Richard Linklater: moldando o cinema indie americano.
Richard Linklater surgiu no cenário indie americano em meados dos anos 1980, mas foi a década seguinte que o elevou ao posto de porta-voz da famigerada Geração X na telona. Confesso que ele nunca esteve entre os meus diretores favoritos, sempre o considerei bastante irregular, no entanto, com o passar do tempo, meu olhar sobre seus filmes mudou consideravelmente e comecei a enxergar virtudes que antes me eram invisíveis, principalmente, quando percebi a forma como este texano percebe a narrativa cinematográfica de forma bastante pessoal. Richard Linklater - Sonho é Destino da dupla Louis Black e Karen Bernstein explora a carreira do diretor, levando em consideração sua forma particular de fazer cinema, seus sucessos, fracassos, projetos pessoais, ousadias e trabalhos feitos por encomenda. Com entrevistas de atores, produtores e parceiros de trabalho, o filme constrói um painel bastante rico deste senhor de 58 anos, mas que ainda se veste e conversa como um adolescente apaixonado por cinema. Diante da lente dos documentaristas ele parece tão sincero falando de seus sucessos quanto dos seus fracassos, com destaque especial pela ousada proposta do premiado Boyhood (2014) filme que ele produziu por doze anos, acompanhando a passagem do tempo por seu menino protagonista e o resto do elenco (com direito a Oscar de atriz coadjuvante para Patricia Arquette), além da trilogia Before, onde acompanha periodicamente o relacionamento de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) - foram estes filmes que já renderam a Linklater cinco indicações ao Oscar. Sua busca por uma narrativa realista e que retrate a vida como ela se apresenta (de forma que sua direção fica quase invisível) deve ser sua maior obsessão, curiosamente, quanto o diretor se afasta deste estilo, maior é o risco de fracassar (foi assim com as produções de época Newton Boys/1998 e Orson Welles e Eu/ 2008). Por outro lado, não deixa de ser curioso como perceberam nele o melhor nome para dirigir o sucesso Escola de Rock (2003) e o interessante Bernie (2011), ambas parcerias com Jack Black. Prova de que Linklater não pensa cinema como a maioria de seus colegas foi quando enveredou pela animação, deixando muita gente filosofando com Waking Life (2001) ou O Homem Duplo (2006). Em vários momentos ele deixa claro que no trabalho pensa mais em contar histórias do que o custo de produção ou o retorno de bilheteria, suas preocupações são outras perante a sua arte e o público. Richard Linklater - Sonho é Destino consegue sintetizar bem a carreira do diretor e nos ajuda a compreender sua forma bastante pessoal de contar histórias, nem sempre elas alcançam os objetivos desejados por ele, mas sempre seguem por caminhos que o cinema americano não considera seguro. Para quem curte o diretor, o filme é um programa obrigatório, para quem não curte, pode ser o primeiro passo para entender a obra de um dos autores que ajudaram a dar corpo e alma ao cinema indie americano contemporâneo.
Linklater - Sonho é Destino (Richard Linklater - Dream is Destiny/EUA-2016) de Louis Black e Karen Bernstein com Richard Linklater, Ethan Hawke, Patricia Arquette, Jack Black, Ellar Coltrane e Matthew McConaughey. ☻☻☻☻
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