Mulder e Scully: a conspiração alienígena chega ao cinema.
A série Arquivo-X sempre foi muito elogiada por ter episódios que pareciam filmes, cheio de atmosfera e suspense, por isso muitos a comparavam com a lendária Twin Peaks idealizada pelo cineasta David Lynch (na qual o próprio agente Mulder, ou melhor, David Duchovny atuou interpretando uma travesti), mas Chris Carter sempre deixou claro que sua maior inspiração era o que Jonathan Demme fez no oscarizado O Silêncio dos Inocentes (1991), onde o poder da sugestão fazia o espectador prender o fôlego enquanto preenche as lacunas da narrativa (o que tornava o assustador, mais assustador). Nada mais natural que Arquivo-X tivesse seu universo transposto para a tela grande, especialmente quando alcançou o auge com prêmios do porte do Globo de Ouro e Emmy em 1997. Em 1998 o primeiro filme chegou ao cinemas envolto em grande mistério. A quinta temporada tinha acabado de passar na TV e os fãs nutriam grande expectativa para o lançamento programado para o verão americano. Em Arquivo X: Resista ao Futuro (1998) o criador Chris Carter e o diretor Rob Bowman (que havia dirigido vários episódios), queriam elevar a série a outro patamar, tanto que ampliaram alguns dos elementos mais empolgantes para a telona - com o cuidado de não complicar a vida de quem nunca acompanhou a jornada dos agentes do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson), responsáveis por investigar os casos mais estranhos e sem explicação do FBI. Partindo de um atentado num prédio - com consequências cada vez mais surpreendentes - a trama conta a história do óleo negro, uma substância que já havia contaminado vários personagens durante as temporadas e que aqui tem sua origem revelada, junto com a conspiração que planeja espalhá-lo entre a população mundial. Cheio de suspense e conspirações, o filme ainda explora o tempo inteiro com o amor platônico que emanava entre Mulder e Scully, tornando a cena do (quase?) beijo uma das mais famosas de sua duração. Como tudo relacionado ao programa, se contar demais estraga ao assistir uma trama engenhosa de ficção científica com participações especiais de Blythe Danner, Armin Mueller-Stahl e Martin Landau. Por não causar nenhuma mudança drástica nos rumos da série, Resista ao Futuro agradou sobretudo os fãs que lhe garantiram relativo sucesso mundial, vale lembrar que a trilha sonora também fez sucesso (com nomes em alta na época: Foo Fighters, Cardigans, Filter, Björk, Noel Gallagher...), restava saber o efeito do filme na série.
Fox e Scully: retorno intimista.
O clima da série mudou depois do filme, provavelmente para agradar os novos fãs, mas nada que comprometesse seus maiores méritos. Mulder e Scully continuaram suas vidas em meio à monstros, alienígenas e conspirações, até que David Duchovny se despediu do programa na oitava temporada para dedicar-se ao cinema. Com as dificuldades pelas quais o programa passou a partir daí, a ideia de um segundo filme foi engavetada. A série terminou em 2002 e de vez em quando Chris Carter afirmava sua vontade de retomar os personagens em outro longa metragem. Ironicamente, David Duchovny não conseguiu nenhum sucesso cinematográfico fora do programa, ironicamente reencontrou o sucesso no picante seriado Californication (2007-2014). Já Gillian Anderson, continuou realizando trabalhos para a TV que lhe garantiram indicações ao Globo de Ouro, BAFTA e outros prêmios televisivos (e até atuou em uma produção ganhadora de Oscar: "O Último Rei da Escócia"/2005). Quando o filme conseguiu sinal verde, os fãs enlouqueceram com a chance de reencontrar Mulder e Scully novamente. O segundo filme, Arquivo X: Eu Quero Acreditar estreou dez anos depois do primeiro, sob a direção do próprio criador... mas teve recepção morna. A grandiloquência do filme anterior havia ficado para trás e a trama investia num tom mais intimista. Carter teve muita coragem de engavetar tudo o que o seriado tinha de mais conhecido e dar destaque aos dilemas de Dana Scully e a sua fé, afinal, após sair do FBI ela começou a trabalhar num hospital de vínculo religioso e brigava pela utilização de células tronco no tratamento de um paciente. No entanto, ela e Mulder são convocados para ajudar numa investigação onde um padre acusado de pedofilia (vivido por Billy Connoly) é o único capaz de ajudar a solucionar misteriosos desaparecimentos investigados pelos agentes Dakota Whitney (Amanda Peet) e Mosley Drummy (o rapper Xzibit). O desenvolvimento da história é um tanto confuso, mas rende uma homenagem do programa às referências que sempre utilizou de O Silêncio dos Inocentes, basta perceber que aqui um criminoso de índole duvidosa ajuda em uma investigação do FBI. A parte religiosa serve apenas para resgatar aspectos que sempre soaram perturbadores para a cética Scully, mas o resultado parece menos um filme e mais um episódio esticado do programa de televisão. Talvez a ideia fosse contrapor a obsessão de Fox Mulder (retratada no primeiro) com a de Dana Scully neste filme. No entanto, até os fãs mais devotados reclamaram, talvez preferissem novas informações sobre as conspirações alienígenas. Porém, considero que o filme funciona dentro de suas limitações. Com a decepção nas bilheterias, Chris Carter viu sua intenção de fazer um terceiro filme naufragar, mas, ainda assim, a FOX era esperta o suficiente para perceber que o universo de X-Files poderia render ainda muitas outras histórias. Acredito que as ideias que Carter tinha para o filme definitivo estão sendo utilizadas na 10ª temporada de Arquivo-X que começou a ser exibida recentemente no Brasil, após quatorze anos fora do ar.
Arquivo X - Resista ao Futuro (X-Files: Fight the Future/EUA-1998) de Rob Bowman com David Duchovny, Gillian Anderson, Martin Landau e Blythe Danner. ☻☻☻☻
Arquivo X - Eu Quero Acreditar (X-Files: I Want to Believe/EUA-2008) de Chris Carter com David Duchovny, Gillian Anderson, Billy Connolly, Amanda Peet e Alvin Xzibit Joiner. ☻☻☻
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