terça-feira, 8 de maio de 2018

PL►Y: A Cura

Dane: curando o mal estar com... mal estar?

Ninguém pode se chamar Gore impunemente! Gore Verbinski começou sua carreira com o inofensivo Um Ratinho Encrenqueiro (1997), desde então o homem fez de tudo. É diretor dos três primeiros filmes da série Piratas do Caribe (2003, 2006 e 2007), fez o remake americano de O Chamado (2002), ganhou um Oscar pela (ótima) animação Rango (2011), misturou Julia Roberts e Brad Pitt e amargou o fracasso de A Mexicana (2001) e promoveu o fiasco O Cavaleiro Solitário (2013), que eu adoro! Mas Gore (por acaso o nome do subgênero de terror sanguinolento e cheio de vísceras) também aspirou ser sério e conseguiu uma das últimas atuações de verdade de Nicolas Cage em O Sol de Cada Manhã (2005). Se você acompanha a carreira deste diretor nascido no Tennessee, irá perceber que sua filmografia não cabe muito dentro da caixinha, sendo geralmente uma coleção de roteiros cheio de ideias, na maioria das vezes apresentadas de forma confusa e com pitadas de humor negro. Em sua última obra, ele segue a mesma cartilha que pode ser irregular, mas que confere uma identidade única ao seu olhar como diretor. A Cura começa como uma espécie de crítica ao pensamento do sucesso a qualquer preço no mundo corporativo. No início um personagem parece trabalhar após o expediente e acaba tendo um infarto, este é apenas o começo da história do executivo Lockhart (coração trancado?) vivido por Dane DeHaan. Ele só pensa no trabalho e no lucro que pode proporcionar à empresa em que trabalha. Sua vida social praticamente não existe e mesmo quando está num carro ou trem, ele está conectado para continuar fazendo o que faria no escritório. Considerando que busca apenas ser o melhor funcionário que conseguir, ele considera seu estilo de vida mais do que natural para um sujeito dedicado que planeja ser bem sucedido. Talvez por tamanha dedicação ele foi indicado para buscar um executivo do alto escalão da empresa que precisa assinar uma transação ambiciosa. No entanto, chefão se encontra numa espécie de retiro nos Alpes Suíços, no que todos acreditam ser um SPA para meditação e tratamento do que já foi chamado de mal estar da contemporaneidade. Meio a contragosto, Lockhart aceita o desafio e acredita que logo estará em casa, ou melhor, no escritório... mas uma sucessão de acontecimentos o deixará confinado no tal SPA localizado em um castelo e repleto de histórias sobre os antigos proprietários do lugar. De tom sombrio e pausado, A Cura se perde quando começa a embaralhar mistérios demais e o que poderia ser uma bem vinda crítica aos radicalismos do século XXI se torna uma obra um tanto confusa com todas as pontas que precisa amarrar até o final. Existem ideias demais para serem trabalhadas, mesmo tendo huas horas e vinte minutos de duração, o filme se perde no meio delas e nem a edição engenhosa com bons efeitos sonoros dá conta. Sobram algumas cenas gratuitas e outras apenas grotescas, deixando a sensação de que o filme costurou duas histórias que não se casam muito bem e, por isso mesmo, uma delas parece estar sobrando. Infelizmente é a história menos interessante que toma conta do filme, o que poderia ser uma crítica social se torna apenas mais um filme de suspense confuso e pretensioso. Resta curtir os talentos do veterano Jason Isaacs (que nunca recebeu a atenção merecida) e o novato Dane DeHaan, que aos poucos deixa de ser uma versão mais jovem de Leonardo DiCaprio. 

A Cura (A Cure for Wellness/EUA-Alemanha/2016) de Gore Verbinski com Dane DeHaan, Jason Isaacs, Mia Goth, Ivo Nandi, Harry Groener, Magnus Krepper e Celia Imrie. ☻☻☻

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