Cate e Rooney: o proibido segundo Todd Haynes.
Trabalhando com cinema desde 1978 o diretor Todd Haynes é um sujeito incomum. Com apenas seis longa metragens no currículo, suas obras sempre soam diferentes para o público que se acostumou ao que Hollywood produz. Nascido em Los Angeles na Califórnia, sua obra sempre deixa claro que ele percebe o cinema como uma arte, seja quando decide fazer adaptações da obra de Jean Genet (como fez em sua estreia em Veneno/1991), falar sobre o mal do século (com o auxílio de Julianne Moore em A Salvo/1995), contar a história do glam rock (Velvet Goldmine/1998) ou das vidas de Bob Dylan (Não Estou Lá/2007). Mesmo quando bebe nos clássicos do cinema, seu cinema surpreende como aconteceu em Longe do Paraíso/2002 (aclamado e indicado a 4 Oscars, incluindo o de melhor atriz para Julianne Moore) e Carol, adaptado da obra de Patricia Highsmith. Nesses dois filmes, Haynes mostra como ama o cinema, especialmente por evocar um glamour que quase não vemos mais na telona (e evocar Marlene Dietrich e Audrey Hepburn em suas protagonistas). No entanto, seu glamour, não é alienante, pelo contrário trata-se de um recurso poderoso para representar como suas personagens parecem divas enquanto sufocadas por convenções sociais. Se em Longe do Paraíso Julianne se apaixonava por um homem negro enquanto descobria que seu esposo era homossexual, em Carol também existe um desejo que causará problemas ao ser revelado. Aclamado desde que foi exibido no Festival de Cannes no ano passado (de onde saiu com o prêmio de melhor atriz para Rooney Mara), Carol é sobretudo uma história de amor que desafia padrões, pelo menos até o momento em que perdas irreparáveis pode ocorrer. O título se refere à personagem de Cate Blanchett, uma mulher madura que está lidando com o divórcio do marido, Harge Aird (incrível como Kyle Chandler encaixa perfeitamente nesses papéis que exigem um galã com estampa de antigamente) e avista problemas pela guarda da filha. Basta ver o olhar que a vendedora Therese (Rooney) direciona para ela e perceber como as fagulhas aparecem no ar. As duas irão se aproximar enquanto a câmera apresenta nuances da personalidade da tímida Therese - que ainda não se convenceu em aceitar o pedido de casamento do namorado (Jake Lacy) - e da exuberante Carol, que sabe exatamente qual é a sua natureza. Trata-se do romance entre duas mulheres diferentes, mas que Todd Haynes tem a gentileza de tratar com a maior elegância. Se você ficar atento aos detalhes da interpretação da dupla de atrizes irá perceber porque o filme recebe tantos elogios por onde passa. Embora tudo seja impecável (fotografia, figurinos, cabelo, maquiagem, direção de arte, trilha sonora...) o incômodo está sempre presente, pesando sobre as duas personagens, disfarçado pela beleza nostálgica da década de 1950. O que mais assusta é que se a história fosse adaptada para os dias atuais, não precisaria de alterações. O andamento seria o mesmo, a consequência seria a mesma e o diálogo de Cate Blanchett diante dos advogados seria de rasgar o coração da mesma forma. No livro que inspira Carol, a autora Patricia Highsmith (que também era homossexual e escreveu o livro sobre o pseudônimo de Claire Morgan em 1953), escreve mais do que o romance de duas mulheres que se apaixonam, descreve também o mundo no pós-guerra que ainda criava sua identidade e precisava refletir sobre o mundo em tranformação. Todd Haynes demonstra isso na cena inicial, quando a câmera procura a história que quer contar entre homens e mulheres, mas é enfeitiçada por Cate Blanchett sentada à mesa com Rooney Mara. A câmera de Haynes sabe das coisas, pena que a Academia o ignorou mais uma vez, indicando o filme a cinco estatuetas Atriz (Cate Blanchett), atriz coadjuvante (Rooney Mara, que é a protagonista da história mas... tudo por uma estatueta), roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora. Até os puritanos deverão concordar que Carol é de uma beleza cênica incomum.
Carol (EUA / Reino Unido - 2015) de Todd Haynes com Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson e Jake Lacy. ☻☻☻☻
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