Pascale e Martin: platonismo bilateral.
O primeiro filme do canadense Denis Villeneuve já chama atenção pelo seu título inusitado. 32 de agosto na Terra é uma romance que segue por caminhos tão estranhos quanto o título promete, aliás, sua trama segue pelos dias 33 de agosto, 34, 35... até que uma acontecimento drástico faz finalmente o mês de setembro chegar. Parece até a brincadeira que nós brasileiros costumamos dizer sobre o mês de agosto durar mais do que seus trinta e um dias prometem (a ausência de feriados é algo que colabora muito para isso), mas em se tratando de um filme canadense esta leitura parece mera coincidência. A ideia é mostrar como a vida da protagonista está meio fora do eixo, especialmente se levarmos em consideração que logo no início ela sofre um acidente e após caminhar pelas redondezas acaba se deparando com o próprio carro como se estivesse andando em círculos. Esta ideia de que o tempo estacionou já foi usado em outros filmes, mas nunca de forma tão sutil quanto aqui. Enquanto tenta retomar seu rumo, Simone (Pascale Bussières) acaba recorrendo a uma amigo, Phillipe (Alexia Martin) para lhe ajudar a encontrar um sentido para a vida: ter um filho. No entanto, Simone não quer um romance ou casamento, ela quer apenas um bebê que possa preencher o vazio com que se deparou após sofrer o tal acidente. Surpreso com a proposta, Phillipe não digere muito bem a ideia, nem tanto pelo fato de ter que fazer o herdeiro, mas pela forma pouco afetuosa como a proposta lhe é feita. Phillipe é apaixonado por Simone e por mais que ele tente esconder, a plateia percebe logo. A partir deste ponto, o roteiro insere o casal em situações um tanto surreais em que discutem o relacionamento existente entre aquele homem e aquela mulher. Portanto, se torna um tanto simbólico que os dois sejam os únicos presentes na imensidão do deserto e hesitem fazer sexo, ou quando após uma longa jornada se deparam com um quarto futurista e o sexo continua pertencendo somente ao mundo das ideias. Entre o ideal e o real, o projeto e o realizado, 32 de agosto na Terra se desenvolve de maneira cômica e até simpática, mas sem perder suas conotações cerebrais sobre as relações humanas. O resultado é bem diferente do que poderia ser apenas mais uma comédia romântica, ainda que o desfecho revele que a platonice não era unilateral naquela história. Visto hoje após tantos trabalhos mais exuberantes do cineasta canadense (que acaba de ter seu ambicioso Duna adiado para 2021), 32 de Agosto se torna uma obra curiosa em que procuramos perceber signos de seu cinema em fase quase embrionária (a estética, o gosto por protagonistas femininas, o desfecho revelador...) e não mais do que isso.
32 de Agosto na Terra (Un 32 août sur terre / Canadá - 1998) de Denis Villeneuve com Pascale Bussières, Alexis Martin, Paule Baillargeon, Emmanuel Bilodeau, R. Craig Costin e Richard S. Hamilton. ☻☻
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