Dane e Pattinson: amizade baseada em fatos reais.
Anton Corbijn nasceu na Holanda em 1955, mas se tornou famoso como fotógrafo nos anos 1980. Além de ensaios fotográficos, ele também realizou clipes para astros da música e foi responsável pela capa de álbuns famosos (como o clássico The Joshua Tree do U2). No cinema ele estreou como diretor na condução de Control (2007), a cinebiografia de Ian Curtis, deixando claro que não estava disposto a fazer um cinema de mero entretenimento. Também foi assim quando utilizou o astro George Clooney em Um Homem Misterioso (2010) e depois Phillip Seymour Hoffman em O Homem Mais Procurado (2014), subvertendo as expectativas de quem aguardava filmes de ação desenfreada. Quando ele anunciou que filmaria o encontro de James Dean com o fotógrafo Dennis Stock, a crítica já sabia o que esperar. LIFE foi praticamente ignorado pelo público e premiações, mas é interessante por apresentar um James Dean banhado em melancolia. Na época do lançamento, o roteirista Luke declarou ter mais interesse pela personalidade de Dennis do que pelo ícone do cinema, afinal, é Stock o responsável pelo antológico ensaio para a revista LIFE que consolidou a imagem do ator quando ele ainda buscava um lugar ao sol de Hollywood. Reza a lenda que os dois se tornaram amigos após os dias em que conviveram para realizar as fotos. Stock percebia em Dean uma imagem diferente, algo que marcaria época, mas que ambos eram incapazes de definir ao certo o que era. A própria ideia para do ensaio veio aos poucos, com o fotógrafo querendo mostra-lo como um jovem do campo em sua transição para a cidade. Nesta jornada, uma visita à família de Dean no interior ajudou a consolidar de vez a imagem do astro e revelar um dos melhores aspectos do roteiro: as entrelinhas. Robert Pattinson tem um bom momento como Dennis Stock, sem medo de abraçar sua rigidez e vulnerabilidade mesmo nas cenas em que não faz a mínima ideia de como agir com o filho. Robert confere corpo e alma a um homem que desde cedo precisou se virar - mas que manteve a sensibilidade de captar belas imagens com sua lente. Seu parceiro de cena, Dane DeHaan compõe um James Dean distante do que idealizamos normalmente, mas que consegue demarcar bem a sua rebeldia quase inata e uma vulnerabilidade impertinente. Ele faz um bom trabalho de corpo e voz, que tenta constantemente escapar da mera imitação e ao lado de seu parceiro de cena, possui uma química que sustenta o filme com tranquilidade - e permite até uma leitura mais profunda se levarmos em consideração a bissexualidade de Dean (que chega a ser sugerida sutilmente em alguns diálogos). O filme constrói a amizade dos dois personagens aos poucos, sem pressa - e isso pode entediar alguns espectadores - mas se conclui como um retrato interessante de ambos os personagens, principalmente se levarmos em consideração que a trama está situada entre Vidas Amargas (1955) e Juventude Transviada (1955). O primeiro rendeu a primeira indicação ao Oscar aos 23 anos, o segundo o transformou em mito. Seu último filme veio logo depois, Assim Caminha a Humanidade (1956) que o consolidou de vez como estrela de cinema, ainda que morrendo precocemente num acidente de carro. Já Dennis Stock se tornou um dos fotógrafos mais importantes dos EUA, falecendo em 2010 aos 91 anos, contar a história do encontro destes dois artistas já é, por si só, interessante.
LIFE (Reino Unido / Canadá / Alemanha / EUA - 2015) de Anton Corbijn com Robert Pattinson, Dane DeHaan, Joel Edgerton, Ben Kingsley, Alessandra Mastronardi e Kristian Bruun. ☻☻☻☻
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