Diane Kruger: premiada em Cannes.
Embora faça filmes regularmente desde 2001, coube à Diane Kruger o desconfortável papel de enfeite na maioria de seus filmes. A coisa parecia mudar um pouco quando ela foi indicada ao prêmio do Sindicato de Atores (SAG Awards) em 2010 por seu bom trabalho como a estrela do cinema alemão Bridget Von Hammersmark em Bastados Inglórios de Quentin Tarantino. Infelizmente, o que poderia ter sido um divisor de águas em sua carreira, manteve sua carreira no mesmo ritmo, sem papéis desafiadores. Espero que a situação da atriz mude após ela levar para a acasa o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes do ano passado por Em Pedaços. O novo filme do diretor Fatih Akin era um dos favoritos a concorrer uma vaga ao Oscar de Filme Estrangeiro deste ano, mas acabou ficando de fora, mesmo levando o Globo de Ouro na mesma categoria (e Diane aparecer toda modesta ao lado do diretor para receber o prêmio). Akin tem vários filmes no currículo e, em sua maioria, explora a tensão entre turcos e alemães em suas histórias (foi assim em seus filmes mais conhecidos até agora, os densos Contra a Parede/2004, Do Outro Lado/2007 e mesmo na comédia Soul Kitchen/2009 isso aparecia). Em Pedaços atualiza um pouco mais esta tensão, resgatando um fantasma antigo da Alemanha que se fortalece cada vez mais no século XXI: o nazismo. Em Pedaços gira em torno de Katja (Kruger), mulher casada com um ex-presidiário (Numan Acar), condenado por tráfico de drogas, mas que reconstruiu sua vida ao lado da esposa e do filho, Rocco (Rafael Santana). Tudo muda na vida da personagem, quando uma bomba explode em frente ao trabalho do esposo. Entre as vítimas, seu marido e filho faleceram instantaneamente. Começa então a jornada de Katja por justiça, no entanto, Akin não segue os caminhos convencionais de um filme de tribunal para construir a história. Desde o início a intolerância e o preconceito aparecem na abordagem do caso e se intensifica ainda mais com a identificação do casa suspeito pelo atentado. Pesa ainda na narrativa o fato de Katja usar drogas variadas e as cenas de tribunal utilizarem descrições bastante cruas e realistas sobre o que aconteceu com seus familiares na hora da explosão. São nestes momentos que Diane Kruger cataliza todas estas sensações numa atuação complexa, que envolve o público, mesmo longe de ser a típica mocinha que aparece neste tipo de filme. Também ajuda a prender a atenção o elenco de apoio desconhecido, mas que impressiona. Fatih Akin cria aqui seu filme mais enxuto, sem exageros de qualquer espécie, alcançando um resultado seco e impactante, seja quando surge o veredicto e o terceiro ato segue desesperado rumo ao desejo de vingança. Durante a narrativa não existe alívio para os personagens ou a plateia, seguindo o tom de uma verdadeira tragédia (e não por acaso o filme parte para a Grécia em sua parte final). Em Pedaços é um doloroso filme sobre perda, mas também sobre sacrifício e barbárie num mundo que se encaixa cada vez mais no que o título anuncia.
Em Pedaços (Aus dem Nichts/2017) de Fatih Akin com Diane Kruger, Numan Acar, Denis Moschitto, Johannes Krisch, Ulrich Tukur e Ulrich Brandhoff. ☻☻☻☻
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