Leo (Eden Dambrine) e Remy (Gustav de Waele) são melhores amigos há tempos. Estão acostumados a brincar na casa um do outro e, na maioria das vezes, Leo costuma dormir na casa de Remy. Os dois estão prestes a estudar em uma nova escola e tanta proximidade começa a gerar comentários sobre a sexualidade de ambos, mais especificamente sobre Leo. É inútil que ele explique que os dois são apenas amigos, as piadinhas e comentários prosseguem, até que Leo resolve se reinventar e se distanciar do melhor amigo. Esse processo doloroso é vivenciado pelos dois meninos com a mesma sutileza com que o diretor Lukas Dhont trabalha todo o filme. Tudo é amparado por palavras não ditas, olhares e silêncios que estão cheios de sentimentos conflitantes (e por isso mesmo, muita gente não vai gostar por imaginar o filme "paradão", como se o interior dos personagens não movimentasse o tempo inteiro). No entanto, em meio a rotina aparentemente simples dos personagens existe um acontecimento que rompe brutalmente a realidade dos amigos. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no Oscar desse ano (e ganhador do Grande Prêmio do júri em Cannes2022), Close surpreendeu o anúncio devido a leitura divisiva (e polêmica) que alguns espectadores podem fazer de sua trama. Ironicamente, o melhor da produção nasce daí, já que são as suas diversas camadas que possibilitam várias leituras sobre a relação entre os amigos. O espectador pode criar suas próprias ponderações sobre Remy e Leo e imaginar o que motiva suas ações no filme, sem apontar se sua opinião está certa ou errada ao final. O fato concreto é que o filme conta uma história sobre a afetividade entre dois meninos que estão na passagem da infância para a idade adulta e o impacto da forma como a sociedade observa as demonstrações de carinho entre duas pessoas do sexo masculino. É preciso destacar o ótimo trabalho do elenco durante todo o filme, especialmente do estreante Eden Dambrine com seus olhos expressivos e Émilie Dequenne, que interpreta a mãe de Remy. Além disso, Dhont consegue criar várias analogias sobre os sentimentos dos personagens, seja na primeira cena em que os amigos se escondem de inimigos, da corrida nos campos em que a família de Leo trabalha (ressaltados pela magnífica fotografia), o braço quebrado, a plantação marcando a passagem do tempo e a renovação, ou algo que se assemelha a isso enquanto Leo olha para a tela na última cena, que soa como um desafio ao espectador a imaginar o que se passa em sua cabeça. Este é o segundo filme do belga Lukas Dhont (o primeiro, Girl/2018, está em cartaz na Netflix faz tempo) e fico curioso de acompanhar seus próximos passos no cinema. Close já está em cartaz na Mubi e tem lugar garantido em listas de melhores do ano.
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