Ansel: crescendo entre altos e baixos.
A grande aposta da Warner para as premiações do ano passado naufragou assim que foi lançado. Baseado em uma obra ganhadora do Pulitzer, com elenco robusto e bela fotografia, O Pintassilgo viu suas chances de sucesso naufragarem assim que os críticos detonaram a produção e o público não compareceu aos cinemas. O resultado foi uma estreia que arrecadou modestos 2,7 milhões e que mal conseguiu dobrar este valor enquanto esteve em cartaz nos Estados Unidos (o filme rendeu um prejuízo de cerca de 50 milhões de dólares). Também atrapalhou muito o filme as comparações com o premiado livro de Donna Tartt, que conta em 728 páginas a história do jovem Theo Decker após perder a mãe em um atentado terrorista. Ao tentar abraçar tudo que a história tem a oferecer o diretor John Crowley (do ótimo Brooklyn/2015) se perde no emaranhado de acontecimentos com uma edição que desperdiça o bom material que tem em mãos. Sabe aquele filme que teria quatro horas de duração e precisou ser remontado? É mais ou menos isso. No entanto, o filme pode manter o interesse do espectador que não se importa de gastar duas horas e meia diante de uma trama que nunca concretiza seu momento arrebatador. Seria fácil se comover com a história do pequeno Theo (o bom Oakes Fegley) que se torna órfão de mãe e vai morar na casa de uma família amiga enquanto não descobre o paradeiro de seu pai (Luke Wilson). Ele estreita os laços com a família da Senhora Barbour (Nicole Kidman que tem um bom início na trama e depois vira um enfeite) para depois sua vida se tornar bastante imprevisível com a chegada do pai (e da namorada vivida por Sarah Paulson). Este período só aumenta a importância do amigo ucraniano Boris (Finn Wolfhard) e de Hobie (Jeffrey Wright) que se tornará uma espécie de mentor em sua vida. No entanto, a coisa começa a desandar quando vemos Theo adulto (vivido pelo esforçado Ansel Elgort) e o filme passa a ir e voltar no tempo. Este exercício serve mais para quebrar o ritmo do que para criar uma narrativa envolvente. Entre perdas, reencontros, a iniciação ao uso de drogas e bebidas alcoólicas, Theo ainda precisa lidar com um segredo relacionado à pintura que dá nome ao filme, uma belíssima pintura de Carel Fabritius que por si só já tem uma história interessante. Com tantos assuntos para tratar e tantos personagens para desenvolver, o filme segue por alguns caminhos que não funcionam chegando a um desfecho mais apressado e confuso do que excitante. Embora cinematograficamente o filme não seja um desastre completo, ele também não alcança todas as suas ambições (que não são poucas). Apesar do elenco esforçado, o filme deixa a sensação que em suas duas horas e meia muita coisa foi desperdiçada no caminho. Talvez no futuro o livro O Pintassilgo renda uma boa minissérie que lhe permita desenvolver todas as suas camadas com precisão, já que como filme, se torna apenas um passatempo.
O Pintassilgo (The Goldfinch / EUA - 2019) de John Crowley com Ansel Elgort, Oakes Fegley, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Luke Wilson, Finn Wolfhard, Sarah Paulson e Aneurin Barnard. ☻☻☻
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