Figurando entre os atores europeus mais badalados da atualidade, o alemão Franz Rogowski já foi até citado como uma espécie de irmão mais novo do americano Joaquin Phoenix, os dois realmente possui uma semelhança física para além de uma cicatriz, mas também por conta do gosto por viver personagens diferentões. Eu conheci Rogoswki no excelente Great Freedom/2021 (que o colocou entre as melhores interpretações masculinas de 2022 aqui do blog), filme que está na Mubi assim como outros filmes estrelados por ele. Nos corredores (ou In The Aisles) é um desses e chama atenção principalmente pelo lugar que escolhe de ambientação para sua história: um supermercado. Rogowski vive Christian um jovem de poucas palavras (e muitas tatuagens) que é contratado para ser repositor do corredor de bebidas de um grande supermercado. Ele logo ganha a simpatia do funcionário mais antigo do setor, Bruno (Peter Kurth) que será responsável por lhe ensinar as tarefas do setor lhe dará dicas preciosas no manejo complicado da empilhadeira. Se aos poucos o colega de trabalho se torna uma espécie de figura paterna para Christian, aos poucos ele começa a se interessar por sua colega do corredor vizinho, a sensível Marion (Sandra Hüller que parece a prima alemã da Cate Blanchett) responsável pela sessão de doces. Logo os dois percebem que a recíproca é verdadeira e desenvolvem uma relação platônica com alguns complicadores que irão afetar a relação de ambos com o espaço de trabalho. O mais interessante é como perante a ambientação e os personagens que tem em mãos, o roteiro se torna cada vez mais gracioso, no entanto, o diretor Thomas Stuber opta por filma-lo sem enfeites, de forma lenta e um tanto seca, o que não impede de criar um universo interessante por si só perante aquele mundo particular. Ainda que gere reflexões variadas sobre a relação das pessoas com seu local de trabalho, Nos Corredores demonstra como aquele universo se torna uma espécie de mundo paralelo para os personagens. Existem alguns detalhes da vida fora do trabalho dos personagens que servem apenas para sugerir como naquele espaço eles vivem outras personas, demarcadas até por níveis de status e importância que aos poucos se demonstra cômoda e segura, sem esquecer do afeto construído entre os membros daquele grupo que, por vezes desequilibram a comodidade vivida antes. A ambientação em um supermercado funciona então como a ideia de organização daquele espaço, mas também em momentos em que os personagens subvertem algumas regras do local (incluindo as cenas sobre o que é descartado, com direito até a uma ceia de natal). A fotografia que ressalta os tons de amarelo destacam um certo elemento de fantasia na forma como a história é conduzida (e em dado momento imaginei como seria o filme em uma versão americana feita por Wes Anderson) e a última cena (tão terna e sutil) só reforça este fator. Delicioso em sua originalidade, Nos Corredores é uma grata surpresa.
Nos Corredores (In den Gängen/Alemanha - 2018) de Thomas Stuber com Franz Rogowski, Sandra Hüller, Peter Kurth, Andreas Leupold e Matthias Brenner. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário