Voight e Hoffman: bela história triste da "Nova Hollywood".
Dentre todas as listas de filmes premiados com o Oscar, Perdidos na Noite pertence à uma diferente de todas as outras: a lista de filmes estranhos. O filme não é estranho por contar uma história que beira o surreal ou que possua reviravoltas malucas, mas porque é o total oposto do que imaginamos que um filme ganhador do Oscar seria. Se eu disser que outros filmes que pertencem à essa lista são O Silêncio dos Inocentes (1991), Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) e até o recente Birdman (2014) você irá entender o que quero dizer por fugirem do padrão conservador da Academia (e se achamos isso ainda hoje, imagina como era há trinta e dois anos). Não existe nada de embelezado, glamouroso, brando ou romântico na história de dois amigos que se conhecem em Nova York e tentam apenas sobreviver à derrota iminente perante à solidão urbana. Lançado em 1969 e dirigido pelo inglês John Schlesinger, o filme foi aclamado por suas ousadias narrativas, que o tornam ainda hoje, uma obra bastante moderna. Dos sonhos psicodélicos às lembranças que atormentam o protagonista, Perdidos na Noite tem uma história belamente construída até o final melancólico. O filme conta a história de Joe Buck (Jon Voight, antes de ser pai de Anjelina Jolie e no melhor momento de sua carreira), um jovem texano que pretende fazer fortuna na cidade grande trabalhando - como garoto de programa para mulheres mais velhas e ricas. Pensando que seu estilo cowboy iria fazer a diferença no ramo, ele mostra-se ingênuo demais perante as hostilidades que encontra - logo percebe que atingir seu objetivo será mais difícil do que imagina. Sorte que ele faz amizade com o esperto Ratso Rizzo (Dustin Hoffman, ótimo), um simpático marginal que irá servir de cafetão para sua desventuras e ajudá-lo a compreender um pouco mais a difícil vida da cidade grande. Perdidos na Noite ficou famoso por ser o primeiro representante da "Nova Hollywood" a levar o Oscar de melhor filme para casa (recebeu também a de melhor diretor e roteiro adaptado), o que não é pouco para uma época onde o cinema americano pretendia ser mais realista, com forte influência do cinema europeu e foco em questões políticas e sociais. Baseado no livro de James Leo Herlihy, Schlesinger apresenta um domínio técnico impressionante para contar a história, abusando do uso das cores (quentes ou sombrias), dos flashbacks, das sugestões sutis da edição (belíssimo trabalho de Hugh A. Robertson) e da trilha sonora, com pleno domínio de sua história e estética, Perdidos na Noite é um filme perfeito em sua densidade dramática (combinada com alívios cômicos muito bem inseridos) e alcança o ápice na viagem de ônibus mais comovente que já se viu numa tela. Ali, temos a certeza que alguma coisa ficou pelo caminho, que algo morreu dentro do cowboy grandalhão que sonhava vencer a cidade. Filmão.
Perdidos na Noite (Midnight Cowboy/EUA-1969) de John Schlesinger com Jon Voight, Dustin Hoffman, Sylvia Milles e Ruth White. ☻☻☻☻☻
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