Naomi (ao centro): o talento de salvar um filme.
Hollywood investe cada vez mais em biopics, afinal, existe a ideia de que pelo menos a bilheteria irá agregar os milhares de fãs em arrecadação robusta. Nem sempre a coisa funciona. Se ano passado, Elvis se tornou um sucesso indicado a oito Oscars, a dramatização da vida da cantora Whitney Houston não teve a mesma sorte. Escrito pelo mesmo roteirista do badalado Bohemian Rhapsody (2018), I Wanna Dance with Somebody fica pelo meio do caminho no que diz respeito a trazer novidades e agregar algum estilo à narrativa. Seu maior trunfo é a escalação de inglesa Naomi Ackie, que não parece muito com Whitney, mas consegue tornar a personagem palpável para a plateia. Todo mundo sabe que Whitney foi uma das vozes mais poderosas da história da música, rendendo milhões para a indústria, o que não evitou seu fim trágico. Após seu falecimento foram realizados vários documentários sobre sua história e esse filme parece uma colcha de retalhos sobre a artista. O longa dirigido por Kasi Lemmons costura momentos importantes da carreira da cantora e deixa outros de fora sem muita cerimônia (principalmente suas incursões no cinema, mas como o filme tem mais de duas horas fico imaginando se seria uma boa ideia colocar tudo por aqui). O longa arranja espaço para os hits da diva, mas também para falar sobre sua bissexualidade e envolvimento com as drogas. Sobre a bissexualidade o roteiro promete um bom desenvolvimento com ajuda da química de Naomi e Nafessa Williams (que vive a grande amiga Robyn) mas depois deixa a coisa de lado. Quanto às drogas o desenvolvimento é mais problemático e o roteiro não sabe muito bem para onde ir. Naomi Ackie (lembrada aqui no blog como atriz coadjuvante por seu trabalho em Lady Macbeth nos Melhores de 2017) consegue simular o tom de voz de Whitney nos diálogos (porque, obviamente nas cenas musicais, ela é dublada com um sincronismo impecável) e capturar muito dos gestos da artista no palco , mas carece de um material mais lapidado para compor uma personagem que dependa menos da lembrança que temos da artista e seu temperamento. Existem detalhes curiosos como a cena em que é acusada de ser "negra por fora e branca por dentro" devido à sua música ser pop e ao fundo vermos a foto de Michael Jackson em sua transição de pele, ou a forma como o empresário Clive Davis (Stanley Tucci) é mostrado como fiel escudeiro enquanto o Sr. Huston (Clarke Peters) ganha ares de vilão (e a dualidade que temos na percepção destes personagens reais não existe no filme), mas nada que disfarce que embora tenha uma excelente personagem em mãos defendida por uma atriz competente, o filme prefira seguir a cartilha tradicional das biopics afim de agradar todo mundo. O resultado é o sabor genérico que desperta a nostalgia do espectador, mas que não encontra fôlego para se tornar uma obra memorável.
I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Huston (I Wanna Dance With Somebody/ EUA - 2022) de Kasi Lemmons com Naomi Ackie, Stanley Tucci, Nafessa Williams, Clarke Peters, Tamara Tunie e Ashton Sanders. ☻☻
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