De vez em quando o cinema autoral se volta para ídolos do universo pornô. Foi assim com Dirk Digler e seus colegas no clássico Boogie Nights (1997) e recentemente no pesadão Pleasure (2022). Particularmente, acho que se não tivesse assistido este último eu teria achado mais graça de Red Rocket, último filme de Sean Baker. Já é público e notório que Baker gosta de desviar sua câmera para personagens periféricos a cenários que habitam nosso imaginário, foi assim ao filmar Los Angeles (com um iPhone) e focar em protagonistas trans em Tangerine (2015) ou em contar uma história terna com crianças que moram ao lado da Disney (mas que nunca teriam dinheiro para visitar o parque mais famoso do mundo) em Projeto Flórida (2017). Agora ele nos apresenta Mikey (Simon Rex), um astro pornô que caiu em decadência e acaba de voltar para casa, ou melhor, para a casa da ex-mulher, também ex-pornstar, Lexi (Bree Elrod). Como a grana anda curta, a mãe dela divide o teto com ela faz tempo. Mikey logo percebe que a vida não será fácil, como emprego anda difícil e ele é sempre cobrado a trazer algum dinheiro para casa, ele começa a se arriscar em atividades ilegais. A vida dele parece mudar mesmo quando conhece Strawberry (Suzanna Son), uma adolescente que trabalha em uma loja de donuts. Ele acredita que é capaz de convencê-la a fazer filmes eróticos com ele e, com isso, ter um retorno triunfal na indústria pornográfica. Com essa premissa, Red Rocket mistura drama e comédia, principalmente por conta do jeito atrapalhado de seu protagonista vivido com gosto por Simon Rex. Rex foi um ícone da MTV americana, se tornou bastante popular e viu sua carreira minguar quando seu passado em filmes adultos comprometeram seus projetos futuros. Na pele de Mikey se torna até fácil simpatizar com ele, apesar de todas as suas canalhices, suas trapaças recebem tom cômico, assim como suas discussões, cenas de sexo e nudez. Não por acaso sua carismática desenvoltura lhe rendeu o prêmio de melhorador no Independente Spirit do ano passado e uma torcida (que não deu em nada) para que recebesse uma indicação ao Oscar (difícil a Academia comprar uma ideia feito a sinopse do filme). Logicamente que Baker constrói a história pelo gosto de ver a cara de pau do protagonista ser quebrada várias vezes, mesmo que paire sobre a trama a sombra dele poder ganhar a vida às custas de uma adolescente. Talvez por isso o final tenha me parecido um tanto abrupto, deixando as intenções do diretor (sejam elas quais forem) no meio do caminho. Este olhar bem humorado e um tanto desleixado sobre a decadência de um "Macho Alfa" pode ser visto no TelecinePlay.
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