Amanda e Kieran: fugindo da bolha dos bem nascidos.
Fiquei muito contente em ver Kieran Culkin colhendo elogios por sua atuação no papel de amigo de Scott Pilgrim. Simpatizo com o rapaz desde que foi era um molequeinho de dez anos interpretando o filho caçula de Steve Martin em O Pai da Noiva (1993). Apesar da família Culkin ser interminável, Kieran é o que conseguiu se estabelecer melhor no cinema. Está certo que ficou sumido por um tempo, mas depois de suas atuações importantes em Sempre Amigos (1998), Regras da Vida (1999) e neste Igby goes down (2002), sua carreira está mais do que consolidada. Pelo papel do jovem rico e meio desajustado Igby, Kieran chegou a concorrer ao Globo de Ouro de melhor ator em comédia e foi bem merecido. O título brasileiro é ridículo (antes quase chegou aos cinemas com o menos ruim Igby vai à luta). Mas vou dar um desconto porque a família do rapaz é realmente complicada, seu irmão mais velho (Ryan Phillip) é chamado por Igby de "aprendiz de nazista", sua mãe (Susan Sarandon, indicada ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante) é uma dondoca que quer apenas manter as aparências de uma família que está cada vez mais perdida com a esquizofrenia do patriarca (Bill Pullman). Ainda pertence a este círculo familiar o padrinho escorregadio de Igby (Jeff Goldblum, em sua melhor atuação) e sua amante modelo que possui tendências autodestrutivas (Amanda Peet). O roteiro e a direção do então estreante Burr Steers é extremamente competente em lidar com as bizarrices de sua trama (afinal, o que você espera de um filme que começa com a morte da matriarca com o uso de um saco plástico?) e não perde a dimensão humana de seus personagens. Dizem que esta habilidade se deve aos elementos autobriográficos presente na história. O humor negro brota do filme nas situações mais incomuns e se mostra um recurso eficiente para escapar do melodrama. Steers foi esperto o suficiente para não tratar seu Igby como um pobre menino rico e preferiu tratá-lo como um jovem de 17 anos que procura caminhar com as próprias pernas, escapando da bolha dos bem nascidos que sua mãe lhe preparou. Obviamente que pelo caminho existem vários tropeços e quedas, mas todas colaboram para que Igby cresça e veja o mundo na devida complexidade que merece. Neste processo de amadurecimento existe espaço para um caso sexual com a amante do padrinho e outro amoroso com uma garçonete (Claire Danes) e suas complicações que lhe mostram o quanto crescer é complicado. Podem dizer que é um filme sobre a perda da inocência ou sobre ritos de passagem, tanto faz. Apesar de dizer o tempo todo que crescer não é fácil, a recompensa pode ser gratificante quando conseguimos ver o mundo com nossos próprios olhos. Steers consegue boas atuações do seu elenco e vale a pena ver Susan Sarandon em seu último papel bem escrito (atualmente ela vive chorando os mortos em filmes como No vale das sombras, ElizabethTown, Um Olhar do Paraíso...), pena que depois voltou às telonas como diretor de filmes encomendados por Zac Braff (17 outra vez e A morte e vida de Charlie), na época em que lançou Igby, roteirizou Como perder um homem em 10 dias e dirigia seriados como Weeds sua carreira prometia ser bem mais esperta. Acho que o cara deveria rever seu filme de estreia.
A Estranha Família de Igby (Igby goes down/EUA-2002) de Burr Steers com Kieran Culkin, Susan Sarandon, Ryan Phillipe, Claire Danes, Amanda Peet, Jeff Goldblum, Bill Pullman e Jared Harris. ☻☻☻☻
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