Lília: sucesso nos palcos e nas telas.
Minha história com o filme Divã é engraçada. Assisti uma entrevista com Martha Medeiros no ano de 2002 na época em que lançava o famoso livro homônimo. Na época, a escritora gaúcha estava animada com o sucesso de sua obra e dizia que uma atriz estava comprando os direitos para o teatro. Passou um tempo, a atriz Lília Cabral fez sucesso nos palcos com a história adaptada do livro. Fiquei curioso. Uma amiga comprou o livro e eu pedi emprestado, ela disse que quando terminasse de ler me emprestaria. Anos depois o filme foi lançado e lembrei que a obra nunca chegara às minhas mãos. Adiei o máximo possível para assisti-lo somente depois de ler o livro. Finalmente eu comprei o livro, mas estava terminando de ler outro e minha irmã pediu meu Divã emprestado. Num acidente, meu livro foi danificado e ela me prometeu um novo. Trocando de canal dia desses me deparei com Lília Cabral num filme nacional e... assisti o filme pela primeira vez. Não é novidade alguma dizer que os maiores elogios do filme foram para a atriz, que está entre uma das melhores do nosso país. Lília é de fato a alma do filme, dando conta com maestria dos momentos cômicos e dramáticos da história. Ela vive Mercedes, esposa de Gustavo (José Mayer) e mãe de dois filhos que em breve serão adultos. Ela é o tipo de pessoa que não vê motivos para reclamar, mas, vendo a vida como perfeita ela começa a questionar essa perfeição e termina fazendo análise (a própria narrativa utiliza os momentos em que está no consultório problematizando suas vivências). A partir daí, começa a perceber suas insatisfações mais íntimas, o que muda o rumo de sua vida e do seu casamento. O desafio maior do filme é equilibrar os dramas da personagem com a necessidade de ter apelo perante o público, assim, a presença da melhor amiga de Mercedes, Mônica (Alexandra Richter) funciona como um excelente contraponto quando a Mercedes começa a experimentar romances com um homem mais jovem e percebe que seu casamento está com os dias contados. Para além da vida romântica da personagem, acho que o mais interessante são os momentos em que ela percebe que o tempo passou e com isso algumas certezas se tornaram um tanto frágeis - incluindo a imagem que tem dela mesma (que não é mais uma jovem de franja). O filme tem um trabalho de direção correto nas mãos de José Alvarenga Júnior e tem alguns momentos que realmente funcionam fora da caixa que aprisiona esse tipo de filme pipoca brasileiro (como a cena em que Mercedes e Gustavo conversam numa loja de móveis), sendo assim, o que mais me incomodou é essa estética de especial da Globo, a fotografia bonita, mas sem novidade e a necessidade de colocar uma mulher comum se envolvendo com três galãs de novela. O que era para ser realista, torna-se um tanto artificial com esses apetrechos, mas nada que diminui o belo trabalho de Lília, Mayer e Richter que conseguem dar dignidade aos momentos mais dramáticos de seus personagens sem sucumbir a baixarias ou banalizações que se tornaram tão comuns. O resultado funcionou tão certo que inspirou uma série de TV que seguiu a mesma linha e uma continuação (execrável) chamada Divã a 2 (2014) que apenas quis capitalizar o sucesso desse aqui.
Divã (Brasil/2009) de José Alvarenga Jr. com Lília Cabral, José Mayer, Alexandra Richter e Cauã Reymond. ☻☻☻
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