Se a pandemia afetou Hollywood, imagina o cinema brasileiro. Veja o que aconteceu com Três Verões de Sandra Kogut, o filme precisou estrear em cinemas drive-ins por norma contratual, mas sabia que o dinheiro viria mesmo era do streaming (em que foi lançado pouco mais de dez dias depois). Lançado a nacionalmente pelo TelecinePlay, o filme parte de uma história envolvendo corrupção, no entanto, ao invés de explorar aquela pessoa que vemos todo dia nos telejornais mudando apenas de nome, o filme se concentra nos empregados dela. Assim, a centralidade da trama está em Madá (Regina Casé), a animada caseira de uma casa em Angra dos Reis que vê a rotina da família para qual trabalha ser alterada por uma visita da polícia. Madá vê seu nome metido em esquemas de corrupção e preocupada com que acontecerá dali para frente não sabe o que fazer. Neste período de crise, ela acaba se aproximando de Seu Lira (Rogério Fróes) que acaba ficando aos seus cuidados quando o chefe Edgar (Otávio Müller) e familiares tem... problemas para resolver. A cineasta Sandra Kogut tem como ponto mais interessante de seu filme voltar a câmera para os personagens que gravitam em torno da elite envolvida em esquemas de corrupção. Se existe uma rotina de festas no início, nos quais os empregados ficam nos bastidores, depois a casa de torna vazia e um território a ser desfrutado por estes personagens. Regina Casé vive mais uma empregada em sua carreira e, embora a memória ainda guarde com carinho sua performance em Que Horas Ela Volta? (2015) ela constrói uma personagem diferente, acompanhada por um elenco de apoio carismático que nunca recebe muito destaque e neste ponto o roteiro é um problema. Embora tenha a boa intenção de acompanhar um grupo de personagens que atua por trás de uma família endinheirada, tenho a impressão que o texto não faz muita ideia de como construí-los. A própria Madá, passa mais tempo ouvindo Seu Lira e preocupada com uma filmagem (que acaba revelando um pouco mais de sua história) do que propriamente se desenvolvendo ao longo da trama. O fato do filme ter uma conjunto de situações soltas como se houvesse um câmera escondida também não ajuda a perceber o desenvolvimento da trama. Três Verões parece ser uma ideia de curta-metragem que foi anabolizada para criar um longa-metragem – talvez se fosse um verão fosse mais envolvente. Além disso, investe em uma leveza que drena bastante a dramaticidade e apresenta seus personagens não muito distante da caricatura. Se a ideia era ter um olhar diferente sobre aquele universo o resultado ficou pelo meio do caminho.
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