Sturgess: o torturador de morangos.
Apesar de ter no currículo alguns trabalhos (especialmente para a TV) o ator inglês Jim Sturgess recebeu atenção dos estúdios aos 26 anos depois que Julie Taymor o escolheu para ser o Jude deste Across The Universe, um musical calcado nas canções dos Beatles. Tenho grandes ressalvas ao cinema de Taymor, sei que é uma diretora vinda do teatro e que empolgou os estúdios com sua montagem de O Rei Leão nos palcos da Bradway, mas daí dizer que a diretora é uma cineasta a coisa complica. Ela estreou nas telonas com uma versão morna do shakesperiano Titvs (1999), demorou anos para convencer alguém de que conseguiria levar para as telas Frida (2002) - que acabou rendendo uma indicação ao Oscar para Salma Hayek - e depois emplacou Across the Universe. Mas o sucesso do filme se deve mais aos fãs dos Beatles do que qualquer outra coisa. Afinal, Baz Luhrman (em Moulin Rouge/2001) já havia mostrado que ter as músicas conhecidas certas num musical já era meio caminho andado para conquistar um público desacostumado ao gênero. Agora, imagine o estrago que um musical feito com as músicas dos garotos de Liverpool poderia fazer! O filme conta a história de Jude (Sturgess) um estivador que vai para Nova York procurar o pai. Lá acaba encontrando um grupo de jovens que enfrentam o fantasma da Guerra do Vietnã, ao mesmo tempo que começa o embrião do movimento pacifista com forte influência do que seria a ideologia hippie. No meio desse grupo se torna muito amigo de Max (Joe Anderson) e acaba se envolvendo com a irmã dele (Evan Rachel Wood) que é bonita, bem nascida e que se torna cada vez mais politizada conforme toma consciência das consequências da guerra. Devo dizer que seria muito dizer que Taymor tenta politizar sua trama com os anseios de uma geração que fez história, mas a verdade é que ela mal arranha as questões que motivaram os protestos contra a Guerra do Vietnã. Tudo aparece diluído, conservador, superficial e atenuado. Nem os interesses amorosos do grupo de jovens que tem nas mãos ela consegue desenvolver direito (Wood e Sturgess se esforçam, mas não são milagreiros), o problema principal é o texto sofrível costurado por diálogos frouxos. A estrutura geral também não é das melhores, percebe-se claramente que as músicas dos Beatles falam por si só, o difícil foi contruir algo para colocar entre elas durante a projeção. Sendo assim, a diretora inventa um guru (Bono Vox, canastrão ainda que cheio de acessórios na cara), um passeio psicodélico, shows de uma senhoria com ambições artísticas (que parece mais uma Janis Joplin do que uma beatlemaníaca) acessorada por um guitarrista que parece um Jimmy Hendrix domesticado. Mesmo o aclamado ponto forte de Taymor (no caso, a estética visual dos filmes) consegue entediar em alguns momentos. Embora acerte em alguns números simples (como a singela versão de I Wanna Hold your Hand ou a participação de Joe Cocker) e algumas mais elaboradas (como I've just Senn a face, cantada no boliche), às vezes Yaymor dá a impressão que fazer um musical é enfileirar clipes (isso fica evidente na parte do passeio lisérgico e o Tio Sam entoando I Want You/She's so Heavy) ou cenas de show, o que é um grande engano. Ou seja, a diretora entende de musical nos palcos, mas na telona ainda tem que ralar um bocado. Embora indicado ao Globo de Ouro de Melhor Comédia/Musical e indicado ao Oscar de Figurino, as cenas multi-coloridas não conseguem espantar a sonolência deste espetáculo comportado (que tem como maior atrativo as canções em que se inspira) que se assiste e esquece. Resta à Julie aprender a contar uma história sem se apoiar em obras alheias, já que seu último filme (The Tempest/2010, outra adaptação shakesperiana) foi um fiasco.
Across the Universe (Across the universe/EUA-2007) de Julie Taymor com Jim Sturgess, Evan Rachel Wood, Bono Vox e Joe Anderson. ☻☻
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