Gleeson para Farrell: "Essas sobrancelhas são de verdade?"
Admito que demorei um bocado para ver este filme que rendeu o Globo de Ouro de melhor ator de comédia para Colin Farrell em 2009. Talvez, por ter passado o seu período de estreia eu não tenha visto nada demais nesta estreia do diretor Martin McDonagh em longa metragem. O filme trabalha com o marginal mais glamourizado pelo cinema: o matador de aluguel. Todo mundo tem um profissional desses no currículo e com sucesso: Brad Pitt, Angelina Jolie (tem até duas matadoras no currículo), George Clooney, Bridget Fonda, Antonio Banderas, Silvester Stallone, Steve Buscemi, John Cusack, Pierce Brosnan e até Murilo Benício! Eu poderia lembrar de vários outros nas próximas linhas, mas prefiro destacar o fundamental para a coisa dar certo nas mãos do ator correto: uma crise de consciência. Este é o ponto de partida para este filme que flerta com o humor negro e o drama. Farrell é Ray um assassino de pouca experiência que foge com o seu parceiro Ken (Brendan Gleeson) para uma cidadezinha nos cafundós da Bélgica (a Bruges do título em inglês), o chefe deles os mandou para lá para que algumas poeiras baixassem após um serviço mal sucedido. O chefe (vivido por Ralph Fienes) vive ressaltando que a cidade parece de um conto de fadas, mas pelos enquadramentos e fotografia impressos pelo diretor a coisa parece mais voltada para o Conde Drácula! Chega a ser divertido essa ironia, assim como a inquietação de Ray diante do tédio que a cidade lhe inspira enquanto seu parceiro se sente numa viagem turística. Para passar o tempo, Ray acaba flertando com uma mocinha que conhece numa filmagem e a coisa vai enrolando para divulgar o que muita gente já percebeu logo no início (isso é um SPOILER?), que o protagonista enfrenta uma crise de consciência por ter matado um inocente e que seu chefe está lhe armando uma verdadeira armadilha. O roteiro vai girando cada vez mais em torno do personagem de Farrell, que se comporta como um bocó na maioria das situações em que se mete. A virada "surpreendente" deve ser quando descobrimos as tendências suicidas do rapaz... sinceramente acho pouco para tudo o que se disse sobre o filme (que concorreu ao Oscar de roteiro original). Apesar de algumas partes inusitadas e diálogos bem lapidados o filme tem problemas graves em sua cadência. Arrastado e exagerado em diversos momentos é preciso ter paciência para ver as coisas acontecendo por aqui. Acho que para entender o prêmio de Farrell devo levar em consideração que o cara tentava se recuperar de Alexandre (2004) de Oliver Stone e usou o prestígio que lhe restava para dar projeção a esta produção britânica e independente. Pelo menos o prêmio fez bem a auto-estima do ator, que fez papéis pequenos e elogiados em O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009) e Coração Louco (2009), tanta humildade lhe colocaram novamente na mira dos estúdios, seja para fazer o chefe caricato do recente Quero Matar meu Chefe ou na refilmagem do vampiresco Fright Night -que está prestes a ser lançado. Em Na Mira do Chefe seu assassino em crise raramente ultrapassa as caretas e o destaque fica mesmo para Brendan Gleeson numa atuação sem estardalhaço que consegue explorar todas as nuances de seu personagem. Vale ressaltar ainda o último ato repleto de ironias - inclusive com o expectador - que mostra que McDonagh pode fazer muito mais do que apresenta na primeira hora de filme.
Na Mira do Chefe (In Bruges / Reino Unido-2008) de Martin McDonagh com Colin Farrell, Brendan Gleeson e Ralph Fiennes. ☻☻
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