Os Crawley e seus criados: visita ilustre em episódio gigante.
Criada em 2010 a série Downton Abbey se tornou uma febre mundial remando contra o formato da maioria das séries de sucesso. Não havia crimes, espionagens, cenas de ação, terror ou piadas seguidas de risadas. Se tratava de uma história de época, com figurinos impecáveis, cenários imponentes e um climão dos filme ingleses dos anos 1990. O sucesso do programa mudou paradigmas (possivelmente não existiria The Crown na Netflix) e mostrou que ainda existia público para um tipo de produção que quase não tem mais espaço no cinema. Criado por Julian Fellowes, a série parecia uma releitura mais espirituosa do filme Gosford Park/2001, que rendeu para Julian o Oscar de melhor roteiro original (e apesar de ser dirigido por Robert Altman, carregava muito do cinema que James Ivory realizava na década anterior). A série seguia a rotina de uma família aristocrata na Inglaterra no início do século XX em meio a guerras, crises e transformações no mundo ao seu redor. O fio condutor da série sempre foi evitar a decadência dos Crawley, mas sem perder de vista os romances e dramas dos personagens, sejam eles os patrões ou os empregados que mantinham aquela mansão de pé com todo o conforto que a família ostentava. A série foi sucesso de público e crítica, recebeu vários prêmios (3 Globos de Ouro, 15 Emmys, 2 BAFTAS...) e realizou ousadias (como matar personagens queridos sem fazer cerimônia - lembro da minha irmã revoltada e até meu pai chorando quando uma personagem faleceu). Ao longo de seis temporadas muita coisa aconteceu, mas não escondeu possibilidades de outras histórias para aqueles personagens. Dirigido por Michael Engler (diretor de episódios da série e de um filme chamado The Chaperone/2018 estrelado por Elisabeth McGovern) o filme é um verdadeiro presente para os fãs do seriado. O longa retoma as histórias dos personagens a partir de um acontecimento: os Crawley receberão a visita da família real britânica! Assim, todos se envolvem com os preparativos e algumas situações que acontecem ao redor da visita. Todo o elenco principal está de volta, Hugh Boneville volta na pele do patriarca Robert Crawley, Elisabeth McGovern interpreta a matriarca Cora, Michelle Dockery e Laura Carmichael retornam como as filhas casadas Lady Mary e Lady Edith (e diante das várias subtramas que existem é Edith que recebe mais destaque). Com mais de uma dúzia de personagens importantes, era de se esperar que alguns ficassem em segundo plano, sem muito espaço nas duas horas de duração. Existem subtramas envolvendo o viúvo irlandês Tom Branson (Aleen Leech), uma questão de herança com a sempre mordaz Violet (Maggie Smith), mas boa parte da trama é sobre a insatisfação dos empregados de Downton ao cederem espaço para os empregados reais que se apoderam dos preparativos das refeições durante a visita. Se todos esperavam ter a honra de preparar banquetes para a realeza, agora eles precisam lidar com a arrogância da equipe do castelo na mansão. Neste ponto o mordomo Carson (Jim Carter) retorna, o que deixa o antes vilanesco Thomas Barrow (Robert James-Collier) enraivecido (mas com tempo para ter sua sexualidade explorada na história após ter ficado um tanto esquecida na série). O resultado deixa de lado o que a série tinha de mais dramático e investe mais no humor na criação de um reencontro com aqueles personagens. A estética da série volta a encher os olhos e embora o filme utilize ângulos e planos que valorizam a extensão da telona com cenários e paisagens, o sabor do filme é de uma colagem de novos episódios da série assinada pelo próprio Julian Fellowess. Vale destacar que todo o elenco continua impecável e parece disposto a revisitar os personagens de vez em quando em novos filmes.
Downton Abbey - O filme (Downton Abbey - Reino Unido / EUA - 2019) de Michael Engler com Hugh Bonneville, Michelle Dockery, Elixabeth McGovern, Maggie Smith, Jim Carter, Robert James-Collier, Aleen Leech, Lesley Nicol, Imelda Staunton, Phyllis Logan e Matthew Goode. ☻☻☻
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