quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

CICLO FILMES D+: Oldboy

Oh Dae Su (ao centro): aquele prato que se come frio... 

Um homem passa quinze anos preso dentro de um quarto sem qualquer explicação. Seu único contato com o mundo exterior é uma TV que não exibe notícias otimistas... quando ele consegue sair do tal cômodo apenas uma ideia lateja em sua mente: vingança. Se você pensou na refilmagem confusa feita por Spike Lee em 2013, esqueça, estou falando do filme lançado dez anos antes, o sul coreano Oldboy de Chan-Wook Park. Baseado no mangá de mesmo nome, Chan-wook faz questão de manter o clima inacreditável da HQ com humor estranho, violência crua e outras cenas desconfortáveis (como o famoso "sushi" de polvo), mas que funcionam em um ritmo e sintonia raros no cinema de ação. Claustrofóbico em seus enquadramentos, uso de cores e trilha sonora, o filme foi considerado cult desde a sua exibição no Festival de Cannes (onde foi indicado à Palma de Ouro, mas recebeu somente o Grande Prêmio do Júri) e a versão hollywoodiana só serviu para ressaltar todos os méritos do original. O ótimo Min Sik-Choi é o responsável por gerar a torcida da plateia para Oh Dae-Su, que em busca de quem o deixou preso por tanto tempo, será o motor de uma trama de vingança envolvendo mais pessoas do que ele imaginava. Em sua violenta trajetória ele conhece a jovem Mi-do (Hye-jeong Kang) que passa a lhe fazer companhia e (levando em consideração o tempo de celibato involuntário de nosso herói) existe uma tensão sexual esquisita entre os dois. O mais curioso é que num cenário tão urbano e oriental, o diretor consegue criar um filme de artes marciais muito bem elaborado que, curiosamente, remete diretamente aos clássicos faroestes de Sergio Leone. A dedicação do cineasta às cenas de ação é realmente impressionante - e estabeleceu um novo padrão para o gênero com suas lutas coreografadas (sem corte em plano sequência) -, no entanto, Park não perde em momento nenhum a dramaticidade da história, revelando ao final tudo o que havia de trágico desde o início daquela jornada. O desfecho surpreendeu muita gente e, ainda hoje é capaz de causar arrepios pelo tom operístico de sua reveladora conclusão (em memorável participação do galã coreano Ji-tae Yu). Curioso é que posteriormente, Park-chan Wook (que era estudante de filosofia antes de ser cineasta) afastou-se gradativamente do tom de sua obra-prima, construindo filmes menos agressivos (embora a violência esteja sempre presente), sem o mesmo impacto visual e com histórias onde pode apresentar outras nuances de seu trabalho com atores. No entanto, Oldboy permanece no posto de seu trabalho mais impressionante - o que só torna pior o resultado da refilmagem de 2013 (que quase foi estrelada por Will Smith, na secura por um sucesso de bilheteria) em que Spike Lee criou um bando de subterfúgios (e explicou coisas demais) para disfarçar que todas as boas ideias da história foram esgotadas no original. 

Oldboy (Oldeuboi/Coréia do Sul-2003) de Park Chan-wook com Min-sik Choi, Hye-jeong Kang e Ji-tae Yu. ☻☻☻☻☻

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