Driver: bom trabalho em um filme esquecido.
Com as práticas adotadas pelo governo após o atentado de onze de setembro, Daniel J. Jones (Adam Driver) é escolhido pela senadora Dianne Feinstein (Annette Bening) para realizar um levantamento sobre as ações da CIA nos interrogatórios de prisioneiros suspeitos de envolvimento com grupos extremistas considerados perigosos pelo governo dos EUA. A investigação realizada por Daniel tem início em 2007 e com a ajuda de outros comissionados, ele realiza levantamentos de documentos que indicam que aconteceram ações de abuso de autoridade e até mesmo tortura praticados pela agência em suas investigações. Ao longo dos anos, os parceiros começam a desconfiar que será muito difícil um documento tão explosivo ser divulgado. A própria senadora se vê em uma situação bastante delicada com as revelações que aos poucos chegam até ela e, diante das atrocidades encontradas por Daniel, o próprio emocional do rapaz se altera. Terminado o monstruoso documento (em termos de registro e número de páginas) uma série de tramites e questões burocráticas começam a servir de obstáculo para a divulgação do mesmo. Este é o segundo filme dirigido por Scott Z. Burns (o primeiro foi A Vida de Timofey Berezin/2006) e ele costuma trabalhar mais como produtor e roteirista (ele assina o roteiro de O Ultimato Bourne/2007 e do famigerado Contágio/2011) e desde o início se percebe seu apreço pelos diálogos numa narrativa que pretende construir uma tensão crescente diante de uma história real. Sua intenção é construir uma espécie de Todos os Homens do Presidente (1975) trocando jornalistas investigativos por pessoas ligadas ao governo do Tio Sam, nesta tarefa ele conta com o empenho de Adam Driver e... pouco mais do que isso. Talvez a inexperiência de Burns não colabore para que o filme alcance a intensidade que ele tanto almeja. É verdade que ele recria cenas de tortura angustiantes e recria um verdadeiro labirinto burocrático para que a verdade não seja divulgada, mas falta ao longa o tom de tensão crescente até o desfecho. Existem tantas reviravoltas, complicações, segredos, que o filme soa truncado e palavroso na sucessão de desgostos e dissabores que já imaginamos como irá terminar. Outro fator que também não colabora muito para o suspense da história é que nada nas atrocidades que aparecem são novidades. Em tempos de tão vasto acesso à informação fica difícil encontrar alguma novidades ao tema e criar um filme que possa ser surpreendente em seu cunho de "filme denúncia", gênero que chega bastante desgastado ao século XXI. Talvez por conta disso, a Amazon teve pudores em investir na alardeada campanha para o Oscar que o filme receberia. Lançado timidamente em meados de novembro (entre os pesos pesados da temporada) o filme passou em branco nas premiações.
O Relatório (The Report / EUA - 2019) de Scott Z. Burns com Adam Driver, Annette Bening, Corey Stoll, John Hamn, Maura Tierney, Michael C. Hall e Ted Levine. ☻☻☻
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