Harry e Andrea: um casal e suas fantasias. |
Confesso que fiquei com pena da Andrea Riseborough no Oscar desse ano. Depois de toda polêmica por sua indicação por To Leslie ela preferiu ficar no canto, sem alardes e se reservando a aparecer no obrigatório momento de mencionar as indicadas ao Oscar de melhor atriz (e deu pulos de alegria ao ver Michelle Yeoh fazer história). O que era para ser um dos momentos mais felizes de sua carreira, ficou ofuscado por uma polêmica em torno dos seus colegas de trabalho que resolveram impulsionar a votação por seu trabalho em um filme de orçamento modesto e renda zero voltada para campanhas de marketing. Uma das atrizes mais interessantes em atividade atualmente merecia mais consideração. Desde que foi revelada para o mundo em W.E (2011) o famigerado segundo filme dirigido por Madonna, Andrea emendou um filme no outro, seja como protagonista, coadjuvante, participação especial, em cinema ou série de TV. A atriz se arrisca em diversos gêneros e estilos sendo reconhecida por ser um verdadeiro camaleão. Em cartaz na Mubi, Please Baby Please é uma dessas ousadias. Dirigido por Amanda Kramer, o filme tem um jeito tão despojado que parece mais uma peça de escola que por acaso foi filmada. A atmosfera onírica queer carregada pelos tons neon remetem ao clima das fantasias sexuais do casal principal. Suze (Andréa) e Arthur (Harry Melling) formam o casal que ao chegar em casa presencia uma gangue cometendo um crime. Se a esposa se mostra seduzida pela agressividade da gangue, o marido demonstra uma atração específica por um dos integrantes vestido em couro e transparências (cortesia de Karl Glusman, mais uma vez objetificado). Embora figurinos e penteados remetam aos anos 1950, o filme tem uma estética bastante anacrônica nos tipos que apresenta em sua hora e meia de duração, mas a história parece acontecer no passado, principalmente pela forma como o casal principal parece confuso com suas fantasias e identidades sexuais, sem saber muito bem como se classificarem (e será que hoje é mais fácil?). O fato que é que se a primeira impressão deixa a sensação de que os dois não combinam muito, cresce um verdadeiro abismo entre os dois no decorrer da sessão. Andrea e Melling começam a intensificar casa vez mais as diferenças entre os personagens, ela se torna mais exagerada e careteira, ele mais contido e revela suas intenções através de olhares e gestos, até que seus questionamentos em torno da sexualidade comecem a transbordar nos nos diálogos. No meio da encenação caótica proposta pela diretora, Melling ganha pontos em mais uma construção sensível em sua carreira, sendo aqui o primeiro trabalho em que apresenta um aura sexy (com pendores até então insuspeitos para dança e um beijo bastante provocador em seu colega de elenco). Não fosse pela curiosidade de vê-lo em um personagem tão diferente, provavelmente eu teria abandonado Please Baby Please no meio do caminho com suas muitas ideias, execução confusa e números musicais camp. É um filme que desperta curiosidade pelo elenco, mas um tanto perdido no que se propõe.
Please Baby Please (EUA-2022) de Amanda Kramer, Andrea Riseborough, Harry Melling, Karl Glusman, Jake Choi, Matt D'Elia, Ryan Simpkins, Jake Sidney Cohen , Karim Saleh e Demi Moore. ☻☻
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