Plummer, Arthur e Oliver: ricos personagens.
Não faz muito tempo que Christopher Plummer foi indicado a vários prêmios por sua atuação em "A Última Estação" e ao que tudo indica o feito pode se repetir neste ano (e com fortes chances de ganhar alguns) por conta de sua comovente atuação neste Toda Forma de Amor, pelo qual está concorrendo ao Globo de Ouro de ator coadjuvante. Embora Mike Mills venda seu filme como comédia, trata-se de um drama bem humorado que merece ser visto nem que seja em DVD. Acho que o filme ainda tem chances de aparecer no Oscar de roteiro original, não que seja perfeito, mas a forma que Mills conta a sua história faz toda a diferença. O roteiro engenhoso mistura três tempos da vida do designer gráfico Oliver Fields (Ewan McGregor em um ótimo momento), sua infância principalmente ao lado da mãe (a desconhecida e excelente Mary Page Keller, veterana da TV), o martírio que atravessou crescido com o pai vítima de câncer (Plummer) e o presente onde estabelece um romance promissor com Anna (Mélanie Laurent). Mills estabelece mais do que uma linha temporal fragmentada, mas linhas narrativas onde o tempo e o espaço são perceptíveis a partir de cada elemento em cena - o que não deixa a trama confusa, ao contrário, impregna cada cena de significados a medida que a narrativa segue rumo ao fim. Claro que não basta pegar a vida de um personagem e embaralhar os momentos aleatoriamente, Mills sabe disso e reforça o crescimento emocional do personagem com alguns toques adicionais. Primeiro é o fato do pai vítima de câncer ter assumido a homossexualidade após a morte da esposa que lhe acompanhou por 44 anos, este personagem vivido por Christopher Plummer, em ótima forma e sem frescuras, faz toda a diferença (a frescura parece ter ficado a cargo do galã Goran Visnjic que não compromete o todo). Plummer faz do personagem um sujeito de carne e osso que não desistiu de encontrar a cara metade, mesmo após ter vivido vários anos num casamento convencional. Isto é o que mais intriga o seu filho, que após vários relacionamentos sempre consegue escapar deles a medida que se tornam mais sérios. Este também parece ser o problema de... e quando os dois decidem viver juntos as coisas acabam não saindo como o esperado. Mills tem o bom senso de não forçar as situações, deixando que tudo aconteça naturalmente entre a melancólica narrativa em off de seu protagonista alter-ego (pois é, o filme tem traços autobiográficos) e não parece ridículo nem quando ilustra o pensamento do simpático cãozinho Arthur com o uso de legendas. Mesmo com alguns toques que poderiam fazer parecer uma comédia maluca, o filme se beneficia de possuir um grupo de personagens interessantes disfarçados de pessoas comuns. Mais engenhoso do que a abordagem humanista sobre os preconceitos que um progenitor homossexual poderia gerar, Mills parece estar mais interessado na forma como a passagem do tempo e de relacionamentos influencia na construção do personagem (daí a utilização de três tempos distintos, da mania de Oliver utilizar referências cronológicas - seja em pixações em locais públicos ou utilizando imagens para contextualizar épocas diferentes). Este interesse isso é muito bem ilustrado no desenho da pedra chamada passado esmagando um rapaz chamado presente. Buscando sempre o equilíbrio entre o drama familiar e a comédia de costumes, o filme de Mills mostra o quanto ele amadureceu enquanto cineasta desde o seu primeiro filme - ou pelo menos, que sabe que atrás de um sorriso pode haver um bocado de tristeza. Se esta não é sua obra-prima (o ritmo ainda tem aquela cadência perigosa e alguns personagens poderiam ser mais desenvolvidos) ela está bem próxima de chegar - afinal, ser capaz de arrancar uma atuação inesquecível do veterano Plummer merece todo o reconhecimento.
Toda Forma de Amor (Beginners/EUA-2011) de Mike Mills com Ewan McGregor, Christopher Plummer, Mélanie Laurent, Goran Visnjic, Mary Page Keller e Keegan Boos. ☻☻☻☻
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