Tom (Pekka Strang): história de um ícone fetichista.
Touko Valio Laaksonen nasceu na costa da Finlândia e se interessou por arte desde criança. No entanto, quando Stalin invadiu a Finlândia na Segunda Guerra Mundial, Touko foi para o campo de batalha e foi assombrado pelos fantasmas da guerra por muito tempo. Por outro lado, aquele universo de homens fortes e uniformizados o fez ter certeza dos caminhos que sua sexualidade seguiria. Passada a guerra e com um emprego seguro no mercado publicitário, o tímido e reservado Touko precisava expressar seus desejos de alguma forma e passou a fazer isso através de desenhos de homens musculosos, com uniformes sugestivos de couro e bastante fetichismo. Rebatizado de Tom (com o objetivo de preservar sua identidade num país extremamente conservador) ele começou a ganhar fama em países da Europa e Estados Unidos e ao longo do tempo seus desenhos homoeróticos foram absorvidos pelo mundo pop, sobretudo sua estética (cheia de botas, couro e óculos escuros) que serviu de inspiração para George Michael, Madonna e Right Said Fred, além de inúmeros editoriais de moda. Quando o diretor finlandês Dome Karukoski (que recentemente filmou Tolkien/2019, a cinebiografia de J.R.R. Tolkien) criou para si a tarefa de contar a história de um artista tão peculiar, sabia que embarcava em um projeto que mexia com fantasias, expectativas e preconceitos, mas o resultado é tão bem sucedido que foi selecionado pelo seu país para disputar uma vaga no Oscar de Filme Estrangeiro de 2018 (e ficou de fora, claro). O filme Tom of Finland cria um retrato bastante interessante de seu biografado e, o mais interessante, o faz com bastante discrição. É verdade que os mais conservadores irão ficar incomodados com uma cena aqui e outra ali - e os mais animados irão sentir falta de cenas mais explícitas -, mas no geral, o filme é bastante interessante ao retratar o tratamento aos homossexuais no pós-guerra e apresentar como se construiu o imaginário de Tom. Durante todo o filme as figuras de autoridade (e seus uniformes) aparecem várias vezes até se mesclarem com o universo de outra fonte de inspiração de seus desenhos: os motoqueiros. A construção deste universo gráfico abraçado pela cultura gay do século XX é contada paralela ao relacionamento de Toiko (um ótimo trabalho do ator Pekka Strang) com a irmã (Jessica Grabowski) e (Lauri Tilkanen), que torna-se companheiro fiel ao longo da vida de Tom. Entre festas clandestinas, publicações proibidas e uma fama crescente, Tom of Finland apresenta vários momentos em que a hipocrisia de um mundo regido por aparências se torna sufocante. Do preconceito por suas obras, sua consagração entre o público gay, a absurda associação de seus desenhos com a proliferação da AIDS nos anos 1980 até a última cena ao som de batidas eletrônicas, existem momentos quase surreais em que em que seus personagens ganham vida através dos fãs que o cercam. Tom of Finland é um filme interessante e até revelador.
Tom of Finland ( Finland - Sweden - Denmark - Germany - Iceland - USA/2017) de Tom of Finland com Pekka Strang, Jessica Grabowksi, Lauri Tilkanen, Taisto Oksanen, Fabian Puregger, Jakob Oftebro e Jimmy Shaw. ☻☻☻☻
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