quinta-feira, 31 de maio de 2018

NªTV: The Americans - Temporada Final


Phil (Matthew Rhys) e Elizabeth (Kerri Russell): sintonia perfeita. 

Quando The Americans estreou no FX muita gente estranhou ver uma série ambientada nos anos 1980 que recriava o clima da guerra fria por dentro. De um lado estavam os espiões russos que viviam como um casal exemplar ao lado dos filhos, do outro estava o FBI sempre um passo atrás do astuto casal. Para piorar, um agente do FBI resolveu se mudar para a vizinhança e se torna amigo da família, sem fazer ideia de que o inimigo estava mais próximo do que pensava. No Brasil a própria emissora não sabia muito bem o que fazer com o programa, do horário nobre de domingo passou para as manhãs, ficou em cartaz na Netflix com três temporadas, depois foi fazer parte do catálogo do FOX Premium. No exterior, só na quarta temporada as premiações começaram a dar atenção para o casal Jennings, mas era compreensível, a cada ano a série (que sempre foi interessante) ficava melhor e o quarto ano foi o auge antes que os roteiristas começassem a dar forma ao arremate da história. Ótimos em cena, Keri Russell e Matthew Rhys deram sangue, suor e lágrimas para Elizabeth e Phillip - e os atores acabaram se casando na vida real, prova verídica da poderosa química existente entre eles. A cumplicidade entre os dois personagens fez com que a série enfatizasse cada vez mais que o verdadeiro suspense estava nos sentimentos que os personagens sentiam um pelo outro e, as maiores traições eram sempre mais afetivas do que por questões de Estado. Os Jennings viviam sempre no dilema da traição (e não estou falando de sexo), mas de algo maior, envolvendo seus contatos, amigos e até filhos. Afinal, em quem poderiam confiar? Os filhos tiveram destaques nas últimas temporadas, especialmente quando Paige (Holly Taylor) se tornava adolescente e descobriu o segredo de seus pais e começa a ser treinada pela mãe, por outro lado, o caçula Henry (Keidrich Sellati) estava alheio a tudo aquilo, se aproximando cada vez mais do vizinho do FBI, Stan Bateman (Noah Emerich) nas constantes ausências dos pais. Poucas vezes numa série se viu uma escalação de atores tão certeira que sustentasse a trama por anos (e isso inclui os vários coadjuvantes que morreram ou sumiram ao longo das temporadas de espionagem). A sexta temporada teve como missão amarrar o programa em seus elementos mais fundamentais e, assim como nas outras, mostrava missões arriscadas, mas que tinham como maior graça colocar à prova a astúcia e o casamento dos Jennings.

Os Jennings: família (quase) exemplar.

Nesta temporada a maior diferença ficou por conta de Phillip ter se afastado das missões, justamente quando a União Soviética passa uma transformação sócio-política e econômica, neste período a KGB começa a agir contra Gorbachev. Se Phillip estava cada vez mais em dúvida sobre seus ideais, estava na hora de Elizabeth começar a questionar os rumos de sua vida também. A série criada por Joseph Weisberg a partir de sua própria experiência no FBI sempre tomou cuidado para deixar um tanto nebulosa esta relação entre as ideologias americanas e soviéticas, sempre contrapondo pontos de vistas e questionando certezas de seus personagens, mas Elizabeth sempre foi uma rocha em suas convicções. Neste contexto a última temporada poderia seguir por dois caminhos distintos, mas escolheu seguir o mais sutil, o mais sofrido e melancólico, cujo o último capítulo é conduzido por uma catarse silenciosa que ecoa da primeira até a última cena. A ideia que perpassou toda a temporada foi da solidão, seja de Henry sozinho em sua escola renomada, de Paige na Universidade, de Elizabeth solitária em suas missões e Phillip querendo ajustar uma vida ao american way num ponto onde não era mais possível. Curiosamente o que começa a despertar as desconfianças do vizinho é justamente quando o casal se distancia cada vez mais dele. As pistas que sempre estavam em seu ponto (subjetivamente) cego pela amizade começam a se encaixar e o resultado é de uma tristeza acachapante. Segue então a certeza de que os Jennings não podem ser uma família completa na Rússia, o último encontro com o amigo americano - e as palavras são ditas cuidadosamente para não machucarem mais do que uma arma. O que vemos ali são duas lógicas, duas verdades traídas e a sensação de que só podem confiar um no outro, para ironicamente em seguida uma suspeita mais cruel se instaurar na mente do agente Bateman. A tensão da cena é exemplar e dita o tom melancólico ao resto do episódio (e embalado por Brothers in Arms do Dire Straits e With or Without you do U2 , tudo soa ainda mais emocional). Existe uma mudança de tom considerável entre o primeiro episódio do programa e o último. Tudo parece mais melancólico, incerto e sombrio... e era 1987. 

Sean (Emmerich) e a nova esposa (Laurie Holden): confiança em dúvida. 

The Americans (EUA / 2013-2018) de Joseph Weisberg com Kerri Russell, Matthew Rhys, Holly Taylor, Noah Emmerich, Keidrich Sellatti, Margo Martindale, Costa Ronin e Lev Gorn. ☻☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário