Blanchett: mulher de sucesso em crise existencial.
De temperamento difícil e com tendência para a reclusão, Bernadette Fox não é uma pessoa fácil de se conviver. Se você a conhecer pessoalmente, provavelmente irá considerar que ela é apenas uma mulher antipática que tem problemas com a vizinha ou que apenas é uma mulher insatisfeita com alguma coisa (que nem ela sabe direito o que é). No entanto, ao ser interpretada pela sempre interessante Cate Blanchett e dirigida por Richard Linklater, a personagem recebe novas camadas numa história que oscila entre o drama e a comédia com um raro equilíbrio (pelo menos até sua última parte - quando a história interessante se resume a uma reconciliação familiar). Enquanto parece tentar nos fazer rejeitar aquela personagem (e Cate tenta fazer isso com o maior gosto e um bocado de charme) as partes seguintes nos faz entender um pouco mais a história daquela mulher que vive em uma casa ainda em construção com o marido (Billy Crudup) e a filha (Emma Nelson). Descobrimos que Bernadette Fox era um dos nomes mais celebrados da arquitetura e os depoimentos sobre sua genialidade, em formato de documentário no decorrer do filme, é um dos destaques da sessão (e que lembra o que o diretor já vez no subestimado Bernie/2011). Aos poucos a protagonista se torna mais complexa e à beira de um ataque de nervos. O marido parece não se dar conta do que está acontecendo, mas uma pendenga com uma vizinha (Kristen Wiig) irá deixar mais evidente que algo não está bem com Bernadette, ao ponto dela correr o risco de cair num verdadeiro golpe do mundo moderno. Com grande dificuldade de construir vínculos afetivos, sua postura é vista por muita gente como excêntrica, mas na verdade esconde uma crise emocional prestes a explodir. Quando ela se depara com sua própria situação é interessante como o roteiro (baseado no livro de Maria Semple) opta por um caminho diferente do que vemos neste tipo de história. Bernadette parte rumo a descobrir novos sentidos, outras motivações e segue por caminhos inusitados. Neste ponto, Cate Blanchett tira de letra uma personagem que deve processar seus sentimentos e seguir em frente, mas o filme tropeça justamente quando o marido e a filha partem em busca dela e o filme perde ritmo (me parece que um reencontro no final já estaria bom). Talvez o problema seja o brilhantismo da atriz que torna seu trabalho o maior atrativo de filme, afinal, embora filme tenha um bom roteiro, trata-se do tipo de texto complicado que pode facilmente gerar rejeição da plateia pela postura de sua protagonista. Com Cate à frente, Cadê Você, Bernadette? vai além da esposa que "desapareceu no estreito de Galarche", e se torna a história de uma mulher em busca de si mesma (o que é muito mais interessante).
Cadê Você, Bernadette? (Where'd you go, Bernadette? EUA - 2019) de Richard Linklater com Cate Blanchett, Billy Crudup, Emma Nelson, Kristen Wiig, Steve Zahn e Laurende Fishburne. ☻☻☻☻
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