domingo, 31 de janeiro de 2016

Na Tela: Trumbo

Cranston: a morte oficial de Walter White.

Walter White não morreu quando foi ao ar o episódio final da cultuada série Breaking Bad (2008-2013), ele morreu mesmo foi quando saiu a lista de indicados ao Oscar desse ano. Bryan Cranston, o ator veterano que ficou famoso na pele do professor de química da série (que torna-se traficante após descobrir que está com câncer) concorre ao prêmio de Melhor Ator por sua atuação como o brilhante roteirista Dalton Trumbo na interessante cinebiografia dirigida por Jay Roach. Roach ficou famoso como o diretor de comédias como Austin Powers (1997) e Entrando numa Fria (2000), mas era na televisão que demonstrava seu olhar ácido sobre fatos políticos americanos. Foi na telinha que foi celebrado por filmes como Recontagem (2008) e Virada no Jogo (2012), antes de avacalhar com Os Candidatos (2012) no cinema. Agora o diretor volta-se para um período complicado da história do cinema americano, o período onde os afiliados do partido comunista foram perseguidos não apenas pelo governo americano, mas foram banidos pelos estúdios que temiam represálias. Logo no início, percebemos como tudo não passava de uma virada política, já que antes da perseguição, a União Soviética era aliada dos EUA (motivando a inscrição de diversos cidadãos no partido comunista) para depois ser considerada inimiga (e fazer os afiliados serem vistos da mesma forma). É estanho imaginar que um país que sempre propaga o discurso a favor da democracia e da liberdade tenha perseguido pessoas que tinham ideais políticos diferentes. O absurdo era absolutamente real - e Trumbo e vários de seus amigos sentiram isso na pele. A década de 1940 foi marcada por essa perseguição, período que ficou conhecido como de Caça às Bruxas, liderada pelo senador Joseph McCarthy (e perdurou até a década seguinte). Dalton Trumbo (Cranston) e seus amigos pensavam que poderiam fazer as pessoas perceberem o ridículo do que estava acontecendo, mas acabaram presos - além de incluídos numa lista negra que impossibilitava o trabalho na indústria cinematográfica. O filme começa mediano, contendo muito daquele estilo de filme televisivo de antigamente, mas aos poucos ele cresce, sem abrir mão das ironias e torna-se fascinante quando Trumbo trabalha escondido (com ajuda da família e dos amigos) e consegue ganhar dois Oscars através de outros nomes (por A Princesa e o Plebeu/1953 e Arenas Sangrentas/1956). Fortemente valorizado pelo seu elenco, vivendo personagens importantes - com destaque para Diane Lane (como a senhora Cleo Trumbo), Elle Fanning (como a primogênita de Trumbo), Helen Mirren (como a megera Hedda Hooper) e Louis C.K. (como o amigo Alan Hird), além de Cranston que está espetacular na pele de Trumbo (sua presença em cena já emana um brilhantismo que dispensa qualquer adjetivo que possa dizer sobre o roteirista). Apesar de contar um período complicado da história americana, Roach evita fazer um filme sombrio, utilizando o humor do personagem e apostando na força de sua história. Trumbo concorre ao Oscar somente na categoria de melhor ator, mas eu o colocaria fácil em outras categorias cobiçadas.   

Trumbo - Lista Negra (EUA/2015) de Jay Roach com Bryan Cranston, Michael Stuhlbarg, Diane Lane, Helen Mirre, Elle Fanning, Louis C.K., David Maldonado, Alan Tudyk, John Goodman, Roger Bart e Dean O'Gorman. ☻☻☻☻

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