Michelle e Mark: um filme no olho do furacão.
Considerado um dos filmes mais aguardados entre os lançamentos da temporada de ouro do ano passado, Todo o Dinheiro do Mundo acabou mais falado por sua atribulada pós-produção do que por suas qualidades cinematográficas. Dirigido por Ridley Scott e inspirado no sequestro do adolescente John Paul Getty III, o filme se viu no meio da repercussão dos casos de assédio sexual de Kevin Spacey. O episódio rendeu o cancelamento da exibição do filme em festivais e um verdadeiro impasse para o seu diretor, que diante do quase engavetamento do filme, resolveu substituir Spacey por Christopher Plummer através de inserções digitais e refilmagens. Para quem achava esquisita a maquiagem utilizada para envelhecer o rosto de Spacey, a escalação de Plummer foi um verdadeiro alívio! Plummer se preparou e realizou as filmagens em tempo recorde (nove dias) e se tornou a melhor coisa do filme - sendo indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro de ator coadjuvante. Com o filme nos cinemas, outra polêmica o atrapalhou: descobriram que Michelle Williams (atriz com quatro indicações ao Oscar) não havia recebido um centavo pelas filmagens adicionais, enquanto Mark Wahlberg (aluno indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante por Os Infiltrados/2006) havia recebido uma quantia adicional por seu trabalho extra ao lado de Plummer. O filme se viu em meio a outra situação que deu o que falar em Hollywood: a diferença do tratamento entre homens e mulheres na indústria. Houve tanta confusão em torno dos bastidores do filme que todos já estavam um tanto exaustos de falar sobre ele. Passada toda a confusão, vale a pena conferir o filme que é bastante eficiente ao contar uma história real que revela os bastidores de um dos sequestros mais famosos da história! O adolescente Paul Getty (vivido por Charlie Plummer, que apesar do nome não é parente de Christopher) é neto do bilionário (magnata do petróleo) Jean Paul Getty (Plummer) e foi sequestrado na Itália em 1973. Obviamente que seu avô poderia pagar o resgate, mas Jean imaginava no precedente que aquilo abriria - colocando em risco a vida de seus outros filhos e netos, sendo assim, ele decidiu resgatar o neto de outra forma. Para assumir o risco ele conta com a ajuda do agente de segurança Fletcher Chace (Mark Wahlberg) que passa a ajudar no caso. Embora Fletcher esteja próximo da mãe de Paul, Gail (Michelle Williams), fica claro desde o início que seu objetivo é preservar os interesses do empresário, que nem sempre pendem para a segurança do neto. Ridley Scott conduz a narrativa com cenas de flashback e outras digressões que ajudam a entender melhor os personagens desta engrenagem. Plummer tem grande êxito ao explorar a visão de mundo de um dos homens mais ricos do mundo, assim como Michelle Williams transparece toda a angústia da falida Gail, que se torna vítima de um mundo que pensou já ter deixado para trás. Ela parece a única que tem como grande motivação recuperar o filho, que aos poucos é inserido num jogo de troca de interesses de consequências bastante cruéis (e Scott revira nosso estômago no que seria o ápice da maldade dos sequestradores). O corpo estranho nesta história toda é Mark Wahlberg, que pode até encaixar quando o filme flerta com o suspense e a ação, mas não acerta o tom quando o roteiro lhe exige algo mais do que ser um brucutu. Todo o Dinheiro do Mundo tenta ser diferente de outros filmes de sequestro quando expõe a lógica de seu personagem bilionário, fora isso se beneficia do bom ritmo impresso pela direção e do bom trabalho de Michelle e Christopher em suas atuações antagônicas - que funcionam como uma triste analogia sobre o valor do dinheiro e das pessoas.
Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World/EUA - Itália / 2017) de Ridley Scott com Michelle Williams, Christopher Plummer, Mark Wahlberg, Romain Duris, Timothy Hutton, Charlie Plummer e Marco Leonardi. ☻☻☻
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