Jennifer e Gina: casal inesquecível.
Antes de realizar a trilogia Matrix (1999-2003), as irmãs cineastas Wachowski eram completamente desconhecidos do grande público. Ainda identificadas como Andy e Larry, tinham planos ambiciosos que só poderiam ser bancados por um grande estúdio. Porém, a ausência de experiência fez com que tivessem que mostrar serviço com um filme de estreia. O provocador Ligadas pelo Desejo é o meu filme favorito da dupla (pois é, não sou muito fã de Matrix que em breve terá seu quarto filme) principalmente por demonstrar maturidade e segurança incomuns para cineastas estreantes. Além disso, ousou colocar o protagonismo em duas mulheres que se apaixonam e subvertem a ordem das coisas ao enfrentarem um bando de mafiosos sanguinários. Tudo começa quando Corky (Gina Gershon) se torna responsável por reformar um apartamento. Ela conhece Violet (Jennifer Tilly) no elevador e apenas os olhares já servem para deixar claro que entre as duas soltam faíscas. Violet é casada com Cesar (Joe Pantoliano), homem envolvido com a máfia mas que não consegue satisfazer sua esposa. O roteiro deixa claro que Violet está um pouco assustada com as situações que presencia em casa e está ansiosa para se livrar do marido desequilibrado e seus amigos mal encarados. Ela não demora muito para se envolver com Corky e se tornam cúmplices no roubo de alguns milhões de dólares que, acidentalmente, foram parar nas mãos de Cesar. Para o plano funcionar, dependerá do poder de manipulação de Violet e um bocado de coragem das duas. Ligadas pelo Desejo cria cenas de grande sensualidade com base em duas atrizes que (infelizmente) nunca receberam a atenção que mereciam em Hollywood. Jennifer Tilly ficou muito conhecida por sua dublagem de A Noiva de Chucky (1998), que lhe rendeu fãs fieis e que sempre cobram o retorno à franquia. Pouca gente lembra, mas Jennifer foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por seu trabalho em Tiros na Broadway (1994) - o qual perdeu para sua colega de elenco, Dianne Wiest. A indicaçãos serviu para calar a voz dos críticos que consideravam sua voz insuportável. Aqui ela deixa sua voz aguda mais rouca e sexy para completar uma caracterização que remete às divas femme fatales de clássicos noir. Já Gina Gershon se tornou a grande sobrevivente daquela tosqueira chamada Showgirls (1996), ela fez filmes com diretores importantes como John Woo (A Outra Face/1997) e Paul Auster (O Mistério de Lulu/1998) e continua trabalhando bastante, embora esteja livre do rótulo de símbolo sexual de lábios bastante peculiares. A química impressionante entre as duas compõe a alma do filme que capricha na construção de ângulos e atmosfera noir, tem bom ritmo, violência e uma direção de arte que prioriza o uso de branco, preto e detalhes em vermelho. O resultado é um suspense envolvente, bem construído e que em 1996 colocou a cara da dupla Wachowski à tapa. Aos poucos o filme foi se tornando bastante revelador, já que as cineastas revelaram a transexualidade e produziram um dos programas mais cultuados pela comunidade LGBTQI+, o Sense 8 da Netflix. Ainda que muitos lembrem de Lili e Lana Wachowski por seus filmes cheios de efeitos especiais, elas também tem uma pauta de trabalho bastante vinculada à diversidade, o que rende seus trabalhos mais ousados e interessantes.
Ligadas Pelo Desejo (Bound / EUA - 1996) de Lili e Lana Wachowski com Jennifer Tilly, Gina Gershon, Joe Pantoliano, Christopher Meloni e John P. Ryan. ☻☻☻☻
Ligadas Pelo Desejo (Bound / EUA - 1996) de Lili e Lana Wachowski com Jennifer Tilly, Gina Gershon, Joe Pantoliano, Christopher Meloni e John P. Ryan. ☻☻☻☻
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