Tiesel e Jonas: bebendo com o inimigo.
Fritz Honka (Jonas Dassler coberto de próteses) é um homem solitário que quando não está no trabalho está gastando seu dinheiro no bar do título (ou cometendo atrocidades). Entre os clientes do bar está um conjunto de pessoas tão solitárias quanto ele, prostitutas de faixa etária variada e alcoólatras. As conversas são ásperas e paira uma certa melancolia no ar, uma desesperança que é quase consensual. O que aqueles frequentadores não suspeitam é que o estranho Fritz é na verdade um serial killer, que leva mulheres para seu apartamento e em momentos de total descontrole as agride até a morte - para depois esconder os corpos e evitar maiores consequências. Esta é praticamente a rotina do filme O Bar da Luva Dourada, filme do diretor Fatih Akin - que demonstra mais uma vez ser um cineasta imprevisível. Celebrado por filmes dramáticos sobre situação de personagens turcos na Alemanha como em Contra a Parede (Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2004), Do Outro Lado (eleito o melhor roteiro no Festival de Cannes 2007) e do recente Em Pedaços (ganhador do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro de 2017), mas Akin já demonstrou que sabe ser mais leve em Soul Kitchen (2009) mas aqui ele quer provar que pode exagerar da forma mais grotesca ao contar uma trama baseada em fatos reais. O filme abusa de cenas chocantes e costuma ser bastante explícito ao retratar a rotina de Fritz Honka - mas embora tenha cenas de sexo e nudez, não há nenhum sinal de erotismo destas cenas. Seus personagens vivem num recanto sombrio da Alemanha na década de 1970 e, em alguns momentos, contrastam com o mundo fora daquele universo. Há quem considere que o exagero tenha conferido à narrativa um tom cômico, mas não vejo desta forma, no máximo ele investe doses generosas de ironia (e em alguns momentos esta "ironia" é a salvação de vítimas em potencial do protagonista). O pouco conhecido Jonas Dassler demonstra talento (e bastante coragem) para viver o protagonista, afinal, além de ter seu corpo exposto sem qualquer glamour, sua pesada maquiagem não impede que possamos perceber o quanto ele é expressivo (e convincente de aos 26 anos viver um homem mais velho), reparem como os olhos dele refletem o que se passa na cabeça perturbada de Honka. Em alguns momentos me fez lembrar o que Lars Von Trier fez com A Casa que Jack Construiu (2018), só que Akin é mais conciso e só investe nas fantasias quando o personagem se rende aos delírios envolvendo açougue e carne crua. É um filme para poucos, mas que pode despertar interesse como uma história de horror urbana e realista, pena que em nome da transgressão o diretor deixou de lado camadas que poderiam enriquecer ainda mais o texto baseado no best seller de 2016 escrito por Heinz Strunk.
O Bar da Luva Dourada (Der Goldene Handschuh / Alemanha - França / 2019) de Fatih Akin com Jonas Dassler, Adam Bousdoukos, Margarete Tiesel, Katja Studt, Marc Hosemann e Hark Bohm. ☻☻
O Bar da Luva Dourada (Der Goldene Handschuh / Alemanha - França / 2019) de Fatih Akin com Jonas Dassler, Adam Bousdoukos, Margarete Tiesel, Katja Studt, Marc Hosemann e Hark Bohm. ☻☻
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