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Matt e Deragh: relacionamento do passado no presente. |
terça-feira, 29 de abril de 2025
PL►Y: Matt & Mara
domingo, 27 de abril de 2025
PL►Y: Arquipélago
Depois de dirigir curtas e programas de TV desde os anos 1990, Joanna Hogg estreou na direção com Sem Relação (2007), filme em que uma convidada em crise no casamento flerta com o filho da anfitriã e expõe as fissuras nas relações daquela família. Em seu filme seguinte, Arquipélago, a diretora revisita as fissuras de uma família, mas desta vez, as fissuras não ficam aparentes devido a interferência de alguém de fora, mas surgem de dentro para fora quando um dos membros ensaia uma despedida. O membro em questão é Edward (Tom Hiddleston que interpretava o filho sedutor do filme anterior da diretora), ele está prestes a embarcar para ser voluntário na África na orientação de adolescentes sobre suas vidas sexuais. Ele ficará fora por longos meses e, para realizar uma espécie de despedida, a mãe, Patrícia (Kate Fahy) resolve se reunir com o filho e a filha, Cynthia (Lydia Leonard) em uma antiga propriedade da família na Sicília. Durante os dias em que o trio passará à beira mar, eles terão a companhia da jovem cozinheira Rose (Amy Lloyd) e do professor de pintura Christopher (Christopher Baker), que ajudará mãe e filha a passar o tempo transformando o ócio em algo criativo. Se no primeiro filme Hogg já lidava com o risco de aparentemente não ter nada acontecendo até que a trama se revela, em Arquipélago a coisa se torna ainda mais complicada, já que o ócio é o que move o filme. É a estranha sensação de que não existe nada a fazer que escancara a ideia de que nada acontece durante boa parte do filme. No entanto, os diálogos e situações servem justamente para acentuar o distanciamento entre os membros daquela família, de forma que são estes personagens que compartilham a mesma árvore genealógica que compõem o arquipélago a que o título se refere (e pode adicionar até o pai ausente que não se houve sequer a voz em uma ligação regada à estresse). Aos poucos entendemos a história daquela família e como se tornaram pessoas desconectadas entre si. Não é por acaso que Christopher, prestes a viajar por um longo período (mesmo sem ter certeza se realmente deseja fazer aquilo) passa a maior parte do tempo conversando com a cozinheira - já que acatou a ideia de não levar a namorada para o encontro familiar interminável. Também é sintomático que a irmã sempre pareça insatisfeita, reclamando de tudo e com análises frias sobre qualquer situação apresentada por seus familiares, ou que a mãe comedida exploda toda vez que algo lhe foge ao controle (seu momento de maior paz é quando pinta um quadro cinzento no conforto do quarto com um vendaval revelado fora da casa revelado pela janela). Mesmo sob o risco de entediar a plateia, Hogg confirma aqui seu gosto por retratar o tédio e a insatisfação de uma família que não precisa se preocupar com dinheiro para pagar as contas no fim do mês. Pode não ser um filme empolgante (apesar que parte da plateia pode se empolgar ao ver o intérprete de Loki tirar as calças diante da câmera sem qualquer cerimônia) ou que você guarde na memória por muito tempo, mas acredito que esta narrativa arrastada é a proposta da diretora ao retratar um encontro de pessoas que viveram debaixo do mesmo teto por muito tempo e não fazem questão de permanecerem tão próximas novamente.
Arquipélago (Archipelago / Reino Unido - 2010) de Joanna Hogg com Tom Hiddleston, Kate Fahy, Amy Lloyd, Christopher Baker e Will Ash. ☻☻
PL►Y: Holland
Ano passado Nicole Kidman recebeu mais um prêmio importante para sua carreira, foi eleita a melhor atriz do Festival de Veneza (desbancando Fernanda Torres e Tilda Swinton) por seu trabalho em Babygirl. A atriz renomada embarcou então em mais uma campanha para conseguir mais uma indicação ao Oscar (seria a sexta vez que concorreria ao prêmio, sendo que já possui uma estatueta por seu belo trabalho em As Horas/2002), acho que o não lançamento de Holland nos cinemas tem relação com sua campanha por Babygirl, já que o longa metragem lançado diretamente no Prime Video é um dos mais frustrantes da carreira recente da atriz. Quem acompanha carreira de Nicole sabe que ela também adora produzir minisséries para a TV, geralmente baseada em best-sellers repletos de suspense em que ela desconstrói a imagem de uma família perfeita. Ela faz isso novamente neste filme dirigido por Mimi Cave em seu primeiro projeto após o elogiado Fresh (2022). Mais uma vez a cineasta constrói um suspense temperado com um senso de humor estanho, só que ao contrário de seu filme anterior, aqui, a narrativa soa emperrada e sem graça perante as promessas que apresenta de início. O título se refere à uma cidade pequena e aparentemente perfeita como suas tulipas. Lá vive Nancy (Nicole Kidman), uma professora obcecada pelo que é saudável (beira a chatice mesmo). Ela é casada com o optometrista Fred (Matthew MacFadyen) e leva uma vida pacata ao lado do filho, Harry (Jude Hill). No meio de tanta perfeição de uma família de comercial de margarina, Nancy começa a ficar intrigada com as constantes viagens do marido para congressos e palestras profissionais. Junto ao amigo professor de marcenaria, Dave (Gael García Bernal), ela começa a investigar o marido, disposta a descobrir os motivos de tantas viagens. Com quase duas horas de duração, o filme demora a engrenar e fica mais interessante no segundo ato em que a esposa perfeita percebe-se doida para ter um caso com o amigo professor enquanto acredita que o esposo a trai. No entanto, para ela a situação do marido é pior, já que ela acredita que por conta de algemas e fotos proibidas, ele é na verdade um pervertido cheio de fetiches - mas a coisa é bem pior. O tom caricatural faz tudo parecer coisa da cabeça da protagonista, mas o filme surge com uma guinada violenta e fica um tanto desconjuntado dali em diante ao lidar com o caso entre Nancy e Dave ou o que mais quer que aconteça. Há quem considere interessante a "surpresa" da trama, mas eu achei que o filme fica completamente perdido dali em diante até um desfecho confuso e insatisfatório. Embora considere um grande desperdício de um bom elenco (tem até uma participação miudinha de Rachel Sennott de Shiva Baby/2020), a produção tem uma estética caprichada e consegue trabalhar bem esta plasticidade no contraste com os pesadelos na mente dos personagens. Nada me tira da cabeça que Holland foi direto para o streaming para evitar arranhões na campanha pré-Oscar de Babygirl. Fosse lançado nos cinemas, o filme seria um fracasso e poderia até figurar no Framboesa de Ouro, no straming, com o nome de sua estrela no alto dos créditos, o filme se tornou o mais assistido ao redor do mundo em sua semana de lançamento.
