Gordon: colocando as coisas em ordem biográfica.
John Cusack é um dos atores mais curiosos de Hollywood, começou sua carreira em comédias adolescentes na década de 1980 e aos poucos se envolveu em produções mais sérias, especialmente Os Imorais (1990) de Stephen Frears – onde vivia uma espécie de triângulo amoroso com sua noiva picareta (Annete Benning) e a mãe trambiqueira (Anjelica Houston) num brilhante clima noir dirigido por Stephen Frears. Se o filme chamou atenção com suas parceiras indicadas ao Oscar e com Cusack esquecido (o que serviu para que dissesse em entrevistas que não está nem aí para as premiações), pelo menos ele se tornou amigo de Frears e o escolheu para dirigir um dos seus melhores roteiros. Pois é, Cusack além de ator é roteirista (é dos mais competentes) já que é o responsável pela escrita do aclamado Matador em Conflito (1997) além deste divertidamente pop Alta Fidelidade (2000). Cusack comprou os direitos do best-seller de Nick Hornby sobre um homem transbordante de cultura pop e com mania de fazer lista dos cinco mais isso e os cinco mais aquilo. Rob Gordon (John Cusack, ótimo e indicado ao Globo de Ouro) é o proprietário de uma loja de discos e o filme começa quando ele é abandonado por sua noiva, Laura (a dinamarquesa Iben Hjejle) que está cansada de esperar que seu parceiro amadureça. Não que Gordon seja infantil como os personagens abobados de Adam Sandler, Gordon é muito articulado, bem entendido, mas parece viver dentro de um universo muito próprio e não percebe que existe uma hora para a vida alcnaçar, digamos, outro estágio, não se resumindo a saborear música pop e ficar aturando os clientes e vendedores excêntricos de sua loja (Jack Black e o ótimo Todd Louiso). Rob e Laura têm suas semelhanças e diferenças, mas uma gravidez coloca em questão o que pretendem fazer de suas vidas nos próximos anos. Ouso dizer que Cusack tem aqui sua melhor atuação e ao transferir a trama da Inglaterra para os EUA, ele evidencia que nasceu para ser Rob Gordon, sua desenvoltura é realmente impressionante, até esquecemos que está atuando – e interpretar um homem comum é mais difícil do que se imagina. Todo esse mérito fica ainda mais evidente quando Cusack precisa tornar interessante uma trama que flerta o tempo todo com um gênero extremamente feminino: a comédia romântica. Sem as embromações comuns ao gênero e com o olhar masculino sem as baixarias de Judd Apatow, o filme precisava do ator exato como protagonista e Cusack alcança uma atuação que dosa ironia, insegurança, humor e inteligência. Seja falando para câmera, pedindo uma trilha para Bruce Springsteen, listando os cinco maiores foras que já tomou na vida, ou até em momentos que beira o clichê (como os delírios de Laura na cama com um Tim Robbins cabeludo e esquisito) o cara dá conta do recado. Claro que a trilha sonora esperta (sugerida pela própria obra literária, registre-se) ajuda, assim como o elenco de apoio mais que eficiente - que ainda inclui (a sumida) Lilly Taylor, Catherine Zeta-Jones (como duas ex-namoradas), a bela (raramente vista) Lisa Bonet e a mana Joan Cusack. A direção de Stephen Frears (num território que raramente explora em sua carreira, mas que faz muito bem: a comédia) imprime um ritmo de narrativa descompromissado que equilibra bem o que há de alucinante e de realista urbano no filme. Todos esses elementos fazem de Alta Fidelidade uma ótima pedida sobre uma geração que conhecemos muito bem e que Nick Hornby se tornou um porta-voz.
Alta Fidelidade (High Fidelity/ Reino Unido-EUA/ 2000)de Stephen Frears com John Cusack, Iben Hjejle, Jack Black, Todd Louiso, Joan Cusack, Lisa Bonet, Catherine Zeta-Jones, Lilly Taylor, Tim Robbins e Bruce Springsteen.☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário