terça-feira, 21 de setembro de 2021

PL►Y: Kelly + Victor

Julian Morris: tensão sexual sadomasoquista.  

Eu tinha uma espécie de dívida pessoal com Kelly+Victor. Lembro quando o diretor Kieran Evans foi contemplado com o prêmio de Melhor Estreante Britânico no BAFTA de 2012 e o filme ganhou alguma visibilidade no circuito alternativo por conta disso. O filme ainda foi eleito como um dos melhores filmes irlandeses daquele ano e foi indicado ao prêmio da audiência no Festival South by Southwest. Devido ao conteúdo pouco palatável do filme, o longa teve problemas de distribuição por aqui, mas o encontrei perdido no catálogo da GloboPlay ano passado e confesso que não o assisti até o final. Agora me deparei com ele no Prime Video e resolvi cumprir a tarefa por completo. Kelly + Victor é uma história de amor, só que... um cadinho complicada, afinal, o que começa como a velha história do boy meets girl revela ingredientes mais sombrios do  que costumamos ver por aí. Quando Victor (o bom Julian Morris) conhece Kelly (Antonia Campbell-Hughes caprichando na estranheza) e desfrutam de sua primeira noite de sexo, nada é muito convencional, já que Kelly curte uma pegada mais, digamos, agressiva... entre mordidas e simulações de enforcamento, os dois selam ali o início de um relacionamento que evolui aos tropeços. Se Victor é bondoso e segue a rotina de um rapaz comum sem muito o que fazer, Kelly atende homens que curtem levar chicotadas - e aos poucos o roteiro deixa claro que ela sobreviveu a um relacionamento abusivo (que levou o agressor para a prisão por dois anos). Calada e introspectiva, torna-se visível as marcas psicológicas deste relacionamento na vida daquela mulher, no entanto, este teor hardcore de seu temperamento sexual se encaixa com a curiosidade masoquista do comportado Victor, que mesmo após uma cena arrepiante protagonizada no meio do filme, ainda sente que Kelly o complementa de alguma forma. O filme se sustenta bem quando o casal está na tela, mas fica difícil dizer que a cadência do filme é envolvente com as várias cenas que parecem improvisadas e soltas (deixando que o espectador preencha as lacunas sobre aqueles dois personagens). Este jeito cru de fazer cinema pode ser interessante, mas por vezes deixa a sensação que apenas disfarça um roteiro pouco lapidado. Existem tantos aspectos do filme que poderiam ser aprofundados (mas que ficam pelo meio do caminho) que ao chegar na triste cena final, eu só imaginava que era  um desfecho inevitável para aquela relação repleta de fantasmas do passado assombrando o que poderia ser um romance promissor de dois jovens perdidos em suas rotinas solitárias. O filme é baseado no livro de Niall Grifiths e se tornou a primeira experiência do diretor Kieran Evans fora do formato documental, o que explica muito da forma como utiliza sua câmera e conduz sua narrativa ao longo da sessão. 

Kelly + Victor (Irlanda/Reino Unido - 2012) de Kieran Evans com Antonia Campbell-Hughes, Julian Morris, William Ruane, Claire Keelan, Stephen Walters e Michael Ryan.  

Um comentário:

  1. Ótima resenha! Acabei de assistir e estou com uma sensação mais estranha do que a estranha Kelly.

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