Holland (EUA-2025) de Mimi Cave com Nicole Kidman, MAtthew MacFAdyen, Gael García Bernal, Jude Hill e Rachel Sennott. ☻☻
sábado, 26 de abril de 2025
NªTV: Demolidor Born Again
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Jon e Charlie: renascendo pelo meio do caminho. |
Vamos lá, vou tentar entender o que se passa na cabeça dos executivos da Marvel. Não é novidade para ninguém que desde Vingadores: Ultimato (2019) o estúdio perdeu totalmente o rumo e o que era amarradinho num universo cinematográfico com dezenas de produções, se tornou totalmente irregular sem fios condutores e atirando para todos os lados. Se a saga do multiverso não alcançou o resultado esperado, pelo menos serviu para agregar artistas que já haviam acertado em personagens dos quadrinhos em produções bancadas por outros estúdios. Este é o caso de Charlie Fox, que encarnou o Demolidor como manda o figurino em três temporadas dignas de nota bancadas pela Netflix. A terceira era um verdadeiro deleite, mas estreou com a tristeza de ser a última da gigante do streaming e com um futuro incerto. Os fãs fizeram tanto barulho que a Marvel na Disney+ ouviram as preces ruidosas e testaram para ver se o personagem funcionaria no MCU. Ele recebeu uma pontinha em Homem Aranha Sem Volta Para Casa/2021, flertou com She Hulk/2022 e emprestou algum charme para Echo/2024 até finalmente ter sua série retomada após sete anos. Queriam fazer algo totalmente diferente, viram que era um esforço desnecessário. Retomaram alguns personagens, algumas tramas, inventaram outras e ... no fim das contas a temporada de Demolidor Born Again precisou passar por algumas refilmagens. Como era de se esperar o resultado é um tanto desconjuntado. Existem tramas em excesso para dar conta, personagens demais para dar atenção e ao chegar no último episódio a sensação é que nada foi trabalhado como deveria. Mais uma vez a Marvel deixa tudo em aberto em nome de uma promessa do que vem pela frente que pode nunca chegar como tantas outras que vimos nas últimas produções do estúdio. Existem tantas pontas soltas atualmente no MCU que nada mais cria expectativa. Nesta temporada, O Senhor do Crime (Vincent D'Onofrio) acaba de voltar ao batente e consegue ser eleito prefeito da cidade. Sua política é contra os justiceiros mascarados que combatem o crime (e portanto colocam em risco seus negócios clandestinos). Matt Murdock sofre um trauma no primeiro episódio e aposentou sua carreira de herói. Passou a investir mais na vida de advogado e conseguiu uma estabilidade nunca imaginada. Por conta disso, a série se dedica mais aos meandros da política e da justiça, mas conduz os episódios com muito falatório até os episódios finais. Tem ainda um vilão novo para enfrentar, um namoro com uma psicóloga para desenvolver, o retorno do Justiceiro (Joe Berthal) que pelo menos é tratado com dignidade enquanto dá até tristeza ver o desperdício de Wilson Bethel de escanteio como Mercenário durante a temporada. Dos nove episódios, salvamos o primeiro, o do banco e os dois últimos, mas Demolidor Born Again deixa um gostinho de decepção, já que fica muito abaixo das temporadas da Netflix, e mais ainda se levarmos em consideração a brilhante terceira temporada. Para fazer de conta que a pegada será a mesma tem aquelas cenas de violência e sanguinolência para tapear, mas precisam avisar para os produtores que não era sobre isso. Falta cadência, fluência, roteiro, atmosfera e tudo que tornou aquelas temporadas um marco para as séries de heróis. Que a próxima seja melhor.
