sexta-feira, 5 de agosto de 2011

NA ESTANTE: UM DIA

Estou até com vergonha de retomar os relatos sobre livros que eu li depois de longo e tenebroso inverno. Devo dizer que durante meu mestrado fui incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa escrita que não fosse de textos acadêmicos. Mas desde que defendi minha dissertação eu tenho retomado minha vida de leitor aos poucos. Terminei de ler o divertido Fora de Órbita de Woody Allen, li o provocador Caim de José Saramago e reli a clássica HQ Watchmen de Allan Moore (e gostei ainda mais da história de Doutor Manhattan & Cia). Talvez mais tarde eu até comente sobre eles por aqui, mas acho que é bom retomar esta sessão com um livro que está prestes a chegar às telas e que terminei de ler na última semana: Um Dia de David Nicholls. Não lembro de ouvir tanta gente falando bem de um livro nos últimos anos (e a edição brasileira traz citações muito elogiosas) e acho que é merecido. Nicholls ganhou a vida como jornalista e roterista de séries de TV britânicas, seu maior sucesso (a série Coupling) era voltado para os jovens beirando os trinta anos e é justamente para este público que é voltado este romance de pendor pop. Um Dia tem sua narrativa calcada em relatar sempre o mesmo dia na vida (15 de julho de 1988, 1989, 1990, 1991...) de dois amigos: Dexter e Emma. No início são recém-formados e não sabem muito bem o que fazer no mundo real, ela politizada, ele de família endinheirada e sem rumos com o diploma de antropologia. Seguimos esses personagens como se fossem nossos amigos de faculdade e torcemos para que tudo se acerte no decorrer dos anunciados vinte anos da trama. Embora faça mistério sobre uma coisa que todo mundo já sabe (eles se amam e prometem se desentender até o happy end) o autor tem habilidade de nos surpreender quando tudo parece seguir um caminho convencional, não só amadurecendo os personagens como também a sua narrativa - que se torna mais densa e até amarga. Conta pontos ainda sua forma peculiar de lidar com o humor de seus personagens como quando Emma lembra dos "beijos que parecem socos", ou qundo ela compara uma ideia na mente de Dexter como uma "pedra jogada na lama" ou até quando define seu amigo como um "quebra cabeça de duas peças e de uma cor só". Maldades à parte, afinal, quem desdenha quer comprar! Emma fica com as tiradas e humor inteligente enquanto para Dexter tudo beira o pastelão. Mesmo assim acho interessante como Nicchols trata o alcoolismo de forma não apelativa, humanizando as inquietações de Dex e sua falta de rumo diante de um amor que fica sempre em cima do muro - como se desde o início soubesse que estava perdendo tempo ao perseguir destinos separados e diferentes do que imaginavam. Se algo me desagrada é o fato dos últimos capítulos ficarem cada vez mais curtos e que faltando algumas páginas para o livro terminar Nicholls se aproprie de um golpe maldoso com o leitor. Sei que é justificado pela força "abrupta do cotidiano realista" que o escritor persegue entre descrições de ruas e pubs londrinos, mas o livro perde parte de sua graça e originalidade nos momentos finais de uma trama que muitos já consideram um clássico moderno. Espero que Lone Scherfig continue demonstrando a eficiência vista em Educação (2009) e saiba lidar com essas armadilhas, pelo menos o elenco empolga: Anne Hathaway (que acho convencional demais para ser Emma, mas acho que sob a batuta de Sherfig deve fazer tudo que não conseguiu no péssimo Amor e Outras Drogas no ano passado) e Jim Sturgess (tenho boas perspectivas para sua encarnação de Dexter no que se refere à temporada de ouro) - além de Patricia Clarkson como a mãe de Dex (será que sai o Oscar de coadjuvante para ela?). O filme deve estrear nos EUA dia 19 de agosto e no Brasil a estreia está prevista para 04 de novembro (!!!!!), ou seja, você ainda está em tempo de ler o livro que vale uma conferida - nem que seja para as manjadas comparações.

Sturgess e Anne: 20 dias na vida de Dex & Em.

Nenhum comentário:

Postar um comentário