Mindy e Emma: os opostos de complementam.
É sempre bom lembrar que a inglesa Emma Thompson tem dois Oscars na estante, o primeiro foi recebido em 1993 por sua atuação no drama Retorno a Howards End (1992), da época em que ela começava a se consolidar no cinema (e se você procurar no Youtube verá como ela ficou surpresa quando foi premiada). Emma ainda colheria duas indicações ao prêmio em 1994 (atriz por Vestígios do Dia e atriz coadjuvante por Em Nome do Pai), mas ganharia outra estatueta somente em 1996 por Razão e Sensibilidade, que embora tenha lhe rendido mais uma indicação ao Oscar de atriz, lhe premiou pelo roteiro adaptado da obra de Jane Austen (de quebra ela levou o taiwanês Ang Lee para Hollywood, uma verdadeira ousadia para um filme pautado num clássico da literatura inglesa). No entanto, pouca gente sabe que diante de tanto reconhecimento por seus dotes dramáticos, Emma começou a carreira como coadjuvante em séries da TV britânica e, de vez em quando, a atriz se arrisca em uma comédia. Embora esteja longe do auge de sua carreira, Emma ainda é uma atriz interessante, versátil e que consegue transitar fácil da comédia para o drama em seus trabalhos. Por Talk Show: Reinventando a Comédia ela foi lembrada na categoria de melhor atriz de comédia no Globo de Ouro e não é difícil entender o motivo. Para gostar do filme, comece esquecendo o horroroso acréscimo no título nacional, não existe reinvenção nenhuma da comédia, e sim um processo de reinvenção de uma premiada apresentadora de televisão que vê sua audiência caindo cada vez mais. Ela é Katherine Newbury (Thompson), entrevistadora de prestígio que com o passar do tempo perdeu a sintonia com o público, se tornou sisuda, prepotente e até zomba de alguns entrevistados. Se de início percebemos que ela é uma megera, principalmente com sua equipe de roteiristas, não podemos deixar de perceber o quanto ela é inteligente, tem uma língua afiada, mas está muito desgostosa com o tipo de celebridades e entretenimento que surgem hoje. Ela se nega a mudar por motivos de princípios, mas com o risco de demissão iminente, ela se dá conta que talvez ela possa conduzir seu programa (e a vida) com mais leveza. Neste ponto, a presença de uma nova roteirista em sua equipe é fundamental. Molly Patel (Mindy Kaling) é não apenas a única mulher do grupo de escritores de seu programa, como também injeta um tanto de diversidade cultural no grupo. Com ascendência indiana, Molly conquista aos poucos seu espaço e a confiança da desconfiada Katherine. No entanto, o relacionamento de Molly com a chefe é sempre, digamos... delicado. Se Thompson acerta na armadura de sua personagem, Mindy faz o de sempre, é leve, despretensiosa e torna impossível não simpatizar e torcer por ela. O resultado é um filme que lança um olhar curioso sobre o entretenimento nos dias atuais e também, não chega a se aprofundar muito no tom de crítica, ao contrário, da metade em diante segue um ritmo bastante previsível com um escândalo na vida pessoal da apresentadora. As duas atrizes carregam o filme numa boa, tendo em volta um elenco coadjuvante majoritariamente masculino bastante eficiente. Talk Show não vai reinventar o gênero, mas diverte, faz pensar (ainda que um pouquinho) e serve para passar o tempo sem maiores complicações.
Talk Show: Reinventando a Comédia (Late Night / EUA - 2019) de Nisha Ganatra com Emma Thompson, Mindy Kalling, John Lithgow, Hugh Dancy, Reid Scott, Denis O'Hare, Max Casella, Paul Walter Hauser, Megalyn Echikunwoke e Amy Ryan. ☻☻☻
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