Elisabeth: desmascarando um personagem clássico.
O Homem Invisível era o filme que eu estava prestes a assistir quando os cinemas fecharam por conta da pandemia. O filme estava começando sua carreira ao redor do mundo quando sofreu um duro golpe, no entanto, manteve o sucesso ao ser liberado para on demand e posteriormente para exibições em drive-in. Meu interesse pelo filme já começa por sua protagonista, Elisabeth Moss, uma das atrizes mais interessantes dos EUA e que aqui tem seu primeiro papel em uma uma grande produção. Além disso, houve comentários de que colaborou com o diretor e roteirista para deixar a história ainda mais contemporânea e com novas camadas, assim, se você tinha receio de ver mais do mesmo de um personagem inspirado no clássico personagem de H.G. Wells lançado em 1897, não precisa se preocupar! O personagem recebeu várias versões para o cinema, sendo a mais recente a de Paul Verhoeven em 2000 (protagonizada por Kevin Bacon e Elisabeth Shue - gente, o Invisível tem um fetiche por Elisabeths?), mas o diretor Leigh Whannel resolveu fazer diferente vinte anos depois. Em comparação com o livro, o filme compartilha o cientista interessado em estudos de ótica que descobre uma forma de se tornar invisível aos olhos humanos - só que explora este aspecto dentro do contexto de um relacionamento abusivo. Quando o filme começa não entendemos muito bem o que está acontecendo com Cecilia (Elisabeth Moss), até entendermos que ela está fugindo do marido. Nesta tarefa ela conta com a ajuda da irmã Emily (Harriet Dyer) e do amigo James (Aldis Hodge), que a abriga em sua casa para não levantar suspeitas. No entanto, Cecilia tem tanto medo de ser descoberta que seu comportamento segue amedrontado. Entra em pânico quando a amiga a visita, treme ao ter que sair de casa e se alguém se aproxima ela imagina que foi descoberta. O roteiro não entra em detalhes sobre a realidade daquele casamento, mas a interpretação de Moss cria a exata medida do horror que a personagem vivenciou. Ainda que ele não esteja fisicamente ali, ela sente que é observada e vive em constante ameaça (num retrato brilhante do trauma que um relacionamento abusivo é capaz de provocar). Mas o filme precisa seguir por outros caminhos e o faz primeiro de forma sugestiva (com a câmera parada diante de uma cadeira ou de uma parede, como se houvesse realmente um personagem ali - e, estranhamente, você será capaz de sentir que realmente existe alguém diante da câmera) e depois duvidando da sanidade de Cecilia que acredita ser perseguida e logo depois se ver diante de uma armadilha. O filme impressiona pela substância que consegue dar à trama voltada para um personagem manjado, ancorado em um medo que cresce aos poucos, com efeitos especiais nos lugares certos, uma das cenas de luta mais angustiantes do ano e muita habilidade para preencher o imaginário do espectador. O australiano Leigh Whannel, que foi um dos criadores das tramas de Jogos Mortais (que no original de 2004 se defendeu muito bem como ator) e Sobrenatural (2010), faz tudo certinho no suspense que apresenta aqui (há um tropecinho no roteiro, mas não chega a estragar a diversão) e conta com o talento de uma atriz espetacular para convencer o espectador de tudo que precisa nas reviravoltas que a trama oferece (não ficarei surpreso de ver Elisabeth Moss figurando nas premiações por este trabalho). Com texto engenhoso, O Homem Invisível é uma releitura bastante contundente de um personagem clássico e merece ser visto.
O Homem Invisível (The Invisible Man / EUA -2020) de Leigh Whannel com Elisabeth Moss, Harrier Dyer, Aldis Hodge, Oliver Jackson-Cohen, Storm Reid e Michael Dorman. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário