quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PL►Y: Sem Relação

Anna e Tom: Loki em sua estreia no cinema. 

A inglesa Joanna Hogg trabalha desde o final dos anos 1980, na década seguinte se dedicou a trabalhos para a televisão até se aventurar nos anos 2000 por um cinema mais autoral. Embora muita gente tenha conhecido seu trabalho quando The Souvenir (2019) caiu nas graças da crítica, e figurou em algumas listas de melhores do ano (tanto que o filme gerou uma sequência em 2021), Joanna estreou na telona com este Unrelated, um filme que fala sobre sentimentos complicados de uma mulher madura de quarenta anos.  A história acontece em alguns dias de férias em que Anna (Kathryn Worth) é convidada por uma amiga, Verena (Mary Roscoe), a passar alguns dias com ela em uma casa de campo na Itália, mais precisamente na Toscana. Enquanto Verena está ao lado do esposo (Michael Hadley), dos filhos, Archie (Harry Kershaw), Jack (Henry Lloyd-Hughes), Oakley (Tom Hiddleston) e Badge (Emma Hidleston) e mais um casal de amigos, à Anna cabe ter algumas conversas atravessadas com o esposo por telefone. Se por um lado Anna está muito calada, nas conversas ao telefone vemos que seu casamento não anda muito bem. O curioso é que esta sensação de um casamento ruindo lhe causa certo afastamento dos outros casais presentes na casa, mas gera uma certa proximidade com os filhos da amiga, especialmente com Oakley. Tanto este descolamento das pessoa maduras e a aproximação com o descompromisso da juventude estão marcadas nas entrelinhas do filme, já que Hogg é uma diretora que não gosta de ser explícita no que apresenta, prefere deixar que as cenas aconteçam de forma mais espontânea, quase improvisada como se não houvesse um roteiro, pelo menos até que um dilema se instaure. O dilema aqui está na atração que Anna começa a nutrir pelo charmoso primogênito da amiga, Oakley. Vale destacar um mérito inquestionável de Joanna Hogg, ela foi a primeira pessoa a confiar no apelo que Tom Hiddleston poderia ter  no cinema. Conhecido hoje por sua antológica performance como Loki, o deus da Mentira da Marvel, até então o ator estava restrito a papéis em programas de televisão sem muito destaque. Foi Hogg que percebeu como o ator poderia ser o objeto de desejo que a vida apática de sua protagonista precisava. Quando os dois estão juntos em cena, você pode sentir as faíscas entre os dois em uma narrativa que segue em uma ambientação morna, com uma paisagem bem mais (árida) e realista do que a que costumamos em ver em filmes sobre pessoas em férias paradisíacas. Talvez esta opção seja para dizer que ali não é o paraíso e tanto os conflitos entre Oakley com o pai, um acidente de carro e um amargo gosto de rejeição irão pairar a partir da metade do filme. Apesar do marasmo narrativo da primeira parte, Sem Relação se torna mais interessante conforme torna a viagem de seus personagens mais desconfortável, tão desconfortável quanto à realidade de Anna que precisa colocar os pés no chão e enfrentar uma realidade não desejada em sua volta para casa. A produção mostra-se então uma boa carta de apresentação de uma cineasta que possui um olhar sutil para fazer filmes sobre pessoas com histórias comuns e seus sentimentos complicados. 

Sem Relação (Unrelated / Reino Unido - 2008) de Joanna Hogg com Kathryn Worth, Tom Hiddleston, Mary Roscoe, Michael Hadley, Henry Lloyd Hughes, Harry Kershaw e Emma Hiddelston. ☻☻

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