenas topou o desafio de viver os irmãos com personalidades distintas como também produziu a minissérie e o resultado deve ser lembrado nas premiações de fim de ano. Na pele de Dominick ele é o homem que tinha um futuro promissor que acaba soterrado nos dramas de sua família. Ao longo da vida recebeu a tarefa de zelar pelo bem estar do irmão, Thomas, que se tornou cada vez mais confuso, tão confuso que é capaz de se auto-mutilar em um local público porque a Bíblia mandou. O episódio gera uma internação com consequências que perduram até o final da história, mas até lá conhecemos um pouco da história de ambos, situações da infância, da adolescência, da vida na faculdade, a relação com a mãe (Melissa Leo) que nunca lhes contou nada sobre o pai e o padrasto (John Procaccino), que sempre esteve por perto. Não bastasse as pendengas de sua família de origem, Dominick também tem histórias complicadas sobre seu casamento com Dessa (Kathryn Hann) que deixaram sua vida ainda mais desamparada. Some isso ao relacionamento problemático com uma jovem namorada (Imogen Poots) e a autobiografia do seu avô italiano (Marcello Fonte de Dogman/2018) que você verá os ingredientes para Cianfrance construir um verdadeiro inferno na vida de seu protagonista. Este inferno é embalado em uma fotografia azulada que não deseja embelezar nada que aparece diante da câmera (que às vezes parece estar escondida nos cenários). Com a expressão de quem carrega o mundo nas costas, Dominick encontra algum alento nos encontros com a assistente social Lisa Sheffer (Rosie O'Donnell em um excelente desempenho) e na Doutora Patel (Archie Panjabi), que percebem o quanto aquele homem está cansado prestes a explodir. Assim como Ruffalo, todo o elenco tem desempenhos fundamentais para a história não perder o tom e cair no exagero. As atuações são contidas, melancólicas (tirando a de Juliette Lewis numa participação especial memorável). O mais interessante é que por baixo de todo o drama, a história apresenta uma verdadeira cruzada em busca do autoconhecimento - que constitui a catarse do protagonista. Cianfrance demonstra aqui mais uma vez sua assinatura que ficou conhecida em seu segundo longa, o ótimo Blue Valentine/2010 (lançado no Brasil com o enganoso título de Namorados Para Sempre), depois causou estranhamento pelo denso O Lugar onde tudo Termina (2012), por este último falaram tanto que ele filma "feio" (?!) que ele se aproximou do cinema mais clássico (especialmente pelo trato com as imagens e locações) com A Luz Entre os Oceanos (2016). Com I Know This Much is True, Cianfrance diz que ele prefere fazer as coisas do seu jeito e muita gente gosta.
I Know This Much is True (EUA-2020) de Derek Cianfrance com Mark Ruffalo, Melissa Leo, Kathryn Hahn, Archie Panjabi, Rosie O'Donnell, Imogen Poots, Bruce Greenwood e Juliette Lewis. ☻☻☻☻
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