Manuela e Luigi: crescendo e aprendendo.
Bianca (Manuela Martelli) e Tomas (Luigi Ciardo) são dois irmãos que acabaram de ficar órfãos. Por estarem um tanto fora de órbita pelo ocorrido eles ainda não se deram conta do que isso quer dizer (e em determinado momento até repreendem o uso da palavra). Somente nas conversas com uma assistente social responsável, por acompanhá-los é que Bianca descobre que por ter dezoito anos se torna responsável por cuidar do irmão. Ela também não entende muito bem o que isso quer dizer, mas a ideia de se separarem se torna um outro golpe que não estão dispostos a sofrer. O que eles entendem é que precisam ir à escola e fazer as tarefas de casa, mas não demoram a deixar a casa uma bagunça pela total incapacidade de jogar o lixo no devido lugar ou lavar a louça. A ideia de receber uma pensão por conta do trabalho do pai também ajuda menos do que imagina, já que, depois de calcularem, descobrem que ao pagar as contas, o que sobra mal dá conta da alimentação (e haja doces e biscoitinhos para os dois). Crescer não é fácil e tornar-se um adulto é mais complicado ainda, por isso mesmo o italiano Il Futuro se torna um filme de rito de passagem ao acompanhar a jornada dos dois irmãos para perceber as armadilhas que aparecem pelo caminho da inércia cotidiana. Parte dessas armadilhas aparecem personificada por dois amigos que cruzam o caminho de Tomas, sem ter onde ficarem eles vão parar na casa dos órfãos e, se por um lado ajudam a manter a ordem na casa, ambos também sabem como aproveitar a vulnerabilidade dos irmãos. Não por acaso, desde a primeira menção aos amigos, o sexo se faz presente. Primeiro por conta de alguns canais bloqueados na TV, depois por conta de um golpe a ser orquestrado sobre um astro aposentado. É uma grata surpresas ver Hutger Hauer na pele do astro que optou se isolar depois dos golpes do destino. Conhecido como Maciste, ele terá proximidade cada vez mais íntima com Bianca, o que revelará camadas que nem ela conhecia (e soa um tanto irônico que ela cite Brad Pitt como um astro que ela gostaria que fosse seu pai e pouco depois cita que Brad poderia ser seu amante em uma conversa com um colega de trabalho). De certa forma, Maciste ocupa esses dois lugares na vida da garota a partir de determinado momento (Hauer não é o Brad, mas já teve seus dias de sex appeal e glória diante da câmera), mas também serve como a personificação do que o título anuncia perante o futuro incerto e a certeza da deterioração física com o passar da juventude (além da presença de uma riqueza que ninguém sabe identificar onde está). Hauer empresta uma dignidade surpreendente ao personagem e apresenta uma estranha química com a jovem Manuela Martelli que mostra bastante desinibida. O filme se esquiva das polêmicas na abordagem de um homem muito mais velho com uma adolescente de forma bastante sutil, optando por uma sexualidade sugestiva e até elegante, cortesia da diretora Alicia Scherson na transição de nossa percepção da passagem de Bianca enquanto adolescente para a mulher que será na vida adulta. Pena que o desfecho do filme, que busca ser poético, se torna um tanto abrupto e insatisfatório.
IL Futuro (Itália/ Chile / Alemanha / Espanha - 2013) de Alicia Scherson com Manuela Martelli, Rutger Hauer, Luigi Ciardo, Nicolas Vaporidis e Daniela Piperno. ☻☻☻
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