Demolidor Born Again (EUA-2025) de Dario Scardapane, Matt Corman e Chris Ord com Charlie Cox, Vincent D'Onofrio, Margarita Levieva, Jon Bernthal, Wilson Bethel, Deborah Ann Woll, Kamar de los Reyes, Michael Gandolfini e Ayelet Zurer. ☻☻
PL►Y: Um Completo Desconhecido
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Chalamet: cinco anos de preparo para viver Bob Dylan. |
Bob Dylan é um ícone não apenas da música, mas da arte em geral. Basta lembrar que ele é o único compositor a receber um Nobel de Literatura - e se você estranhou a informação, saiba que ele nem apareceu para receber o prêmio. Ele é uma dessas figuras tão enigmáticas que tudo colabora para que soe ainda mais genial. Suas composições atravessaram décadas e lidam diretamente com a história de seu país e do mundo em geral. Toda a importância de Dylan afetou diretamente toda a expectativa em torno do filme Um Completo Desconhecido e sua repercussão durante temporada de ouro. O fato do filme ser dirigido por James Mangold também ajudou na expectativa. Mangold já fez de tudo em Hollywood, incluindo o filme sério do Wolverine, o Logan/2017 (que foi indicado ao Oscar de roteiro adaptado), mas a biopic de Dylan se relaciona mais com outro filme do diretor, Johnny & June (2005) sobre outro icônico, Johnny Cash em seu relacionamento com June Carter. Quem comprou o projeto e investiu muito de si no filme foi Thimothée Chalamet, que se preparou por cinco anos para encarnar Bob Dylan nos primórdios de sua carreira, aos dezenove aninhos ao chegar em Nova York em 1961. Mangold volta sua câmera para os nomes da música que eram cultuados naquele período, havendo uma espécie de passagem de bastão dos consagrados na música folk como Pete Seger (Edward Norton), Woody Guthrie (Scoot McNairy) e Johnny Cash (Boyd Holbrook) para novos nomes como Joan Baez (Monica Barbaro) e o próprio Dylan nos palcos de festivais. Chalamet consegue ser bastante convincente ao evocar a postura do cantor, seu jeito de falar e aquele olhar bastante característico. Além disso, consegue sustentar em seu corpo franzino de adolescente (embora o ator esteja prestes a completar trinta anos em dezembro próximo) o espírito contestador que tornou Dylan famoso. Chalamet foi indicado a todos os prêmios da temporada (ganhou o Prêmio do Sindicato dos Atores pela performance e foi indicado ao Oscar), Edward Norton também foi lembrado e o Oscar aclamou Monica Barbaro com uma indicação ao prêmio de Coadjuvante por sua irresistível Baez. O elenco do filme é realmente um triunfo e ajuda muito quando o filme se torna repetitivo em necessitar das músicas de Dylan para prender a atenção do espectador. Em alguns momentos a trama se perde, dando a impressão que se esquivar das grande polêmicas do período (como a guerra do Vietnã e aprofundar nos ideais de contracultura), o que deixa passagens ocas ao investir no incômodo da namorada de Bob (vivida por Elle Fanning) em ter que lidar com um triângulo amoroso. Se nas atuações e na parte musical o filme se garante, o mesmo pode se dizer da reconstituição de época que cria uma ambientação correta para os personagens. Faltou mesmo foi um tantinho de História, aquela com H maiúsculo mesmo, para evidenciar a inspiração do protagonista em narrar em suas canções um mundo em que estava mudando. Talvez por conta disso, o filme tenha concorrido a oito estatuetas no Oscar (filme, direção, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, som, roteiro adaptado e figurino) e não levou nada para a casa.
Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown/EUA-2024) de James Mangold com Thimothée Chalamet, Edward Norton, Elle Fanning, Monica Barbaro, Scoor McNairy, Boyd Holbrook e David Alan Basche. ☻☻☻
PL►Y: Superstar - The Karen Carpenter Story
Ainda que tenha presidido o júri do último Festival de Berlim, o cineasta Todd Haynes ficou em evidência na mídia no ano passado por conta de todo imbróglio envolvendo Joaquin Phoenix em sua desistência de realizar um filme gay assinado pelo diretor com cenas tórridas. Reza a lenda que o projeto foi idealizado pelo próprio ator, mas que prestes a começar as filmagens, ele desistiu da produção deixando os envolvidos com um verdadeiro prejuízo nas mãos. Eu fico imaginando o que se passa na cabeça de um astro que convida Haynes para embarcar em um projeto e comete um papelão desses. Ainda que alguns dos filmes do cineasta tenham recebido indicações para o Oscar (ele mesmo indicado pelo roteiro original de Longe do Paraíso/2002), Todd Haynes é um nome que ganhou notoriedade moldado no cenário indie do cinema dos Estados Unidos. Começou a carreira assinando curtas sem concessões, dirigiu clipe para o Sonic Youth, estreou em longa metragem com a estética queer de Veneno (1991) e seu status só cresceu após A Salvo (1995) e Velvet Goldmine (1998), gerando projetos que flertaram cada vez mais com a nata de Hollywood. Antes de tudo isso, entre seus preciosos curtas, existe um que indicava ali um diretor audacioso digno de receber atenção nos próximos anos. Trata-se de uma biografia não autorizada de Karen Carpenter, a cultuada vocalista da dupla de irmãos cantantes The Carpenters. No entanto, para Haynes seria um tanto óbvio realizar o filme com atores, então, ele resolveu usar bonecas Barbie para contar a história. Passado o estranhamento inicial, chama a atenção como o diretor consegue driblar qualquer resquício cômico de parecer uma "brincadeira de bonecas" para expor aos espectadores a triste história da cantora ao lidar com a fama e seus holofotes (ou como diria Fernanda Montenegro: ao lidar com "a glória e seu cortejo de horrores"), aspectos que motivaram seus distúrbios alimentares e culminaram no falecimento em decorrência da anorexia nervosa. A carreira de Karen começou quase que por acaso, já que o irmão, Richard, desejava seguir carreira na música, mas não encontrava a voz certa para seus projetos. Karen acabou revelando-se a parceira ideal para ele, com a bela voz contralto. As habilidade como baterista também era ressaltada pelos críticos e demais músicos do período, mas o sucesso intensificou a tensão com com a mãe controladora, o irmão autoritário, um casamento fracassado e a percepção da própria imagem. Haynes conta toda esta problemática embalado pelas canções da dupla que nunca pareceram tão melancólicas ao evidenciar as camadas emocionais que impregnavam a voz da artista. O trabalho com a iluminação e o trato com as "atrizes" evidencia ainda mais a atmosfera opressiva daquela realidade. Ainda que tenha cerca de quarenta minutos de duração, o filme apresenta algumas entrevistas que destacam aspectos um tanto polêmicos da carreira dos manos, seja a proximidade com o controverso presidente Richard Nixon ou as insinuações presentes sobre a sexualidade do irmão de Karen. Superstar - The Karen Carpenter Story é um filme surpreendente pela forma inusitada com que conta uma história pesada sobre o mundo da música e, não por acaso, tornou-se um filme proibido pelos advogados da família (portanto, se você quer assistir, procure no Youtube antes que ele seja banido mais uma vez). Karen Carpenter faleceu em 1983 aos 32 anos com apenas 31 quilos.
Superstar - The Karen Carpenter Story (EUA/1987) de Todd Haynes com vozes de Merill Gruver, Michael Edwards, Melissa Brown, Rob Labelle e Nannie Doyle. ☻☻☻☻
quinta-feira, 24 de abril de 2025
4EVER: Lúcia Alves
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04 de outubro de 1948 ✰ 24 de abril de 2025 |
Lúcia Alves da Silva nasceu na cidade do Rio de Janeiro, filha de um bancário e uma psicóloga. A atriz começou a carreira no cinema, com o filme Um Ramo para Luiza (1965) de J.B. Tanko. Nos anos seguintes migrou para trabalhos na televisão, iniciando na teledramaturgia com a novela Enquanto Houver Estrelas (1969) da TV Tupi, mas o destaque veio como a índia Potira no sucesso Irmãos Coragem escrita por Janete Clair em 1970. Ela ainda recebeu destaque como a protagonista de Helena (1975) de Gilberto Braga e vivendo Veroca em Plumas e Paetês de Cassiano Gabus Mendes. A atriz também realizou trabalhos marcantes nas novelas Ti Ti Ti (1985), Barriga de Aluguel (1990) e O Fim do Mundo (1996). Nos últimos anos realizou participações especiais em várias novelas e minisséries. Ao longo da carreira, Lúcia realizou 13 trabalhos para o cinema e várias peças de teatro. A atriz faleceu em decorrência de câncer no pâncreas.
sábado, 12 de abril de 2025
FESTIVAL DE CANNES 2025
Depois de ver Anora, seu último premiado com a Palma de Ouro, ser laureado com o Oscar de Melhor Filme de 2024, o Festival de Cannes se aproxima cheio de possibilidades. Vale lembrar que outros que passaram por lá no ano passado também garantiram lugar nas premiações do final de ano, como Emília Pérez, A Semente do Fruto Sagrado, A Substância, Tudo que Vemos feito Luz, O Aprendiz e A Garota da Agulha. Este ano tem obras de alguns queridos do Festival na disputa pelo prêmio máximo do Festival, estão lá premiados em edições anteriores como Julia Ducournau, Joachim Trier, Jafar Panahi e os irmãos Dardenne, além do brasileiro Cleber Mendonça Filho que retorna ao Festival. Além disso, o evento promete alavancar os olhares sobre as novas obras de Ari Aster, Wes Anderson, Richard Linklater, Kelly Reichardt e Spike Lee. Não bastasse tantos atrativos, Cannes também trará as estreias na direção de Scarlett Johansson e Harris Dickinson. A seguir, todo o cardápio cinematográfico do Festival de Cinema mais influente do mundo:
MOSTRA COMPETITIVA
"After" de Oliver Laxe
"Alpha" de Julia Ducournau
"The Eagles of the Republic" de Tarik Saleh
"Eddington" de Ari Aster
"Dossier 137" de Dominik Moll
"Fuori" de Mario Martone
"The History of Sound" de Olivier Hermanus
"It Was Just An Accident" de Jafar Panahi
"The Mastermind" de Kelly Reichardt
"Nouvelle Vague "Richard Linklater
"O Esquema Fenício" de Wes Anderson
"O Agente Secreto" de Kleber Mendonça Filho
"Renoir" de Chie Hayakawa
"Romeria" de Carla Simon
"Sentimal Value" de Joachim Trier
"Sound of Falling" de Mascha Schilinski
"Two Prosecutors" de Sergei Loznitsa
"The Youngest Daughter" Hafsia Herzi
"Young Mothers" de Luc and Jean-Pierre Dardenne
"Partir un jour" de Amélie Bonnin
FORA DE COMPETIÇÃO
"Missão: Impossível - O Acerto Final" de Christopher McQuarrie
"The Coming of the Future"de Cedric Klapisch
"Vie Privée" de Rebecca Zlotowski
"The Richest Woman in the World" de Thierry Klifa
"Highest 2 Lowest" de Spike Lee
MOSTRA UN CERTAIN REGARD
"Aisha Can’t Fly Away Anymore" de Morad Mostafa
"Eleanor the Great" de Scarlett Johansson
"L’inconnu de la Grande Arche" de Stephane Demoustier
"Heads or Tails?" de Alessio Rigo de Righi, Matteo Zoppis
"Homebound" de Neeraj Ghaywan
"Meteors" de Hubert Charuel
"Once Upon a Time in Gaza" de Arab Nasser, Tarzan Nasser
"A Pale View of Hills" de Kei Ishikawa
"Pillion" de Harry Lighton
"The Plague" de Charlie Polinger
"The Mysterious Gaze of the Flamingo" de Diego Céspedes
"My Father’s Shadow" de Akinola Davies Jr.
"Urchin" de Harris Dickinson
PL►Y: O Quarto ao Lado
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Tilda e Julianne: amigas até o fim. |
As tentativas de levar Almodóvar para filmar em Hollywood foram muitas. Elas começam lá nos anos 1980, mais precisamente quando seu Mulheres à Beira e um Ataque de Nervos (1988) conquistou o público do Tio Sam e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme não levou o prêmio, mas Pedro ganhou alguns milhões a mais ao vender os direitos de uma refilmagem para Jane Fonda que o convidou a fazer a nova versão e ele apenas disse não estar interessado. Tempos depois ele foi premiado na categoria com o excelente Tudo Sobre Minha Mãe (1999), um verdadeiro clássico que marcou uma guinada na carreira do diretor. Com seu nome em alta, Almodóvar foi convidado a dirigir Brokeback Mountain (2005) e negou a oportunidade. Em 2012 ele estava prestes a adaptar The Paper Boy de Pete Dexter, mas não ficou muito empolgado e cedeu o lugar para Lee Daniels. Almodóvar passou a exercitar seu trabalho em língua inglesa em curtas metragens, em A Voz Humana (2020) chamou Tilda Swinton para dar apoio e no seguinte, Estranha Forma de Vida (2023) soube capitalizar muito bem o apelo do muso Pedro Pascal ao lado de Ethan Hawke como ex-amantes em um faroeste promissor (e que remetia diretamente ao que o cineasta teria feito em Brokeback Mountain). Era inevitável imaginar que o diretor soltaria em breve um longa metragem em língua inglesa. Ele o fez e o lançou no Festival de Veneza do ano passado, de onde saiu com o Leão de Ouro de melhor filme, desbancando filmes badalados como Ainda Estou Aqui e O Brutalista. Foi um baita exagero. Ainda que o filme conte com uma estética de encher os olhos, valorizada pela fotografia belíssima e conte com duas atrizes do calibre de Tilda Swinton e Julianne Moore no alto dos créditos, o filme não convence (tanto que foi praticamente esquecido nas premiações). A trama (baseada no livro O Que Você Está Enfrentando de Sigrid Nunez) conta a história de duas amigas que não se encontram há muito tempo. Ingrid (Julianne) é uma escritora que possui problemas em lidar com a morte (o que se torna a inspiração para seu novo livro) e quando descobre que sua amiga Martha (Tilda) enfrenta um tratamento contra o câncer, decide reencontrá-la. As duas já viveram muitas histórias juntas, mas a escritora nem faz ideia de que a amiga decidiu terminar com a própria vida e conta com sua ajuda para realizar o plano de tirar a própria vida. Existe um mundo de possibilidades a serem exploradas na trama, mas em sua primeira experiência com a língua inglesa, Pedro sofre com um roteiro duro. A dureza aparece não devido ao tema, mas aos diálogos empolados que causam estranhamento durante toda a sessão, afinal, ninguém fala daquele jeito. Dá até pena de ver as atrizes brigando com um texto tão esquisito. Este ponto drena toda a emoção que o filme precisava. Parece que ao lidar com uma língua a qual não tem muita familiaridade, Almodóvar criou um dos seus filmes mais engessados. Impossível não imaginar como seria o filme em espanhol promovendo um reencontro de suas musas (imagine Victoria Abril e Rossy de Palma juntas em cena?). Apesar do profissionalismo de Tilda e Julianne, O Quarto Ao Lado só arranha a emoção que pretende evocar.
O Quarto ao Lado (The Room Next Door / Espanha - EUA - França / 2024) de Pedro Almodóvar com Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro, Alessandro Nivola, Victoria Luengo, Alex Høgh Andersen e Alvise Rigo. ☻☻
NªTV: White Lotus - 3ª temporada
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Os Ratliff: incesto para esquentar a temporada. |
Ok, vamos ao assunto televisivo da semana: o final da terceira temporada de White Lotus. A série criada por Mike White para a HBO apresentou em suas temporadas anteriores um vigor ácido impressionante ao lidar com as relações de classe entre hóspedes milionários e funcionários de uma rede de hotéis de luxo. No primeiro episódio da nova temporada ambientada na Tailândia, eu fiquei impressionado em como a produção conseguiu agregar tantos rostos conhecidos para a temporada para viver as três amigas (Carrie Coon, Leslie Bibb e Michelle Monaghan) que resolvem passar as férias juntas no resort de luxo, o casal intergeracional (Walton Goggins e Aimee Lou Wood) que terá o destino atravessado por uma trama de vingança, um golpista que atrapalhou os planos de uma massagista (Natasha Rothwell) na primeira temporada, a família milionária (Jason Isaacs, Parker Posey, Patrick Schwarzenegger, Sam Nivola e Sarah Catherine Cook) que mal faz ideia da crise que está por vir e vários outros personagens que irão gravitar ao longo da trama. O problema é que ao contrário das temporadas anteriores, com o passar dos episódios, a impressão é que a trama está empacada. As situações se repetiam a cada episódio sem sair do lugar e quando me dei conta, já era o episódio final que seria exibido na semana seguinte. Não por acaso, o elenco chamou mais atenção do que a história em si. A começar por Parker Posey, como a dondoca sulista que ganhou as redes sociais em memes e remixes variados de sua personagem alienada da realidade pelo uso sucessivo de medicamentos (e que acaba contaminando o marido que extrapola mais do que ela), mas com plena consciência do estilo de vida que ama. O núcleo familiar da atriz também chamou atenção pelo tom incestuoso entre seus herdeiros, mas se havia alguma promessa de ousadia e polêmica, ela se dissipou no caminho. Neste ponto, merece destaque o trabalho de Patrick Schwarzenegger e Sam Nivola como os irmãos em dúvidas sobre o que está de fato acontecendo. Embora cada núcleo tenha seu arco de desenvolvimento, nenhum deles foi memorável e capaz de tornar a temporada especial, nem mesmo o tiroteio do último episódio chegou a ser surpreendente como queria. Assim como nas outras temporadas, o primeiro episódio deixa no ar que alguém morre assassinado por alguém, mas no decorrer das temporadas anteriores você se envolve com as narrativas e nem se liga mais neste detalhe. Aqui, como eu não estava me importando muito com aquele grupo de personagens, a importância que dei ao "quem matou quem"? da trama se tornou algo ainda mais esquecível. Talvez Mike White já demonstre sinais de cansaço, ou talvez já esteja começando a se repetir perante suas intenções. Fica aqui novamente a minha ideia de fazer a próxima temporada no meio dos alpes, com muito frio e gelo, além de resgatar personagens mais interessantes para manter a ligação entre as temporadas. Particularmente me interessava muito mais o destino do casal Harper (vivido por Will Sharpe e Aubrey Plaza na segunda temporada) do que os resgatados para esta temporada. Se for definir a temporada a nova leva de episódios em uma palavra seria decepção.
The White Lotus - 3ª Temporada (EUA-2025) de Mike White com Jason Isaacs, Parker Posey, Patrick Schwarzenegger, Sam Nivola, Sarah Catherine Cook, Carrie Coon, Leslie Bibb, Sam Rockwell, Walton Goggins, Michelle Monaghan, Aimee Lou Wood, Scott Glenn, Tayme Thapthimthong e Lek Patravadi. ☻☻
quinta-feira, 10 de abril de 2025
PL►Y: O Livro dos Prazeres
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Simone e Javier: aprendizagem cheia de química. |
Não lembro se já escrevi por aqui que Clarice Lispector está no top 3 de meus autores favoritos de todos os tempos (ao lado de Saramago e Gabriel García Márquez. Lembro quando comecei a ler sua obra na adolescência e fiquei instigado com a forma única como ela desenvolve a trama enquanto nos apresenta o que ela chama de "geografia interna da personagem". Esta maneira única de construir a escrita coloca seus livros entre os mais surpreendentes da Literatura. Recentemente até a Cate Blanchett citou o quanto ficou maravilhada de conhecer a obra da escritora. Por isso, admiro bastante a coragem de quem se aventura a realizar uma adaptação de sua escrita para as telonas. A cineasta Suzana Amaral (1932-2020) executou a tarefa com maestria na versão de A Hora da Estrela (1985), que rendeu o prêmio de melhor atriz para Marcélia Cartaxo no Festival de Berlim. Quem se aventurou recentemente foi Marcela Lordy (A Musa Impassível/2011) ao adaptar Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, vale dizer que a cineasta trouxe para si um desafio e tanto. A obra está entre as mais reflexivas da escritora ao contar a história de Lóri (Simone Spoladore), uma professora do ensino fundamental que resolveu viver longe do pai e dos irmãos e se mudar para o Rio de Janeiro. Sua rotina se divide entre o trabalho com as crianças e as noites com os parceiros sexuais que encontra pelo caminho. No entanto, Lóri não se envolve emocionalmente com nenhum deles. As coisas mudam quando conhece Ulisses (Javier Drolas) que se recusa a se envolver sexualmente com ela, até que os sentimentos entre os dois estejam em um outro estágio. A hesitação de Ulisses deixa Lóri inquieta, mas a faz pensar na forma como ela se relaciona com as próprias emoções. Este é o processo de aprendizagem que está no título do livro, mas que ficou de fora do título do filme. Lordy faz uma opção arriscada de privilegiar os longos silêncios durante a narrativa, o que me fez sentir falta de boa parte da escrita de Clarice ao longo do filme. No entanto, a diretora fez uma ótima escolha ao escalar Simone Spoladore para viver a protagonista que é menos segura de si do que imagina, outra escolha acertada foi escolher o argentino Javier Drolas para viver o objeto de desejo da personagem. Confesso que no livro eu considerava Ulisses um personagem bastante irritante, aparentemente traçando joguinhos de sedução com a personagem, mas Javier consegue dissipar esta impressão ao longo do filme e estabelece ao lado da atriz uma sintonia que cresce em desejo até o desfecho. Lordy ainda constrói belas saídas para situações descritas no livro e ainda constrói imagens belíssimas com uso de espelhos (que poderiam ser utilizadas até mais vezes durante a produção). O Livro dos Prazeres adapta uma obra complicada de maneira correta, mas o que torna ainda mais surpreendente a narrativa é perceber que é baseado em um livro editado pela primeira vez em 1969 e trata a sexualidade feminina com a naturalidade que merece. Te amo, Clarice.
