Stuhlbarg, Fassbender e Kate: três dias na vida de Steve Jobs.
Ouvi tantas opiniões divergentes quanto ao novo filme de Danny Boyle que fiquei ainda mais curioso de ver sua visão sobre o celebrado Steve Jobs. Não se trata de uma cinebiografia comum (portanto, esqueça qualquer comparação com o insosso filme estrelado por Ashton Kutcher em 2013), afinal, não se preocupa em contar a história do dono da Apple, mas estabelecer, a partir de três momentos distintos de sua trajetória, diálogos e acontecimentos que sirvam para que conheçamos um pouco mais sobre um dos personagens mais importantes do final do século XX. Por isso, vale a pena lembrar, que o texto do roteirista Aaron Sorkin (premiado no Globo de Ouro e ignorado no Oscar) não é para qualquer um, já que estimula a velocidade dos diálogos, estruturados meticulosamente para que a personalidade dos personagens seja desenhada aos poucos para o espectador. A narrativa costura três episódios da carreira de Jobs, o lançamento do Macintosh (1983), da empresa NeXT (1988) e o celebrado iMac (1998). Assim, enquanto se prepara as apresentações dos lançamentos, nos bastidores acompanhamos não apenas as considerações sobre eles, mas a vida pessoal de Jobs sobre grande tensão. Para ajudar na condução da trama, Sorkin utiliza o relacionamento complicado de Jobs (vivido com a eficiência de sempre por Michael Fassbender, indicado ao Oscar) com a mãe de sua filha (Katherine Waterston), que ele teima em não reconhecer, e a própria menina, Lisa. Em cada episódio, essa parte familiar da história sobe um degrau específico e ajuda muito a apresentar a personalidade do personagem, assim como seu relacionamento com a fiel escudeira (e secretária) Joanna Hoffman (Kate Winslet, ganhadora do Globo de ouro e indicada ao Oscar de coadjuvante), os "amigos" John Sculley (Jeff Daniels) e Steve Wozniak (Seth Rogen), além do sempre presente (Michael Stuhlbarg). O filme está (sabiamente) pouco interessado em dizer como a Apple se tornou uma gigante da informática, mas concentra-se na personalidade de Steve Jobs, seus momentos de brilhantismo, suas ousadias (que não foram poucas), seus tropeços e persistência em enxergar além do senso comum de seu tempo. Por outro lado, também demonstra muito da sua inabilidade social, seu egocentrismo, sua megalomania e arrogância um tanto mesquinha. É justamente no casamento desses dois lados da moeda que o filme se sustenta, apresentando o choque de sua visão de mundo com a de quem o cerca (seja nos negócios ou em sua vida pessoal). É verdade quem em alguns momentos as idas e vindas da edição cansam, que a agilidade dos diálogos às vezes não permitem que o espectador consiga digerir tudo o que está sendo dito e visto, mas diante do resultado final tudo isso parece apenas um detalhe. Danny Boyle, ainda que tenha ficado de fora das premiações (talvez pelos motivos que acabo de citar), realiza outro belo trabalho na condução de seus atores, afinal, todos estão ótimos em cena segurando diálogos, muitas vezes, rebuscados. Para além do trabalho com os atores, a estética do filme também é espetacular, mantendo a assinatura do cineasta quando o filme parece uma espécie de continuação dos mesmos pontos utilizados por Sorkin em A Rede Social (2010) para falar de outro gênio da era pós-moderna (Mark Zuckerberg do Facebook). Steve Jobs, o filme, assim como a pessoa, não irá agradar a todo mundo, mas merece respeito.
Steve Jobs (EUA-Reino Unido) de Danny Boyle com Michael Fassbender, Kate Winslet, Jeff Daniels, Katherine Waterston, Seth Rogen, Michael Stuhlbarg e John Ortiz. ☻☻☻☻
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