Marie e Elbaz: comédia romântica invertida.
Não tive muito tempo para ver filmes e escrever aqui no blog nos últimos dias, foram semanas muito cansativas, mas agora parece que tudo será mais tranquilo. Diante desta lacuna em minha realidade cinéfila, um dos filmes mais comentados por minhas amigas foi este Eu Não Sou Um Homem Fácil, comédia romântica francesa que está em cartaz na Netflix e fazendo sucesso, especialmente pela forma como inverte a lógica de uma sociedade patriarcal. O filme conta a história de Damien (Vincent Elbaz), um típico macho alfa seguro de seu status e apelo junto à mulherada. No início o filme não se aprofunda muito na personalidade do personagem, aproveitando para explorar seu caráter a partir de um aplicativo hediondamente machista criado por ele para contar conquistas sexuais, feito apenas para homens. A concepção um tanto grotesca do produto não agrada muito a diretora administrativa da empresa e ele fica bem nervoso. Ainda assim, parece que está tudo bem, até ele bater com a cara num poste e embarcar numa espécie de mundo paralelo onde as mulheres estão no comando. A partir daí, a diretora Éleonore Pourriat cria um filme de uma piada só que tem como maior desafio explorar os detalhes deste mundo tão estranho para Damien. É interessante como o filme mostra a inadequação do protagonista a este mundo e como, aos poucos, ele vai se ajustando aos fatos que costumam acontecer sobre ele. A cena em que uma mulher se recusa a transar por conta dos pelos dele não chega a ser absurda de acontecer em nosso mundo (sim, isso já ouvi relatos sobre isso...) mas o formato como ele depila os pelos é hilariante de tão sugestivamente obscena! Gosto quando o filme investe nestes pontos mais sutis, como o clássico Madame Bovary se tornar Monsieur Bovary na estante ou quando ele passa a usar roupas cada vez mais curtas para mostrar as pernas e atrair a atenção da mulherada dominante. Quando surge a personagem Alexandra (Marie Sophie-Ferdane) o filme perde um pouco do fôlego e se torna mais previsível. Sabemos que ela é a versão feminina do homem cafajeste que coleciona amantes (e guarda uma bolinha de gude para cada conquista que possui na estante da sala) e que Damien irá se apaixonar por ela e relevar qualquer deslize que ela possa cometer. Embora o ambiente continue a ser o mesmo com suas provocações sobre fatos triviais de uma sociedade dominada por homens, ainda que adaptada para um mundo invertido, todo mundo já sabe onde aquilo vai dar. Se Elbaz convence nas transições de seu personagem, Marie Sophie utiliza de uma canastrice proposital para expor o quanto você já conheceu Alexandras cheias de testosterona por aí. Há quem reclame que o filme não explora como aquela sociedade surgiu, mas isso é o que menos importa - na brincadeira é só lembrar como o homem decidiu que era superior e pronto, não faz muito sentido mesmo. O final funciona como um belo desfecho para a história. Talvez estes dois mundos paralelos realmente existam e, talvez, entre tantos outros, existam um em que homens e mulheres vivam em uma sociedade igualitária sem que um subjugue o outro aos seus caprichos. Se você curtiu a ideia, vale conferir o filme canadense Proibido Homens (2015) que aborda esta mesma temática de forma ainda mais surpreendente.
Eu Não Sou um Homem Fácil (Je ne Suis pas un Homme Facile/França-2018) de Éleonore Pourriat com Vincent Elbaz, Marie Sophie-Ferdane, Pierre Benezit e Moon Dailly. ☻☻☻
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