domingo, 6 de abril de 2025
NªTV: O Professor
Juro que eu queria escrever sobre a segunda temporada de Ruptura, mas confesso que empaquei no terceiro episódio e devo retomar em breve (não sei quando) o resto da temporada. Eis que procurando uma série para passar o tempo e relaxar a mente (afinal, estou acompanhando a repaginada de Demolidor e a pasmaceira da terceira temporada de White Lotus também) encontrei no catálogo do Disney+ a série O Professor. Eu confesso só ouvi falar da série perante suas indicações ao Critic's Choice Awards (ator, atriz coadjuvante série de comédia) e no Independent Spirit (ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante e melhor série nova) e me surpreendi ao ver que já estava disponível no streaming por aqui. A série gira em torno de Evan Marquez (Brian Jordan Alvarez), um professor de inglês, assumidamente gay, mas que tenta separar sua vida pessoal do trabalho, especialmente depois da denúncia por ter beijado seu então namorado Malcolm (Jordan Firstman) na frente dos alunos. Malcolm já deixou de ser professor da escola e também de ser namorado de Evan, mas o ocorrido rendeu uma advertência para Evan, que está proibido de se relacionar com qualquer funcionário no trabalho. Este é só um dos dilemas que o personagem irá enfrentar durante a primeira temporada da série, já que rola uma química com o novo professor de química, Harry (Langston Kerman). O mais engraçado de O Professor está na forma como Brian Jordan Alvarez encarna o personagem que se leva a sério em um roteiro que brinca com o arquétipo certinho do personagem a cada episódio (afinal de contas, a trama se passa em um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, o Texas, e ser certinho é um belo motivo para deixarem você em paz) com um tantinho de pimenta. Totalmente comprometido com sua profissão, Evan se enxerga várias vezes perdido em um mundo em que os discursos se cruzam e tentam se sobrepor a toda instante. Em um mundo em que a verdade parece cada vez mais ofuscada pelas narrativas mais variadas possíveis, o personagem enfrenta sua cota de cruzadas por causas que parecem perdidas. Embora a série seja uma comédia (oito episódios curtinhos que você consegue maratonar em um dia), ela toca em alguns assuntos sérios como homofobia, o lugar da docência no mundo atual e a construção da identidade com bastante leveza (mas me pergunto se algumas temáticas não poderiam ir um pouquinho mais longe). Brian Jordan está ótimo a frente do elenco e conta com a ajuda de Jordan Firstman (o ex sempre presente na vida do professor) para bagunçar ainda mais a vida amorosa do protagonista. Ainda que pouco comentada por aqui, O Professor é uma delícia de assistir e já aguardo a nova temporada. Interessante como o programa é mais uma série recente sobre professores, assim como Abbot Elementary (também presente no Disney+) e a finada Lucky Hank.
O Professor (The English Teacher / EUA - 2024) de Brian Jordan Alvarez com Brian Jordan Alvarez, Stephanie Koenig, Enrico Colantoni, Sean Patton, Carmen Christopher, Jordan Firstman, Savanna Gann, Langston Kerman, Scarlette Amber Hernandez, Chris Riggi e Ben Bondurant. ☻☻☻
PL►Y: Acabe com Eles
Os primeiros minutos de Acabe com Eles servem para deixar claro que apesar de sua aparente tranquilidade, Michael é um um sujeito instável. Some isso à culpa que carrega sem suas costas e você entenderá porque aquele olhar triste que Christopher Abbott sabe fazer tão bem cai como uma luva no personagem. Vale lembrar que Abbott é um ator nascido em Connecticut nos Estados Unidos, mas ninguém diria ao vê-lo falando gaélico (a língua natal dos irlandeses) neste filme de estreia de Christopher Andrews. Seu personagem vive com o pai doente (Colm Meaney) e assumiu a responsabilidade de cuidar de suas ovelhas desde que a saúde dele piorou nos últimos anos. A situação dos dois poderiam ser um tantinho mais tranquila se não existissem os constantes conflitos com outro criador de ovelhas da região, Gary (Paul Ready), de quem suspeitam estar roubando ovelhas com a ajuda do filho, Jack (Barry Keoghan). As duas famílias não se toleram e a situação só piora quando as suspeitas de roubo se intensificam, dando início a uma sucessão de acontecimentos que ganham proporções cada vez mais violentas. O filme conta uma uma narrativa sufocante que cresce cada vez mais diante das ações violentas dos personagens, especialmente de Michael e Jack que são incapazes de perceberem que os limites já foram ultrapassados faz tempo. A narrativa é movida pelo ódio das duas famílias e até o que poderia ser uma história de amor no meio disso tudo termina soterrada pelos acontecimentos que beiram a tragédia. As locações bucólicas junto à fotografia friorenta ressaltam ainda mais o tom trágico da relação entre as famílias rivais (e nem vou mencionar as cenas angustiantes protagonizadas pelas ovelhas - cabendo ressaltar que nenhuma delas sofreu maus tratos durante as gravações). No meio de tanta testosterona explodindo na nossa cara, a atriz Nora Jane-Noone (que interpreta a esposa de Gary) merece destaque por ser um contraponto diante da guerra patriarcal já instaurada. Em cartaz na Mubi, o longa merece atenção pela sua mistura atraente de drama e suspense, mas exige estômago da plateia.
Acabe com Eles (Bring Them Down / Irlanda - Reino Unido - Bélgica / 2024) de Christopher Andrews com Christopher Abbott, Barry Keoghan, Colm Meaney, Paul Ready, Susan Lynch, Aaron Efferman e Conor MacNeill. ☻☻☻☻
PL►Y: A Verdadeira Dor
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Kieran e Jesse: viagem às origens. |
David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) são primos muito próximos - e o foto de nascerem próximos ajudou ainda mais esta relação. Os dois cresceram juntos, mas na vida adulta seguiram caminhos um tanto diferentes. Enquanto David casou e se tornou pai, Benji ficou meio perdido com a vida adulta. Diante do falecimento da avó, os dois resolvem fazer uma viagem para a terra natal dela e conhecer um pouco mais da origem da família na Polônia. A família de origem judia carrega o espectro do Holocausto em sua história e esta se mistura com as referências de outros visitantes que participarão do mesmo pacote de viagem que os primos. Obviamente que não será apenas um filme de viagem, já que aos poucos percebemos que existem algumas situações entre os dois que precisam ser passadas a limpo - e algumas delas contrariam a primeira impressão bem humorada deixada por Benji. Aliás, ele mesmo faz questão de desconstruir esta primeira impressão quando começa a problematizar o fato de terem dinheiro para fazer uma viagem daquelas, ou o prazer que a viagem pode despertar diante do confronto com um passado tão sombrio e até questionar os rumos adotados pelo guia de turismo durante as visitações que realizam. Em seu segundo trabalho como diretor, Jesse Eisenberg opta por uma narrativa sem firulas, de tom simples, centrado nos personagens e sem medo de criar alguns momentos bobos (como aquele momento em que todos resolvem posar para fotos junto com estátuas). Depois de assistir "A Verdadeira Dor" (agora disponível no Disney+), eu fiquei imaginando se Kieran Culkin merecia realmente todos os prêmios de ator coadjuvante da temporada. Para começo de conversa, ele não é coadjuvante, sendo tão protagonista quando Jesse Eisenberg (que também assina o roteiro) e não consigo enxergar nada demais em seu trabalho que mereça tamanha unanimidade. Longe de mim dizer que ele está mal no papel, pelo contrário, ele está bem, mas não era para culminar com o Oscar de coadjuvante da temporada. É um trabalho bem humorado, temperado com algum melancolia e que termina com o tom de incerteza próprio das atitudes do personagem. Existem outros fatores que justificam sua premiação: o fato dele ser um ator que cresceu em Hollywood (seu primeiro trabalho foi ao lado do irmão Macaulay aos seis anos de idade em Esqueceram de Mim/1990), mas nunca chegou perto de ser um astro (ele até ensaiou quando foi indicado ao Globo de Ouro de ator de comédia pelo ótimo Igby Goes Down/2002), porém recentemente foi redescoberto pelo seu trabalho na série Succession (2018-2023). O fato é que sem ele A Verdadeira Dor seria bastante sem graça, já que a narrativa nada exuberante, precisa do seu personagem para espantar a sonolência que poderia provocar com a pouca profundidade que aborda seus temas. O filme também concorreu ao Oscar de melhor roteiro original, embora ele lembre muito o ponto de partida de outro filme, Minha Lua de Mel Polonesa (2018) em que um casal francês resolve visitar o avô de um deles na Polônia. Quem curtir o tom simpático de A Verdadeira Dor, pode procurar o outro filme que até pouco tempo estava disponível no Prime Video.
A Verdadeira Dor (A Real Pain/EUA) de Jesse Eisenberg com Jesse Eisenberg, Kieran Culkin, Jakub Gasowski, Will Sharpe, Daniel Oreskes, Jennifer Grey e Kurt Egyiawan. ☻☻☻
terça-feira, 1 de abril de 2025
4EVER: Val Kilmer
Val Edward Kilmer nasceu na Califórnia em uma família de origem Cherokee, sueca, irlandesa e alemã. Já crescido, Val estudou com Kevin Spacey na Universidade Chatsworth e na Escola Profissional de Hollywood. Aos 17 anos, o rapaz ficou conhecido como o mais jovem a ser aceito na prestigiada Juilliard School para estudar arte dramática. Seu primeiro trabalho no cinema foi no clássico da Sessão da Tarde Top Secret (1984) que eu jurava ser uma paródia de outro filme com Val, Top Gun (1986) que foi lançado anos depois. O ator foi aclamado por sua personificação mediúnica de Jim Morrison em The Doors (1991) de Oliver Stone, filme que lhe garantiu status nos anos seguinte e lhe rendeu papéis importantes em produções como Amor à Queima Roupa (1993), Fogo Contra Fogo (1995) e Batman Eternamente (1995) em que viveu o próprio Homem-Morcego. O temperamento difícil o fez se afastar das grandes produções, no entanto, continuou trabalhando com diretores importantes como David Mamet (Spartan/2004) e Francis Ford Coppola (Virginia/2011) e ajudou a fazer Beijos e Tiros (2005) um filme de sucesso - cuja sequência nunca saiu do papel. Com mais de cem produções no currículo, o ator atuou menos por conta de um câncer na laringe diagnosticado em 2016. Sua última aparição nas telas foi no sucesso Top Gun: Maverick (2022) em que sua voz precisou ser dublada para se tornar mais compreensível. O ator faleceu em decorrência de uma pneumonia.