Sidsel e Morten (de frente) : não confie em estranhos
Vou começar dizendo que Speak no Evil do dinamarquês Christian Tafdrup se tornou fácil um dos filmes mais assustadores que já vi em toda minha vida. Sei que vai ter gente que dirá que não viu nada demais e que só no final que o filme assusta e tal... para esses eu só posso dizer que se não fosse todo o desenvolvimento do filme até o desfecho, provavelmente o final seria bem menos arrepiante. São pouco mais de hora e meia de projeção, mas tudo é desenvolvido com tanto detalhe que se torna uma verdadeira obra-prima do horror. Não do horror vinculado aos corpos que se empilham ao logo da história, mas um horror psicológico que vai crescendo e se torna devastador por tocar em questões que são universais. O filme gira em torno de dois casais que se conhecem de férias na Toscana, na Itália. Os dinamarqueses Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch) são pais da adorável Agnes (Liva Forsberg). Ele está sempre com um sorriso no rosto, ela é vegetariana e a pequena está sempre com o coelho de pelúcia por perto. Se os dinamarqueses são o polimento em forma de família, o casal neerlandês, Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders) é mais atirado e comunicativo, embora o pequeno Abel (Marius Damslev) seja bastante quieto e retraído. Conforme a afinidade cresce, surge o convite para os dinamarqueses passarem um fim de semana na casa dos novos conhecidos. Eles pensam por algum tempo, acham que seria deselegante recusar o convite e, conforme dizem a certa altura, "o que pode dar errado?". Tudo. Conformem vivem na mesma casa por alguns dias, as coisas começam a sair dos trilhos em várias situações de desconforto. De grosserias passando por mentiras e o tratamento dado ao pequeno Abel, os visitantes sentem cada vez mais de que existe algo de muito errado por ali. Quando o filme começa, pouco mais do que a trilha sonora denota que existe algo de ruim para acontecer. Conforme a trilha se torna menos densa, o espectador já está imerso naquele pesadelo. Outro detalhe é a fotografia que investe no contraste da coloração idílica nas belas paisagens com o tom sombrio em todas as outras locações, com destaque para o preto e o vermelho. Os quinze minutos finais de Speak no Evil são atordoantes. Me deram uma espécie de convulsão nervosa e depois, fiquei paralisado, esta reação acontece muito por conta de ver as consequências de tudo que foi mostrado até ali, mas também pela busca de uma lógica por trás das atitudes do casal neerlandês (a qual procuro até agora) e algo muito parecido com o que acontece a Bjørn dentro do carro. Quando a trilha se eleva novamente é para dar ao desfecho uma conotação quase religiosa e a noção de punição por seus pecados (que não são muito mais do que escolha de caminhos errados, correto?), afinal, como é dito em um diálogo entre os casais, tudo acontece pq Louise e Bjørn permitiram. Terminando quase num retorno ao seu início, você nunca sentirá tanto rancor de um coelho de pelúcia e ainda irá pensar mil vezes antes de aceitar convites de estranhos. O filme apareceu em várias listas de melhores filmes de terror do ano passado e foi indicado Critics Choice de melhor filme de terror e melhor ator (para Fedja van Huêt). Não por acaso, uma versão Hollywoodiana com James McAvoy já está sendo preparada, mas dificilmente terá o impacto do que vemos aqui. Para quem assistiu ao original, o impacto do desfecho do remake nunca será o mesmo.
Speak no Evil (Dinamarca - Países Baixos / 2022) de Christian Tafdrup com Morten Burian, Fedja van Huêt, Sidsel Siem Koch, Marius Damslev, Karina Smulders e Liva Forsberg. ☻☻☻☻
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