terça-feira, 16 de agosto de 2011

Na Tela: Super 8


Joel Courtney: o cinema entre dores, amores e fantasias.

O maior problema de Super 8 é a expectativa que foi gerada ao seu redor, afinal, é o encontro de Steven Spielberg com J.J. Abrams. Spielberg dispensa apresentações, já J.J. tornou-se célebre na televisão com programas de sucesso como Felicity, Alias e o recente Lost. De olho em seu poder de envolver a plateia, Hollywood lhe deu a missão de assumir as rédeas de Missão Impossível 3 (2006) e o resultado foi o melhor longa da franquia. Depois lhe deram a missão espinhosa de reciclar a franquia Star Trek (2009) e o cara não desapontou nem os fãs mais xiitas. Já estava na hora de ver o que Abrams seria capaz de fazer com um longa fora da reciclagem de franquias consagradas, soma-se a isso a expectativa de seu nome ao lado de Spielberg e entenderemos porque tem gente que não se empolgou muito com Super 8. Devo dizer que o filme não é ruim e merece destaque num ano de produções sofríveis que só agora começa a ter suas gemas chegando por aqui. Super 8 transborda nostalgia (não por conta da trama ser ambientada no ano de 1979 e ter o nome de uma popular câmera de uma época que a câmera digital era quase uma lenda), além de ter se inspirado em um monte de referências de filmes com alienígenas (ET, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e O Dia que a Terra Parou) para compor a sua trama (e estética), o filme carrega a alma de produções com grupos de crianças aventureiras que faziam sucesso na década de 1980 (de Os Goonies, passando por Conta Comigo e o pouco lembrado Viagem ao Mundo dos Sonhos). O resultado é bem feito, simpático e não deve decepcionar a garotada que sentiu falta de opções nas telas durante as férias escolares. O problema maior do filme é que nem sempre JJ consegue equilibrar todos os elementos de sua trama, embora funcionando, a costura de seus elementos tem pontos frouxos. Uma parte considerável da trama (e esta é a mais interessante) é sobre o grupo de crianças que quer fazer um filme Super 8 para participar de um concurso. É interessante ver os arquétipos da esquipe de produção: o diretor mandão (Riley Griffiths), o ator medroso (Gabriel Basso), a atriz que dilacera corações (a ótima Elle Fanning) e os técnicos que fazem o que podem para o longa não fazer feio (Zach Mills, Ryan Lee e o promissor Joel Courtney). O protagonista do filme é Joe Lamb (Courtney) que recentemente perdeu a mãe e nutre uma paixão platônica pela aspiante à atriz Alice (Fanning) - romance que é prejudicado pelo mal relacionamento entre seus pais. É Joe que é responsável pelas cores dramáticas da trama, esses dilemas que o personagem vivencia compõe o segundo ingrediente do filme, especialmente sua relação ainda tortuosa com o pai delegado (o correto Kyle Chandler). O terceiro é ponto da trama é o mais espetaculoso e começa quando as crianças presenciam um misterioso acidente de trem que mudará os rumos daquela cidadezinha (chamada Lilian, nome da avó de JJ). Acontecimentos estranhos começam a preocupar os moradores: quedas de luz, desaparecimento de habitantes, cachorros somem... A tarefa de JJ é projetar esses elementos de forma harmônica na tela, o que nem sempre acontece. As tramas são atraentes, mas colocadas uma do lado da outra mostram-se desequilibradas, podemos notar isso quando o filme termina de forma apressada e, por mais que seja bem sacada a ideia do relicário, fica-se com a impressão de qual era o papel daquele alienígena esquisito na história. Claro que eu sei que ele está ali pela aventura e chamar a atenção do público para os efeitos especiais (ou, na melhor das hipóteses fazer as crianças vivenciarem aventura parecia com a que filmam)  mas penso que o roteiro merecia uma última lapidada. De resto é um filme bem produzido e filmado, mas está longe de ser o concorrente ao Oscar que todos imaginavam. Trata-se de um filme pipoca de verão americano, só que melhor do que a maioria lançada neste ano. Para os apressadinhos, vale a pena esperar os créditos para desfrutar do filminho trash que a turma realizou.    

Super 8 (EUA/2011) de J.J. Abrams com Joel Courtney, Elle Fanning, Kyle Chandler e Noah Emmerich. ☻☻☻

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